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APREENSÃO E PRESSENTIMENTO

APREENSÃO E PRESSENTIMENTO
Márcia Regina Valderamos
jan. 14 - 6 min de leitura
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Assistindo a essa aula me recordei de um terror que eu tinha quando o meu tio materno, único irmão homem da minha mãe, penúltimo filho da minha avó, vinha e dormia em casa. 

Morávamos em uma casa pequena, de um só quarto para meus pais, eu e meu irmão. A cozinha era bem pequena e o único banheiro ficava do lado de fora e tinha que passar pela cozinha para ir lá. 

Quando esse tio dormia em casa, minha mãe colocava um cobertor de retalhos feito por ela, tirado de um de nós, pois tínhamos pouco para todos se agasalharem, e meu tio deitava sobre ele, no chão de vermelhão, muito próximo da porta da cozinha, única passagem para ir ao banheiro.

Lembro de ficar com tanto medo de passar por ele que segurava para ir ao banheiro e só ia quando era manhã, após ele levantar. Isso demorava pois ele acordava tarde, depois que meu pai saía para trabalhar.

Sinto novamente o tremor que sentia por dentro nesses momentos, como está escrito que a árvore da Aspen treme. Além do medo, eu sentia muita raiva e revolta, sem ter fundamento concreto para as duas coisas, pelo menos que eu me lembre.

Eu achava que era porque eu tinha ciúmes de como quando minha mãe falava com ele, colocava mais comida para ele e lhe dava mais até, apesar de tudo ser restrito em casa ela enchia o prato.

Só tínhamos arroz e feijão com casca de batata frita na maior parte das vezes e a gente não podia, mas ele repetia o prato! Eu queria mais, adorava feijão e casca de batata e não podia. Sempre achei que eram ciúmes de minha parte por ela preferir a ele e não a mim.

Me sentia má, uma menina sangue ruim, como minha mãe falava me batendo por causa de como eu reagia com esse tio.

Quando eu já era adolescente, tive várias crises de descontrole total, parecia louca, gritava sem parar, fechada no banheiro, para ele ir embora. Me arranhava até tirar sangue, quebrava coisas, chorava sem conseguir parar, xingava, ficava fora de mim. Eu continuava achando, até assistir essa aula, que era por ciúmes, por revolta do tio comer, beber e dormir sem preocupação e minha mãe não lhe xingar e sim a mim,  dando mais atenção a ele quando eu reclamava.

Assim me parecia.

Aos 9 anos eu já trabalhava fazendo bicos e aos 12 consegui, além dos bicos de faxina, emprego fixo num mercado. Tinha orgulho de trabalhar todos os dias, sem descanso. Acordar às 5 horas da manhã, ir para o mercado, carregar muito peso e dormir tarde devido aos horários de trabalho.

Muitas vezes perdi o ônibus do ginásio porque o professor demorava a soltar a gente da sala e vínhamos até em casa, andando a noite a pé, eu e mais dois colegas meninos e duas meninas, por, mais ou menos, 3 ou 4 horas de caminhada.

Muitas vezes fui trabalhar direto, sem comer e sem dormir por esse motivo. Só jantava de madrugada, depois de chegar da escola, se desse tempo.

Eu vivia satisfeita e trazia o que ganhava para a minha mãe, sem ficar com nada para mim e mesmo assim ela brigava muito comigo e defendia o irmão que nunca tinha emprego fixo. Aparecia do nada, quando menos podíamos ter mais uma boca e ficava.

Sempre achei que era essa a história. Que esses eram os motivos da minha mágoa e ressentimento. Acontece que esse tio teve dois filhos homens e duas filhas mulheres e, com os filhos homens (das meninas nada sei) fez coisas horríveis, inclusive estuprou os dois.

Um dia apareceu com um dos meus primos, seu filho, com uns 3 anos na época, todo pintado de mercúrio cromo na portaria da empresa onde eu e meu irmão trabalhávamos, para pedir dinheiro porque senão faria um escândalo porque o menino havia sido atropelado.

Ele estava bêbado.

Já adulto, esse meu primo contou a uma tia nossa, uma das irmãs mais velhas da minha mãe, os estupros que ele e o irmão sofreram desse genitor. Na família todos ficaram sabendo e ninguém fez nada!

Estudando tudo isso agora, fico pensando se não era essa a razão do meu terror por sua presença desde pequena. Será que eu não previa, não tinha a intuição de que isso acontecia ou aconteceria?

Eu cheguei a ter muito carinho e admiração por ele quando bem neném. Ele era um homem bonito, lia gibis que eu gostava e era engraçado. De repente passei a ter essa ojeriza dele.

Depois de adulta, fazendo análise, cheguei a pensar até que sofri abuso ou estupro por parte dele. Mas, se sofri não lembro, mesmo tendo trabalhado tanto isso em terapias convencionais.

Choro muito enquanto escrevo.

Em uma das vivências de Renascimento tive uma visão de um homem colocando minha mão pequenina na sua genitália, senti a região gelada e tive muito medo, terror e grande asco, mas não sei se era ele. Não vi o rosto. O trabalho para incluí-lo tem sido penoso.

Hoje, com essa aula sobre o medo Aspen, tudo fez muito sentido para mim. Acho que tive um pressentimento sobre o homem que ele era ou viria a ser, ainda não descarto ter sido abusada de alguma forma por ele. Escrever sobre ele me dá coceira no corpo! É uma tortura.

Estou sentindo dores fortes no corpo e muita ânsia, meus maxilares travam. Sempre tive bruxismo e estou apertando muito os dentes. É horrível, preciso constelar esse tema.

 


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