Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
VOLTAR

INSPIRAÇÃO

INSPIRAÇÃO
Marga Maia
fev. 1 - 4 min de leitura
010

Ela sonhava em ser uma escritora desde os tempos de criança, quando ganhou do seu pai uma pasta preta contendo uma caixa de madeira, de lápis de cor. Tinha cheiro de escola.

Será que o seu pai, que estudou até a terceira série, estava projetando nela o futuro que ele não teve? Ela não pensava nisso naquela época. Só agora com a xícara de chá esquentando suas mãos, naquela noite fria, suas memórias sondaram um tempo. Da janela, o céu escuro e a lua tão amarela quanto o ouro!

Suspirando, ela descansou a xícara ao lado da mesa, abriu o computador, respirou fundo e sorriu. Sobre o que vou escrever hoje? Ela não tinha a mínima ideia, mas estava tão disposta a se tornar uma escritora que só pensava em escrever, escrever e escrever. E se eu escrever sem destino por toda a minha vida, quem irá ler?

Presumo que o leitor anseia por um destino, um fim, uma catarse, um final.

Quem gostaria de iniciar uma jornada, e se perder no caminho, ou devanear, ou se encontrar em um lugar nunca antes imaginado? Todos buscam um chão, um apoio, uma certeza. Era preciso ter norte, caminho, intenção, e a única que lhe vinha à mente era o nada, o vazio. O vazio, o nada.

Será possível escrever no vazio? Olhou a folha em branco esperando vir dali alguma inspiração e de repente ouviu uma voz. Ela decidiu naquele momento que não iria perder tempo perguntando de quem era a voz, nem decretar seu delírio.

Tomou aquilo como um presente.

Fechou os olhos por um momento e começou a digitar. Suas unhas estavam maiores do que o ideal para os dedos correrem fluentemente. Amanhã mesmo vou cortá-las, agora não vou parar. E colocou a primeira palavra depois de respirar um pouco.

Para quem eu escreveria?

Quem nesse momento estaria aguardando algo interessante que irá sair daqui?

O som da noite é cheio de encantos e mistérios e lá fora, o barulho de um carro atravessando a rua, esbarrou na inspiração de uma moça na calçada, esperando para passar para o outro lado. Não era sobre o carro, a rua ou a moça que ela iria escrever e sim sobre o céu. Ela sempre tivera encantamento pelo céu.

Seria piegas falar de lua, de céu?

Que leitor teria interesse pelo céu?

E de novo o carro, e desta vez a lembrança do irmão que morreu num acidente aos 28 anos. Será o céu uma fuga? A travessia dos carros lembrava a saída de casa aos 23 anos e a sensação de que está sempre saindo. Se lembrou do sonho que insiste desde que saiu da pacata cidade o interior para a capital.

Mesmo que a vida continuasse a fluir, o que ela mais ansiava era chegar no lugar que pudesse dizer: daqui eu olho para o mundo. Daqui eu participo do mundo e encontrei o centro, em que não preciso mais procurar.

Procurar não vem com boa sensação. A procura tem sempre um certo ‘q’ de deslocamento. Chegar é melhor. Estar é a melhor de todas. Se eu procuro é porque ainda não tenho.

Naquele momento ele parou e percebeu que havia encontrado a palavra para começar a escrever. E no momento em que seus dedos tocaram o teclado, desligou o computador e foi dormir.

Amanhã será um novo e lindo dia!

 


Denunciar publicação
    010

    Indicados para você


    Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica

    Verifique as políticas de Privacidade e Termos de uso

    A Squid é uma empresa LWSA.
    Todos os direitos reservados.