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LEALDADES E EMARANHAMENTOS

LEALDADES E EMARANHAMENTOS
Roseli Judith da Silva
nov. 30 - 7 min de leitura
010

Você gostaria de voltar a ser criança? Já ouviu falar em abusos cometidos a elas?

Já digeriu todos os sentimentos e experiências da sua infância? O que representa ser criança nos vínculos de amor interrompido de um sistema? 

Pois bem, quando se vive um emaranhamento, ou seja, quando se revive inconscientemente uma situação mal resolvida da existência de algum familiar nascido anterior a nós, passamos por situações muito complexas.

Não compreendemos sentimentos que assolam a nossa alma, como a tristeza, a ansiedade, a angústia, entre outras, que se fazem presente e, por lealdade, assumimos esse sentimento como sendo nosso.

Na infância a criança pode apresentar muitos sentimentos que não condizem com a realidade dela. Pode estar vivendo um emaranhamento e se tornar uma criança triste, chorosa, insatisfeita, com medo excessivo, revoltas, doenças, etc.

Todo sentimento que não condiz com a realidade vivida conscientemente é um emaranhamento. Origina-se de memórias que podem ser da própria existência (memória pessoal) mas pode ser de gerações anteriores (memória trans geracional).

Tais sentimentos precisam ser tratados através de uma intervenção sistêmica, ou seja, uma interferência neste banco de memórias, trazendo luz para a situação apresentada, curando esse vínculo de amor que por algum motivo foi interrompido.

Para curar um vínculo de amor interrompido é necessário devolver para a pessoa o contato com a figura que teve o vínculo perdido. Por exemplo, na minha infância eu era muito chorosa, me sentia solitária, tinha uma emoção descabida quando escutava o Hino Nacional, chorava ao ver pessoas reunidas por um ideal, falava muito dos jovens mortos no período da ditadura militar e sobre viver na guerra.

Aos 03 anos de idade eu passei por um grande trauma, a morte do meu padrinho de batismo. Não havia nada de tão dramático para que eu nutrisse tais sentimentos ao ponto de ser chamada de viúva pelos meus irmãos, fazendo menção a minha madrinha que nunca se conformou com a viuvez. Então eu era criança, dizia que já tinha nascido com 30 anos, era chamada de viúva e resmungava muito.

Não penso em voltar a ser criança...

De onde surgiram tantos sentimentos conflitantes? Não sei, mas algumas histórias de meus antepassados foram muito tristes. 

A minha avó paterna, vó Benta, morreu muito jovem. Ela morreu no resguardo, tinha um bebê recém nascido, meu pai com menos de 02 anos, minha tia ainda era menina e os enteados, pois meu avô Avelino já era viúvo quando eles casaram.

Pensávamos que os meus avô tivessem 04 filhos mas descobrimos que foram 08, sendo que 04 morreram criança. Então me avô perdeu 02 esposas e 04 filhos. Minha avó Benta em seu leito de morte, pediu para o meu avô Avelino dar o bebê aos padrinhos, porque seria muito difícil criar o meu pai, minha tia e ainda o bebê. Ele acatou o pedido da minha avó. Esse bebê faleceu com 05 anos de idade, aproximadamente.

Quando meu pai tinha uns 15 anos, estava junto na roça com meu avô, que subitamente teve um mal estar e foi deitar. Nunca mais acordou. Pude sentir o desespero do meu pai. Ah, neste período, meu avô contou com a ajuda da minha estimada tia Maria Romana, a tia mana.

Ela foi uma mãe espiritual pro meu pai. 

Sobre essa tia, acredito que ela faleceu quando meu pai tinha uns 18 anos, porque nesse período ele já namorava a minha mãe. Minha mãe não teve convivência com a tia Mana mas lembra que ela queria lhe falar algo que não foi compreendido, acho que devido a um AVC. O irmão mais velho do meu pai, meu tio Francisco, antecipou o casamento e levou meu pai para morar com ele. 

Do lado materno a história não foi muito diferente. A minha bisavó Christina faleceu quando a minha vó Maria tinha 09 anos. Ela era a filha mais velha e estava com o irmão caçula no colo (ainda bebê), o tio Máximo. A vó Maria contava que ela rezava e dizia que era mentira que a mãe dela tinha morrido e assim que chegasse em casa, iria beijar os pés dela.

Não é de chorar?

Num instante a minha avó, que morava com os pais e os irmãos, se viu sem a mãe e os irmãos divididos em outras casas, pois meu o avô não conseguiu ficar com os filhos. Não sei o motivo da morte da minha bisavó Christina, mas novamente, crianças foram impedidas de usufruir do amor materno. Eu julgava esse meu bisavô, Euflorsino, por não ter ficado com os filhos. Pensa na minha ignorância.

Como pude pensar que teria esse direito?

Um fato curioso me ocorreu este ano. Fiquei pensando, meus tios se visitavam, eles tinham sentimento de irmandade, minha mãe amava o meu biso Euflorsino e a sua segunda esposa, a bisa Bernarda. Então compreendi que o meu biso foi muito amoroso e manteve a família unida, ainda que em lares separados.

Enquanto escrevo, acolho todos eles com muito carinho no meu coração.

Falando em minha mãe, ela era apaixonada pelo pai dela, meu avô João, e ele gostava muito do meu pai Onildo (Nini). Meu avô levava as filhas no baile, minha mãe amava dançar. Ela e meu pai nunca saíam para dançar. Esse era um grande desgosto dela, mas ele foi um bom marido. Ainda assim, é importante os filhos verem seus pais saírem para se divertir.

Ensina a viver com alegria e com leveza. 

Meu bisavô materno, pai do meu avô João, o biso Frederico, morreu quando foi apagar um incêndio na roça. Ele inalou muita fumaça e queimou o pulmão. Sobre a esposa dele, a minha bisavó Firmínia, pouco sei dizer, pois o meu avô já era falecido quando eu nasci e nunca me falaram sobre a bisa.

Relato essa história para demonstrar os vínculos de amor interrompido em meu sistema familiar, meus emaranhamentos. Claro que eu era chorona mesmo... mas eu me identificava com a dor do meu pai por sua mãe ter morrido tão jovem. Eu sentia muita tristeza e sempre dizia que iria morrer cedo e precisava deixar o meu filho pronto pro mundo pra ele não sofrer na mão de ninguém. 

Existem algumas lembranças que não consigo falar, mas continuarei firme nesse propósito de cura desses vínculos.

As vezes me pergunto, será que quando agi egoisticamente, foi por uma lealdade? Sinto muito, me perdoe.

Eu vejo você, eu amo você, me perdoe.

Ah, escrevi demais... e tentei resumir muito, mas são tantas histórias. Eu me sinto honrada de pertencer a essa família, respeitar o meu lugar e o lugar de todos, honrar a vida que recebi e passar a vida adiante. 

Um beijo no coração de todos!

Roseli


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