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Josephine Baker - 14 filhos adotivos

Josephine Baker - 14 filhos adotivos
Vicente Duarte
nov. 28 - 4 min de leitura
010

Fui procurar este texto porque me recordava muitíssimo bem desta mulher que, nos anos em que se decidiu a fazer o que fez, adotar 14 crianças e sendo negra, arrostar com o desprezo e a intolerância sociais, me fez lembrar a Olinda (https://sabersistemico.com.br/@olindaguedes) com o seu gesto "impensado" mas, particularmente generoso.

O Pasquim - 1969

É difícil voltar a "O PASQUIM" depois de tanta ausência, principalmente porque prometi e vou ficar devendo, uma entrevista com Josephine Baker.

Para quem não se lembra ou não era nascido, Josephine foi a bacana lá da Martinica, a tal que se vestia de banana nanica. Profetizou a minissaia, valorizou a pele mulata, espalhou o charleston, despertou paixões e escandalizou os puros. Pouco a pouco foi trocando o escândalo pela caridade pública, as bananas pelo vestido longo. Hoje, com 63 anos, volta ao palco porque não tem outros meios e precisa sustentar 14 filhos adotivos. Acompanhei-a, junto ao bravíssimo violinista brasileiro Toquinho, em seus 45 dias de turnê pela Itália. 45 vezes esperei a oportunidade de lhe falar d'O PASQUIM, do Sérgio Cabral que reclama e da leitora que me chama de relapso. Mas Josephine só dá entrevistas coletivas, sempre muito simpática, sempre muito profissional, sempre mãe adotiva de 14 crianças de todas as raças.

Evidentemente não a impressionei, nem como repórter amador, muito menos como menino desamparado. Num desses coquetéis à imprensa cheguei até a posar ao lado dela para as fotografias. No dia seguinte comprei todos os jornais, mas não apareceu o retrato de Josephine Baker, somente um pedaço de minha bochecha . Sem fotos e sem entrevista, resta-me a lembrança de 45 espetáculos assistidos vagamente dos bastidores.

Josephine entra em cena pedindo desculpas, pois na sua idade não há pernas que aguentem um charleston. Mas... ela dança um charleston. Hélas, mes amis, já não tenho pernas para a minissaia. Aí ela senta lá de um jeito que o público aplaude com entusiasmo os 63 anos sem varizes ou celulite. Segue uma bossa-nova francesa que não é boa, não. Boa é a sua interpretação de "La vie en rose". Fala de Edith Piaf com muito carinho, muda para um pot-pourri de boogie-woogies, desce à plateia e vai conversar com a primeira fila. Geralmente, perco essa parte do show porque tem sempre alguém que me procura no camarim. Chego lá, não paga dez, é brasileiro "Eu estava aqui passando e vi o seu nome..."

Brasileiro está sempre passeando em qualquer fim-de-mundo. Feitas as confraternizações, pergunto como vão as coisa no Brasil e o brasileiro diz que vão mal, apesar da classificação nas eliminatórias para o México. No resto, diz ele que as coisas vão muito mal porque a televisão é aquela mesma coisa, os programas não mudam, só tem um, agora, em que as pessoas ficam provocando até que Rio e São Paulo começam a brigar. "Fora isso, Juca, muitas saudades de você, daquela sua música. A  minha filha, sempre pergunta onde é que anda o Juca, e há o meu filho, que todo mundo acha que é a sua cara. "Antes de se despedir, o brasileiro ainda me chama de Juca umas cinco vezes e diz que é meu muito admirador. Voltando ao show, encontro tudo mudado, a luz roxa, a música solene e Josephine, que dedica uma mensagem de paz à humanidade. Canta "Quand je pense a ça", e o "ça" que ela pensa, são os pobres órfãos, as guerras, os pre-conceitos raciais, etc.

Quando pensa nisso, dá-lhe uma espécie de tonteira e ela cai no chão com as mãos no rosto, a cortina sobe e desce, o público aplaude e só então, ela esquece os pobres órfãos, as guerras e os preconceitos raciais. Levanta-se e manda todo mundo sorrir ao amor, sorrir à vida, sorrir ao próximo, "sourrir toujours sourrir", encerrando o espetáculo com aquilo que o Ciro Monteiro costuma chamar de hipotenusa final.


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