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MINHA HISTÓRIA FAMILIAR

MINHA HISTÓRIA FAMILIAR
Cleuza Matsue Guiotoku Antonello
fev. 22 - 5 min de leitura
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Sei pouco da história dos meus pais, apenas o que eles comentavam e que consigo me lembrar. Tivemos pouco contato com parentes. Como morávamos em outro estado, essas visitas eram realmente esporádicas. Das vagas lembranças é que faço esse relato.

Meu pai era filho de imigrantes japoneses, o quinto de uma família de seis filhos. Com treze anos de idade perdeu o pai por motivo de doença. Acredito que por isso a presença da mãe foi mais marcante na vida de todos os filhos. Era o filho que fazia o serviço pesado. Teve pouco estudo, somente o primário, incompleto.

Minha mãe era a caçula de quatro irmãos. Meu avô era japonês e minha avó já era nascida aqui. Casaram-se arranjados pelos pais, o que também era um costume da época. Ela contava que foi conhecê-lo no dia do casamento.

Minha avó materna sofria calada, não me lembro de tê-la visto reclamar. Era uma mulher sofrida, depois que meu avô faleceu ela veio morar conosco.

Minha mãe estudou até o segundo grau profissionalizante da época, e um fato que nunca esqueço, que ela nos contava, é que estudou em São Paulo, num colégio público bastante conhecido. Minhas vagas lembranças era que como caçula, ela teve alguns privilégios, como esse de estudar fora. Era seu sonho, fazer uma faculdade, uma vez até tentou psicologia. Era professora, e lecionou muitos anos.

Meu pai, aos vinte e dois anos, contrariando toda a família, casou-se com uma moça brasileira. O que por si só foi extremamente polêmico e motivo de “desgraça” por assim dizer, para uma família de descendência oriental daquela época. Ficou casado por pouco tempo, teve uma grande decepção, e acabou retornando à casa dos pais.

Quando conheceu minha mãe, ela estudava e ele trabalhava. Meu avô paterno foi contra, como era de se esperar. Tiveram cinco filhos nascidos e dois não nascidos. Meu pai sempre desejou que os filhos fossem filhos homens, valorizando e perpetuando aquilo que lhe foi passado. Por ironia do destino, somos em quatro mulheres e um homem.

A cada gestação era desejado e esperado um filho homem. Então, eu e minhas irmãs crescemos com a fala de que filha mulher dá trabalho, dá muito gasto, queria que fossem todos homens, etc.

Não nos deixava ficar em casa com a mãe, tínhamos que ficar com ele, ajudando no comércio, uma loja, desde pequenos. Infância foi algo que nem me lembro se tive. Meu pai era muito bravo, cresci com muito medo dele. Minhas duas irmãs mais velhas apanharam muito, então eu, para não apanhar, procurava não dar nenhum motivo.

O relacionamento conjugal deles sempre foi conflituoso, muitas discussões, era a mãe no meio, os filhos de um lado e o marido do outro. Meu pai, quando chegava em casa e nos via na cama, ou no quarto, conversando com a mãe, era o caos, ele ficava muito bravo, brigava com ela, discutia, tinha ciúmes dela conosco, com os filhos.

Dizia que ela não dava atenção para ele, etc. Nos sentíamos à vontade quando ele não estava. Aí podíamos conversar, rir, contar as coisas, sem medo.

Ele era severo e rígido, intransigente, e ela ficava no meio. Por inúmeras vezes nos revoltávamos com ela por não ficar do nosso lado, por não nos defender, pois como filhos, queríamos ela, a mãe, do nosso lado, nos defendendo a todo custo.

Sempre foi tudo muito difícil em casa, tudo com sacrifício, sofrimento. Falta de prosperidade, embora sempre trabalhássemos, nunca havia folga de dinheiro, nada era com facilidade, leveza. 

Quando já éramos todos adultos, meu pai decidiu nos contar sobre seu passado. Ele tinha sido casado quando muito jovem e que desse relacionamento nasceu um filho, que ele só veio a saber muitos anos depois.

Hoje me dou conta que toda minha história de vida teve razões para ser como foi. Com as aulas, com esse módulo, as leituras, consigo compreender claramente. Os porquês já não são sem resposta, tudo está lá, sempre esteve.

A não inclusão desse irmão, o casamento do meu pai antes de se envolver com a minha mãe, a criança interior de meu pai se sentindo rejeitado e clamando por atenção da mãe, a sensação de medo que sempre tive do pai, a falta de diálogo em casa, os segredos do passado, a sensação de angústia e desolação, a ausência de paz...

Antes da felicidade, a lealdade, antes da felicidade, os pais. Assim, encontro-me nessa caminhada, buscando curar-me, curar meu corpo de dor, minha criança interior.

Sem mágoa, ou ressentimentos, hoje eu compreendo, vejo e sou grata pela vida que me foi dada.


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