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MEUS PAIS, EU E A VIDA

MEUS PAIS, EU E A VIDA
Sandra Regina Dias Amorim
jan. 22 - 7 min de leitura
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Meu querido pai Luiz Strazzer, nasceu em Brasópolis/MG, filho caçula de um casamento conflituoso, porém estável. Seus cinco irmão mais velhos o bajulavam bastante, porém na adolescência o seu comportamento impetuoso e imaturo os irritou bastante.

Perdeu o seu pai aos dezenove anos, um homem de poucas palavras, severo e religioso. Sua mãe de origem italiana, era brava porém carinhosa. Ela ficou viúva na companhia dos filhos por mais 10 anos, até que se foi devido a bronquite. Meu querido papai se tornou, então, órfão de seus pais. Nessa época já estava casado com a mamãe.

Como esposo, foi um homem trabalhador, porém estava sempre a procura de dinheiro, pois assim como o seu pai, adorava jogo e farra... e seu dinheiro esvaía-se facilmente. Certamente por esse motivo ele perdeu uma padaria em dívidas e não conseguiu construir muita coisa. Porém, como era trabalhador, conseguiu ao lado da mamãe recursos para obterem dois imóveis simples.

O papai foi carinhoso e presente, porém não gostava de ser importunado, logo era a mamãe que resolvia os problemas. Manteve-se fiel a mamãe por toda a vida e viveram juntos durante 60 anos.

Minha querida mãezinha, também nascida em Brasópolis, veio da roça para a cidade, junto com a vovó e os seus irmãos, fugindo do vovô que era alcoólatra e ameaçava matar as crianças. Acredito que ele sofria de síndrome do pânico. Dizia que as crianças é que queriam mata-lo. Preocupada, a vovó juntou a caçula de 1 ano, a primogênita de 14 anos e a mamãe de 13 anos, e deixaram a roça rumo à cidade.

Deve ter sido bem difícil pra todos, pois a vovó deixou pra trás, aos cuidados dos padrinhos, mais três filhos. Um de 12 anos, um de 10 anos e outra de 7 anos. Quanto sofrimento e dor sentiram essas crianças. Eu vejo vocês e sinto as suas dores! Sinto muito que tenha sido assim!

A mãe se empregou em casa de família pra ajudar a vó. Um tempo depois buscaram os demais filhos para viverem juntos.

Minha mamãe era muito trabalhadora, destemida e corajosa, muito impetuosa e inteligente. Ajudava a todos mas era tagarela e explosiva. Gostava "das coisas em pratos limpos", essa era a sua fala preferida. Outra era: "Comigo ninguém tira farinha não!"

Na adolescência gostava de bailes e de amizades e namorou o papai durante dez anos, se casou aos 25 anos.

Era dedicada ao lar e aos filhos. Sempre foi muito doente e trágica. Acreditamos que ela ocupou bem a postura de mãe narcisista. Seu relacionamento conosco era possessivo e castrador.

No casamento, se declarava sempre insatisfeita e cheia de queixas. Tinha certa razão porque o papai não se importava com as situações problemáticas. Porém, mesmo quando as situações eram favoráveis, suas queixas eram inevitáveis.

Foram 60 anos de um casamento turbulento, dedicado, com uma medida de felicidade extremada e estranha. Acredito que ela não se permitia ser mais feliz do que a avó foi. Por isso arrumava tanta confusão.

E meu pai se identificava com o vô nos seus vícios, e seu casamento tornou-se turbulento como o de seus pais. Essas lealdades familiares...

Não se largavam, se preocupavam um com o outro, mas brigavam constantemente.

Agora eu sei que eram a medida certa um para o outro. Ele cuidou dela até ela partir, e o sofrimento dele sem ela parte o meu coração.

Eu nasci em meio a essa turbulência, sou a caçula de 6 filhos, sendo quatro vivos. A minha gravidez foi de risco por conta do parto anterior ter sido complicado devido a eclampsia.

Fui gerada no medo e na insegurança. Talvez já identificada com o medo que minha mãe trazia dentro dela, medo da vida incerta, que eles teriam longe do vô, quando precisaram fugir...

Nasci, e aos três meses adoeci de pneumonia e quase morri. Fiquei internada durante longos meses, acredito que carregando a dor da mamãe que tinha perdido o seu terceiro filho, com dois meses de vida, por pneumonia. Sofri por quase um ano, me firmei, vivi.

Sempre me identifiquei com a mãe, fiz várias cirurgias, sofri de fibromialgia, problemas sérios de coluna e carreguei muita raiva e descontentamento pela vida. Tinha o mesmo temperamento bravo e arredio. Namorei o meu esposo por dez anos e me casei cheia de amor e de brigas.

Sempre gostei de estudar, principalmente a mente humana e os processos de autoconhecimento. Acredito firmemente que isso me salvou de ter o mesmo destino deles. Tão logo identifiquei que podia fazer diferente, que podia melhorar a mim mesma e também a minha relação, imediatamente o fiz.

Me lembro que o primeiro passo foi entender que eu não podia mudar os meus pais e o seu relacionamento e que eu precisava me afastar deles o suficiente para viver a minha vida distante das suas influências. Me mudei da casa deles e comecei uma nova história... Em suma, salvei o meu casamento. Já são 27 anos de casada, e ao pelo menos 20 anos deles em paz.

Quando olho pra história me dou conta dos emaranhamentos, e depois de estudar as leis sistêmicas me dei conta de que por muito tempo me achei melhor que a mãe. Ocupei o lugar dela, e disputei o amor do pai com ela acreditando que eu o entendia mais e sabia lidar melhor com ele...

Sei que também disputava o amor dela com ele. Fiquei entre eles por toda a vida, mesmo desejando viver a minha vida eu vivia o matrimônio deles. E me colocando grande entre eles eu estava pequena para a minha vida e por isso vivi tantos problemas físicos e de conflitos. Eu estava fora do meu lugar.

Os julguei por muito tempo. Por causa das brigas, não achava que eram certos um para o outro. Quanta prepotência minha. Percebo que sem me dar conta, também não achava o meu marido suficiente, me sentia sempre superior a ele, eu mandava, eu falava. Estava repetindo o padrão da minha vó e da minha mãe sendo leal a elas.

Quando a mãe faleceu eu senti um grande vazio. Ao mesmo tempo, por poder voltar pro meu lugar de filha, eu senti um grande peso sair de mim. Parece que ao ocupar o meu lugar, todas as fichas caíram de uma só vez.

Por incrível que pareça, até os meus irmãos que davam trabalho para me ajudar com ela, passaram a me ajudar com o pai. Então notei que eu estava sendo mãe dos meus pais e que durante todo esse tempo cuidei deles como meus filhos... só minha responsabilidade. Como a lei da ordem é essencial!

Poderia ter evitado tantas dores e desgastes, adoeci tanto por repetir o padrão das mulheres da família sem necessidade.

Agora eu sei. As coisas mudaram desde então e as fichas não param de cair. A vida está ficando cada vez mais leve.

Gratidão!


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