Acho que pelo fato de eu ser filha única, sempre senti um peso nas costas no sentido de dar orgulho aos meus pais. Hoje, esse peso recebe o nome de "lealdade".
Minha família é machista, especialmente a paterna. Cresci ouvindo que eu tinha que me dar o valor e ao mesmo tempo deveria ser independente. Ou seja, eu deveria trabalhar e preservar o meu corpo perante os homens, afinal, este era meu templo.
O problema é que nenhum homem se mostrava digno o bastante.
Demorei anos para trabalhar a minha independência emocional e ressignificar as minhas relações amorosas. Atualmente, eu penso em mim e na minha felicidade. Mas, uma de minhas grandes provas de amor diz respeito a minha profissão. Eu nunca quis ser advogada. Entrei no curso por pressão de meu pai e soube depois que meu avô materno tinha o sonho de ser advogado e morreria de orgulho de mim.
O fato de deixar as gerações anteriores orgulhosas fez com que eu aguentasse até o final do curso. Pertencimento ainda gritava.
Fez sete anos que eu me formei e eu exerço a profissão, mas não da forma como meu pai esperava. O sonho dele era ver a filha sendo uma advogada tributarista ou concursada, ao passo que a minha paixão é direito de família e meu sonho é advogar só pro bono.
Há uns 3 ou 4 anos conversei sério com meu pai sobre quem eu sou e em quem eu gostaria de me transformar. Isso proporcionou um equilíbrio entre a minha vontade e a minha lealdade, pois me senti amada e aceita do jeitinho que sou.
Na verdade, não importa o que façamos, parece que nunca seremos merecedores de tamanho amor. Salvo quando estamos felizes com nós mesmos.
O segredo é justamente esse: ser feliz.