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CARTA AOS ANTEPASSADOS

CARTA AOS ANTEPASSADOS
Sandra Regina Dias Amorim
jan. 21 - 15 min de leitura
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Para mim é muito gratificante e ao mesmo tempo libertador falar de vocês, meus antepassados.

Uma parte da história de vocês tataravós paternos, é desconhecida por nós. Nunca soubemos bem de suas histórias mas sabemos que dois de vocês eram italianos. Também sei que uma das minhas tataravós, a Fabiana Maria de Jesus, foi escrava.

Eu os vejo, e reconheço sua lutas. Tantas discriminações recebidas, um amor a prova de fogo. Eu te incluo em nosso sistema familiar, tata Fabiana, e agradeço por suas lutas. Tenho muito lugar aos meus ancestrais negros em meu coração. Compreendo suas dores e aceito que tenha sido assim. Suas forças de sobrevivência gritam em meu peito.

Trago em mim o gosto pela música e pela dança. As histórias dessa parte dos meus ancestrais sempre me comoveram, meu senso de justiça e liberdade já honrava vocês há tempos.

Gratidão pela vida que veio através de vocês. Através do meu bisavó Domingos Dias Chaves, o filho de vocês.

Minha gratidão também aos tataravós Lucas Antônio da Silva e Maria Rosa de Lima, pais da bisa Martha de Jesus. Mesmo sabendo pouco, eu os vejo, imagino e sinto a força de suas vidas em minha.

Por onde viveram e sejam qual forem as suas historias, eu os trago aqui comigo, sou parte de vocês e os honro com minha vida, com meu sucesso e felicidade.

Meus tataravós por parte da minha mãe, vocês eram índios, a bisa contava que você tataravó, foi pega no laço para trabalhar numa fazenda.

Consigo sentir esse momento, o cheiro da terra, seu corpo indígena, sua aldeia, seu povo. Deixados pra trás, para uma nova vida, forçada. Foram muitos sofrimentos. Sim, eu aceito tudo o que você viveu tataravó, reconheço sua dor, seu sofrimento longe do seu povo, a saudade dos seus costumes, comida, dança e crenças. Vejo você e sou grata por tudo que você viveu.

Dos outros tataravós, avós do vô Joãozinho, nada sei, mas agradeço por suas contribuições ao sistema e por atravessarem por tantas coisas de seu tempo. Gratidão, muita gratidão.

Queridos bisavós, com gratidão me refiro a vocês... Sobre a bisavó, mãe do meu avô João Pedro Floriano, sei apenas a história de que meu avô ficou órfão de mãe aos 10 anos. Gratidão bisa, sinto muito por sua dor e suas lutas. Você deu muito a todos nós.

Bisavô, você se casou novamente, e meu avô tinha muito medo da madrasta. Não sei dos motivos, mas sinto muito que tenha siso assim. Agora já passou. O medo e a dor da orfandade já podem se aquietar. Nossas mamães estão conosco agora. Sinto muito por sua dor.

Minha bisavó por parte da avó materna foi guerreira, teve três filhos. Um deles se chamava Miguel e o outro Messias, minha vó falava deles. Uma vida simples de muito sofrimento. Gratidão por suas contribuições.

A bisa era parteira e fazia medicamentos de garrafa, era rezadeira também. Dela eu sei o nome Maria Ribeiro, "Sá Maria". Era boa pois as histórias eram de que ela socorria a todos que precisavam. Gratidão bisavó Maria Ribeiro de Araújo, por tudo que você foi. Eu te trago dentro de mim, pois amo ajudar as pessoas. Do biso Randolfo Ribeiro de Araújo sei que era bom e sua filha tinha boas lembranças suas, gratidão querido bisavô.

Minha bisavó paterna, Regina Strazzer, sei que era italiana e chegou aqui em 1888, junto com meu biso e com dois filhos, Rachéle, com três anos e Félice, com um aninho, num navio. Uma viagem foi longa, difícil e cheia de sonhos de uma vida melhor. Eu posso sentir esse povo no navio, imagino a casa de vocês, meus tios avós brincado nessa nova terra.

Quanta saudade da pátria mãe, dos costumes e das tradições. Chegaram primeiro em São Paulo, mas a vida foi dura. Você bisa, faleceu quase dois anos depois e seu filho Félice também, com 3 anos. Restaram o meu biso Valentino Strazzer, uma menina de quase 5 anos e uma bebezinha, a vovó Mariquinha, que nasceu aqui.

Gratidão pela vida que me veio através de vocês. Gratidão por ter nos dado tanto, a própria vida. Gratidão!

Sei que você, bisavô Valentino, retornou a Itália com as duas meninas e muita tristeza na alma. Você vovô, decidiu retornar ao Brasil cinco anos mais tarde, com as duas filhas novamente. Gratidão por sua decisão!

Se casou aqui e teve mais filhos um deles se chamava José e era um irmão muito querido da minha avó Mariquinha. Muito grata por tudo. Com vocês vieram a nossa cultura de falar alto e demais. Também de vocês herdamos a alegria da comilança, das danças, da música e das reuniões familiares em volta da mesa.

Por vocês ainda comemos macarrão todo domingo, e cozinhamos muito e adoramos falar bastante em volta da mesa. Eu os honro com minha vida e sim, sim eu aceito que tenha sido assim.

Aceito suas decisões, e reconheço que fizeram o melhor que podiam. Gratidão. Vou honrá-los com uma vida livre e feliz.

Aos meus queridos avós... Minha avó materna, Geralda Maria de Araújo, neta de índios, baixinha, cabelos lisos, adorava raízes como batata doce e mandioca e também era uma amante das poções medicinais.

Brava como pimenta, mas justa e prestativa, destemida como uma guerreira. Eu te sinto latente em mim.

Quanta saudade de você vovó amada!

Gratidão pela vida que me veio através de você. Mulher valente que se casou aos dezenove anos e teve seis filhos, mas eu sei vó que não foi possível viver com o vovô por causa do seu alcoolismo.

Aceito a sua decisão e respeito suas escolhas de deixar os meus tios José, Terezinha e Raimundo com seus padrinhos e de vir a Brasópolis somente com a Tia Dita e a mamãe, que eram as mais velhas e podiam trabalhar pra te ajudar.

Fez o que precisava ser feito e aceito a sua decisão. Te honro com uma casa linda com um jardim florido e uma imagem de N. Sra. De Fátima na parede, como você desejava ter feito na sua casa. Mateus da Vanilda está um rapaz lindo e a Vanilda se casou muito bem, como era seu desejo. Gratidão vovó.

Vovô João Pedro Floriano, eu te vejo e reconheço a sua dor. Você se casou aos dezesseis anos, era órfão de mãe e seu pai se casou novamente, você tinha pânico da sua madrasta e as histórias são de que vocês não se davam bem.

Eu vejo a sua luta, sua dor pra ser um homem bom.

Artesão, cabeleireiro, lavrador, marceneiro e outras qualidades mais. Entendo, que a bebida aliviava a sua dor e que o senhor não tinha controle sobre isso. Sim. Sim, eu aceito que tenha sido assim, reconheço seu valor e suas lutas pela sobriedade.

Eu sinto muito por tantas dores que você viveu e te agradeço. Eu vejo e sinto seus medos, sua ansiedade, sua insegurança, sua dor de orfandade. Obrigado por ter carregado tanto por nós. Receba a minha reverência.

Eu te peço querido vovô que me permita te devolver esses sintomas, é pesado demais para mim carregá-los. Com gratidão eu os devolvo a você e aos meus ancestrais, pois aqui sou pequena e vocês são grandes e fortes. Me permita caminhar com mais segurança e sem ansiedade, pois agora eu tenho meus pais comigo e a orfandade já passou.

Vovô, eu sinto muito porque o tio Zé e o tio Raimundo não suportaram a dor de serem deixados para trás e também se tornaram alcoólatras. O tio Zé superou o alcoolismo, mas ainda carrega em seu corpo uma ferida em lealdade.

A dor do tio Raimundo foi tanta que ele se casou e depois também abandonou sua família, repetindo em lealdade ao sistema. Por causa do alcoolismo ele virou um mendigo e morreu na rua. Gratidão querido tio e obrigado por amar tanto, eu vejo você e sou muito grata.

Vovô, eu sei que você fez tudo o que podia, obrigado porque você aceitou ficar longe, e permitiu que minha avó e seus filhos tivessem uma vida melhor, quanta generosidade da sua parte. Mesmo sentindo tanto medo de ficar sozinho, por causa das crises de pânico, você ficou, pois sabia que todos estavam sofrendo muito ao seu lado.

Sou muito grata porque anos mais tarde você escolheu morrer ao nosso lado, nos permitindo cuidar de você e mostrando a nós o seu amor fiel.

A vó Geralda te amava muito e nunca falava mal de você. Aprendemos a te admirar, como um homem bom, trabalhador e habilidoso. O vício que por seus motivos você vivenciou, foram a causa de tanto sofrimento.

Hoje eu te peço querido vovô, você que foi tão forte, nos abençoe para que meus filhos e todas as próximas gerações não carreguem mais esse fardo, essa lealdade. Eu deixo com vocês meus antepassados este peso do alcoolismo, do vício, do abandono necessário, e sou muito grata, porque vocês trabalharam tanto por nós, deram tudo o que podiam, a própria vida.

Muito, muito obrigada.

Não somos mais órfãos e a vida agora é boa. Somos felizes e em nós vocês podem ser feliz também. Gratidão por tanto amor. Querido vovô obrigado pela família que constituintes, através dela estou aqui, eu te honro com filhos amados, um neto barbeiro como você, também sou artesã, somos honrados como você foi e devotos de N. Senhora Aparecida.

Nós vencemos vovô, podemos ser feliz agora. Gratidão vovô Joãozinho.

A minha querida avó paterna, Maria Strazzer, voltou ao Brasil sem saber porque precisava vir. Eu sinto a sua dor. Gratidão vó, pelo seu sacrifício, por ser a vó Mariquinha, tão querida, valente e forte. Por ter dado luz  à seis filhos, ter construído um patrimônio que existe até hoje na família junto ao vô Benedito Firmo Dias, que eu conheço como um bom negociante, bom pai.

Gratidão a vocês por suas escolhas, decisões e eu os honro com uma vida próspera e feliz.

Estou cuidando muito bem do seu filho caçula, Luiz, que é meu pai. Sou imensamente grata por tanto amor e cuidado conosco vó. Por suportar tanto e por nos dar tanto.

Aos meus queridos pais...

Querido pai Luiz Strazzer Dias, a alegria em pessoa, o melhor pai. Eu te vejo meu herói e sinto toda a sua vida, você sempre foi cabeça fresca, é jovial e isso trouxe grandes consequências em nossa vida.

Você se casou com a minha mãe Maria, tiveram seis filhos. Uma, a quem demos o nome de "Rosinha", pois foi enterrada nos pés de uma roseira no hospital com três meses de gestação. O Alexandre que morreu com dois meses de vida, de pneumonia. Você fez o que pôde para que ele fosse curado papai, mas tudo foi como tinha que ser. Eu incluo vocês, Rosinha e Alexandre, dou um lugar pra vocês no meu coração.

Aceito que tenha sido assim e que vocês tenham partido pra casa de Deus tão cedo. Gratidão.

Eu vejo você, querido pai, e sinto muito por tudo ter sido como foi. Mas o seu destino é a sua força. Aceito suas decisões. Não te julgo por nada, sim, sim. Você é grande e eu sou pequena, sou apenas a sua filhinha.

Sinto muito se não te achava suficiente pra minha mãe, por julgar suas atitudes e porque fiquei por muitas vezes no meio do matrimônio de vocês. Hoje eu sei, você foi o homem certo pra minha mãe e ela a mulher certa pra você.

Sei que os problemas foram muitos, e que as decisões pertenciam a você e a mamãe e vocês fizerem o melhor que podiam.

Sou grata, pela vida, pelo cuidado, por tanto amor. Sim, eu aceito a vida como foi, sim, tudo como foi, do jeito que foi, foi preciso ser assim... Peço a sua bênção para que eu possa ser mais confiante e segura na vida, para que eu possa ser próspera, a força das suas mãos será a minha força na vida. Gratidão pela vida que recebi de você. Eu te amo e te respeito meu pai.

Minha querida Mãezinha Maria, por muito tempo eu vivi só pra você, sempre quis te recompensar por tanto sofrimento, até vivenciando suas dores em mim.

Reconheço a suas lutas e sofrimentos, por todos nós.  Seus medos, desconfiança na vida, solidão, doenças físicas e emocionais. Tudo isso é muito pesado e você querida mamãe foi muito forte. Em lealdade as mulheres do nosso sistema você carregou tantas dores e deu conta.

Peço por favor, que me olhe com carinho, pois eu preciso fazer um pouco diferente de você. Preciso devolver as mulheres do nosso sistema todas essas dores, e seguir só com o que me pertence. Eu estava carregando isso até hoje, por amor e fidelidade a vocês.

Mas agora eu vejo o quanto isso é pesado. Vejo o quanto eu sou pequena e vocês tão grandes, nos olhem com amor e recebam esse fardo de volta, vou honrá-las com uma vida próspera e feliz, fazendo algo bom com a vida que chegou até mim, através de vocês.

Me abençoe mamãe, para que eu tenha uma vida mais saudável e feliz. Sei que você, fez tudo o que podia, eu reconheço seu valor, você me ensinou até na hora da sua morte, e partiu segurando a minha mão. Você deixou saudades em meu coração, obrigada por seus ensinamentos que levarei pra sempre comigo.

Hoje eu sei mãe, tenho te visto cada vez mais, tenho aprendido a te admirar a cada dia mais, agora eu sei mãe... antes eu não via, eu sinto muito. Gratidão por tanto, minha guerreira.

Mamãe, me abençoe para que minha vida seja alegre, boa, confiante,  abundante, com saúde física e emocional e fé no que virá. Gratidão pela herança de fé que nos deixou, tudo valeu mamãe. Eu escolho ser feliz e próspera agora, e te honro com isso.

Gratidão pela vida que recebi de você. Eu te amo mãezinha querida.

 


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