Após essa aula e a leitura do livro Besame Mucho, consigo ver quanto de minhas ações e reações são frutos de vínculo de amor interrompido, lealdades.
Sei por relato da mamãe que quando nasci, através de cesariana, ela sofreu muito, teve hemorragia, quase morreu. Na verdade, lembro dela contando que por um momento viu seu corpo como se estivesse fora dele, sentiu que havia partido e que já não sentia mais dor. Essas são as lembranças do meu nascimento, muita dor e sofrimento para minha mãe.
Depois de 4 anos veio meu irmão, e novamente outra cesariana sofrida. Somos em 5 filhos, dois não nascidos, e a matriz que todos nós herdamos foi de partos difíceis, sofrimento, dor, muita dor. Cresci com medo (vários), um deles é medo de ter filhos, sempre tive medo da dor, dor do parto, do sofrimento.
Não tive filhos, a maternidade não aconteceu para mim. Sempre ficará esse vazio, de não passar a vida adiante, de que na vida faltou algo, algo está incompleto.
Meus pais, talvez pela educação que tiveram, não eram pais carinhosos. Cresci com muitas cobranças, imposições, e peso por ser mulher, pois meu pai gostaria que todos os filhos fossem homens. A questão de gênero em algumas etnias tem um peso grande.
O que mais faltou a mim e a meus irmãos foi afeto, carinho e diálogo.
Cresci com um medo absurdo do papai, nunca consegui conversar com ele, tinha medo pois vi minhas duas irmãs mais velhas apanharem muito. Tinha medo de apanhar também. E as surras eram por fazer arte, arte de criança, tipo comer uma fruta do pé, cortar o galho de uma árvore, derrubar alguma coisa e quebrar, etc. Meu pai exigia que tivéssemos atitudes de adulto, mas éramos apenas crianças. Minha mãe, passiva, não nos defendia, talvez sofresse por dentro, mas não fazia nada.
Hoje não guardo mágoas, meus pais não estão mais aqui. Compreendo que eles fizeram o que pensaram ser o correto, ensinando aos filhos desde muito cedo o valor do trabalho, da responsabilidade. Talvez reproduzissem aquilo que aprenderam. Como iriam dar afeto se nunca tiveram? Ninguém dá aquilo que não tem.
Através da minha estória de vida consigo claramente compreender os três princípios sistêmicos.
Depois de ler o livro indicado, Besame Mucho, mudei alguns conceitos que tinha, resultado de uma formação acadêmica mecanicista onde o foco de atenção é a doença e não o indivíduo. Relato isso no fichamento do livro.