Quando poderíamos imaginar que a luta pela vida se tornaria uma questão ideológica tão contundente? Luta ou desprezo pela vida? Se formos um pouco mais a fundo no contexto psicológico, vamos compreender que o ser humano tem a famosa pulsão de morte que é: "a pulsão em direção à morte e à autodestruição". Segundo Freud, ambas as pulsões (de vida ou Eros e de morte ou Tânatos) sempre andam juntas.
O que explicaria a discórdia causada pelo uso ou não da máscara.
Mas, não é o caso de irmos tão longe. Porque no final, é a vida que vence, já que a morte é apenas uma ilusão. Tudo bem, muitos de nós ainda tememos essa ilusão e a compreensão de nossa realidade espiritual ainda nos é muito vaga.
Mas, não é exatamente sobre isso que iremos tratar, pois estamos vivendo na prática a parte menos profunda da psicologia ou da espiritualidade. Estamos convivendo com essa ilusão, que tem nos parecido bem real. Segundo as estatísticas, em breve se poderá dizer que cada habitante do planeta tem conhecimento da morte de, pelo menos, uma pessoa próxima.
A questão aqui é o fato de Tânatos ou pulsão de morte estar levando um grande número de pessoas a negar a realidade. Uns nunca seguiram os protocolos, e desses muitos já partiram, outros nunca acreditaram no vírus, e um tanto também já se foi, outros estão abandonando os cuidados, ou porque já se cansaram ou porque, como Polianas, acreditam que o perigo maior já passou, e sem esquecer daqueles que, apesar de todos os cuidados, também já partiram. A própria ciranda do abre e fecha do comércio, escolas e demais serviços pelo mundo mostra isso.
Mas, a grande questão é que, em geral no Brasil, a cultura política é a de deixar nas mãos de nossos representantes as grandes decisões, passando-lhes a batuta por meio do voto, e deixando o resto por conta de Deus. Mas, logo agora, diante do quadro inegável da fúria natural de um vírus, resolvemos lutar por nossa liberdade de expressão, recusando-nos a seguir protocolos básicos, que ainda que muito chatos (eu admito), vão garantir-nos a vida e os prazeres de Eros.
O que isso fala sobre nós? Como podemos negligenciar a única vida que temos em favor de um processo de morte triste e difícil? Até onde a humanidade será capaz de ir por conta de sua natureza inconsciente e instintiva? E o que fazer diante de um quadro tão tenebroso e, ao mesmo tempo, tão corriqueiro?
Eu, pessoalmente, acredito (e isso pode não ser a sua opinião) que temos hora certa, ou quem sabe mais de uma, para morrer. E que esse desencarne coletivo tem um significado bem maior do que seremos capazes de avaliar. Mas, para levarmos a cabo uma discussão com essa profundidade, seria preciso ter consciência de nossa essência espiritual e nosso verdadeiro papel nessa dimensão. De novo, não é o caso.
Precisamos no momento, compreender o que isso significa para o nosso contexto bem menor diante do Universo, e tentar salvar nossa pele, nosso país e nosso autorrespeito. E estou falando de nós aqui, no Brasil, porque não poderia falar de outros, já que seria mera especulação, embora acredite que não seja tão diferente, já que pulsão de morte é algo do instinto e independente de nacionalidade ou cultura.
Sem dúvida, estamos dentro de um contexto por demais profundo e de difícil compreensão. Grupos sociais divididos lutando por aquilo que julgam ser seus direitos individuais e inalienáveis e, completamente, opostos?!
Usando de suas ideologias (im)próprias ou emprestadas para gritar seus direitos de expressão para não usar uma máscara e um frasquinho de álcool como defesa de sua própria vida (essa medíocre e vazia) que será necessária para que possa continuar brigando por seu direito de ir e vir? Quem pode entender um "troço" desses? Eu não.
E acho que essa, nem Freud iria querer explicar.