Depressão, inversão da ordem, de vazio. É uma fome infinita de cuidado e proteção. Via de regra quando um dos pais está excluído. Quando um dos pais não tem lugar. A depressão é sempre um sentimento de vazio. (Hellinger, 2002)
A dinâmica sistêmica da depressão faz todo sentido quando penso nos pesadelos que eu sempre tinha quando estava prestes a me mudar, mesmo que fosse na mesma cidade. Desde a universidade, quantos caminhos eu precisei tomar, e sempre em uma posição de ter que sair, deixar aquele lugar. Talvez seja aí minha alegria, minha identificação com o conto dos três porquinhos na infância.
Uma criança para seu bom desenvolvimento necessita passar pelas fases de maneira segura. (Guedes, 2019)
A história dos Três Porquinhos trata principalmente da questão “princípio de prazer versus princípio de realidade”. Ele ensina às crianças que elas não devem ser preguiçosas e fazer as coisas de qualquer maneira, pois isso pode levá-las a perecer. As casas dos três porquinhos e suas ações simbolizam o progresso do homem na história (palha, madeira e tijolos) e, psicanaliticamente, o progresso da personalidade dominada pelo id (princípio de prazer) para a personalidade influenciada pelo superego (mas essencialmente controlada pelo ego). O primeiro porquinho faz sua casa rapidamente porque quer mais tempo para brincar, quer prazer imediato (id, princípio de prazer).
O segundo constrói uma casa mais elaborada, mas também de forma imprudente, porque não consegue dominar completamente o princípio de prazer. Somente o terceiro porquinho, já suficientemente maduro e regido pelo princípio de realidade, sabe adiar o momento de satisfação e despende um tempo maior para a construção de uma casa mais resistente e que lhe salvará a vida. Assim o olhar psicanalítico.
Contudo, penso que algo além do aparente percorria todos esses anos, a sensação de ser “abandonada”. De ouvir (inconsciente) “sai não tem mais o que fazer aqui, corra, encontre um lugar mais seguro” me toca muito. Como se o lobo mau pudesse agir.
Em meus pesadelos sempre via muita escassez, toda a mobília indo embora com águas turvas, e eu precisando sempre recomeçar, uma verdadeira guerra. Como os três porquinhos a vida é feita de fases, e com toda certeza essas fases foram também norteadas por memórias de meus antepassados. Meu bisavô paterno chegou ao Brasil muito criança, seu desejo era de brincar, ser protegido, olhado, cuidado. Infelizmente a vida foi muito rígida com ele, precisou crescer, ser um adulto criança, “construir” (internamente) um lugar seguro para que pudesse sobreviver.
Para uma criança é o amor e, de fato, no sentido de: “Eu quero permanecer a vocês de qualquer maneira, não importa o que me custe, mesmo que me custe a vida”. (Hellinger, 2002)
Mudava constantemente, até que um dia depois que tudo aparentemente ao seu entorno estava seguro, a vida adulta realmente havia chego (cronologicamente) em uma de suas viagens ele foi e nunca mais voltou. Minha avó, sua filha passou a vida toda procurando por seu pai, por uma casa segura, onde o lobo mau não pudesse chegar. Este estado de guerra até pouco tempo fez parte de minha vida, quem completou isso foi meu pai, no eu vejo você.
Logo que me mudei para minha cidade atual, ele me disse que agora eu estava em casa, ordem e amor se completam.
Estou na jornada do amor, na jornada da cura, e nela me alimentando de eu posso, eu mereço, eu não preciso ter medo do lobo mau, eu não estou só. Aquele bisavô foi incluído, ele tem sua morada, e uma morada segura. Aquela vovó encontrou o colo de seu papai, e assim não preciso mais me sentir só, vazia, sem um canto para chamar de seu. O lobo mau (a guerra) já passou, no eu vejo você de meu papai tudo se completou.
Dizer sim para o destino, sim eu aceito, sim eu vejo, sim eu estou aqui.
Gratidão.