Essa canção se chama Relógio e me remete ao meu primeiro ano de vida. Tenho lembranças de assistir minha mãe emocionada, com lágrimas nos olhos, enquanto lavava roupas no tanque e ouvia o radinho de pilhas.
Eu não entendia porque, mas sempre chorei junto com ela ao ouvir essa canção e até hoje choro, agora com mais controle, antes não podia nem ouvir. Meu coração se aperta e fico com nó na garganta.
Agora que sei que o autor fez essa canção num quarto de hospital, onde ouviu do médico que cuidava de sua companheira que ela não amanheceria viva no dia seguinte devido a um câncer incurável, fico pensando no como essas palavras e acordes nos levavam, eu e minha mãe, para as memórias transgeracionais de dor, de perdas, de luto, do nosso sistema.
A chuva cairá - Infância, adolescência melancólicas, como se vivesse em outros tempos, com sentimentos que não eram meus.
Sukiyaki Kyu Sakamoto legendado.
Amores platônicos aos 10, 12 anos. Muita tristeza e solidão. Não eram minhas, mas eu não sabia.
Agora eu sei.
Detalhes, Roberto Carlos. Não tenho muito a dizer. Durante muitos anos fiquei sem poder escutar essa música. A ferida sangrava. A dor era insuportável. A letra diz o que essa canção representa na minha vida. O primeiro amor, o primeiro namorado, primeiro casamento. Frustração, desespero, sofrimento, resiliência e renascimento. Relacionamento fundamental para meu aprendizado do que fazer e, principalmente, do que não fazer mais comigo, com os meus sentimentos.
Fera ferida.
Lições não aprendidas se repetem, até que as aprendemos. É isso.
Sapato Velho.
A música que acompanhou uma jornada por uma das noites escuras da minha alma junto com a anterior.
Sonhos de um palhaço.
A canção de um tempo tão distante que parece que nem fui eu quem o viveu.
Bridge Over Troubled Water.
Essa canção me leva aos tempos em que minha vida eram águas turbulentas e não haviam pontes, tanto entre os meus da família de origem, nos relacionamentos disfuncionais do meu sistema e nos meus próprios. Fui criando essas pontes e conseguindo enfrentar as travessias. Estou ainda nessa missão.
Nos Bailes da vida.
Renova minhas energias. Me leva aos tempos de esperança e de garra para obter o que eu pensava ser o mais importante na minha juventude: A formação de psicóloga. Quando ouço hoje sinto novamente vontade, força, vitalidade. Me sinto viva. Sinto que vale a pena. Tudo vale a pena.
Coração de Estudante.
Essa foi a canção que eu e meus colegas de curso cantamos na nossa formatura. Ao receber aquele canudo simbólico do meu diploma, da minha tão sonhada e primeira grande conquista, eu, a primeira da família da minha mãe a fazer um curso universitário e a segunda da família do meu pai a ser psicóloga, homenageava sem ter noção disso, os meus avós, todos os meus antepassados, dizendo a eles:
Agora em mim todos podem, todos conseguem e todos serão realizados.
É isso que sinto quando ouço essa canção.
Só nos resta viver.
O amadurecimento, a metanóia, a Escola Real, Mestra Olinda Guedes e o aprendizado. O caminho da cura.
Quando olho minha vida hoje:
Non, Je Ne Regrette Rien (Não, não lamento nada).
Essa é especial. Foi na cruz, foi na cruz. Esse hino da harpa cristã, minha avó materna, a grande senhora Theodora Varsam, cantava no coral da igreja Assembleia de Deus do Rudge Ramos, São Bernardo do Campo/SP, mesmo sem saber ler e escrever, o que só conseguiu com o MOBRAL aos 70 anos; aprendeu de ouvido e cantava divinamente, envolvida pelo Poder do Espírito Santo o que sempre me emocionando demais.
Hoje sei, que quando minha vovó cantava, ela me conduzia epigeneticamente aos tempos em que os que vieram antes dela viveram, eles todos que me marcaram no sangue e em cada partícula de célula e que me constituem.
Por isso, ouvir esse hino em quaisquer circunstâncias, levanta meu ser e me faz lembrar da força dela e de todos os meus bravos guerreiros resilientes que estão em mim e me fazem o que sou.
Uma vida não pode ser resumida em canções, poemas, mas bem que eles nos ajudam a contar nossa história sem precisar verbalizar muito.
Diz a Mestra amada Olinda e eu vivencio isso: "Tudo o que toca nosso coração, constela, cura, completa".
#constelarcommusica