As constelações sistêmicas com doentes podem revelar conexões transgeracionais entre as doenças e os acontecimentos traumáticos nos antepassados.
Podemos começar esse texto dizendo que se há um sintoma, há uma mensagem, uma memória sistêmica que pede por mudança. O sintoma, sob o olhar sistêmico, aparece como uma parte de revelação ou materialização das ligações com tudo aquilo que está dentro de nós e que nos conecta com nossa transgeracionalidade.
Pode-se dizer que alguns sintomas ou doenças são relacionados com acontecimentos e, muitas vezes traumas, que aconteceram no sistema familiar, provocando uma perda do vínculo com a família ou uma insegurança com relação a esse vínculo.
Quando nascemos, recebemos a vida de nossos pais e imediatamente passa a existir uma conexão com o que vem do modelo deles de se olharem e olharem para a vida: esses olhares fazem conexões com suas faltas, traumas e fatos que foram sendo construídos em seus próprios sistemas.
O jeito de pensar a vida, de sentir, de atuar nos movimentos, os modelos de certo e errado, a visão do mundo e propósito, tudo isso se mistura quando os pais se encontram e, de certa maneira, ao nascer passamos a estar conectados com essa dinâmica.
Interessante perceber como muito precocemente a criança vai se conectando com a forma como os pais atuam na aceitação daquilo que os uniu, indo além do que entendemos como simplesmente amor.
Em outras palavras, quando mais os pais se olham e se respeitam como pessoas, sentindo a necessidade de proximidade mais forte do que de distanciamento, mais os filhos sentem-se livres e confiantes para poder tomar a vida que receberam dos pais de forma equilibrada dentro do sistema.
No entanto, muitas vezes a criança entra em uma dinâmica na qual se vê envolvida em algo maior e não se sente livre para tomar a vida que recebeu de seus pais. Isso acaba ganhando sua atenção e comprometendo todas as suas necessidades de preparação para a vida que virá fora de seu sistema primário: sem entender a razão, ela acaba presa nessa dinâmica familiar, criando mecanismos para conseguir a atenção de seus pais, sentindo-se assim parte do sistema.
A relação com os traumas transgeracionais acaba se sobrepondo à relação primária com os pais: quando a criança vai atrás de suporte, ela não consegue por indisponibilidade dos pais e, sem encontrar esse “suporte”, ela acaba ficando envolvida numa dinâmica mais profunda e inconsciente do sistema familiar, saindo de seu lugar de filho.
Esse emaranhamento na ordem do sistema, já que a criança fica no lugar de resolver questões para seus pais, gera desequilíbrio no receber e a conexão profunda pela necessidade de inclusão.
A constelação da doença ou do sintoma, em relação com o paciente ou com sua família, consegue trazer à luz e o amor para todo sistema familiar
Essa “dor” ou falta no sistema acaba sendo expressada no próprio corpo, gerando sintomas que persistem e podem tornar-se doenças. Muitos desses sintomas têm a ver com traumas somados à dinâmica de exclusão e que acabam gerando novos traumas que irão se sobrepondo.
Ao constelarmos a pessoa e o sintoma, podemos ir colocando o sistema de pai e mãe e não é raro percebemos o quanto as dinâmicas excluídas trazem calma para o incômodo físico vivenciado no presente.
Mas percebemos uma tendência dos médicos que fazem anamnese para entender o histórico de seus pacientes, realizarem de forma cada vez mais completa.
A compreensão não só das doenças em si, mas dos pais e de outros fatores que podem eventualmente ter motivado o desenvolvimento dos primeiros sintomas, tem feito cada vez mais parte desse olhar no todo: o que podemos herdar não só como sintoma físico, mas também os modelos emocionais e o jeito de lidar com a vida que também herdamos de nosso sistema e nos influenciam ao longo da vida.
Esses exercícios podem ser usados em diferentes formas, no trabalho individual ou nas constelações de sintomas, quando o sintoma expresso é muito difuso em relação ao que ele causa.
Quase sempre a inclusão desse elemento, desse recurso do que falta, acaba se revelando em uma dinâmica dessas, na qual um personagem ou acontecimento precisa ser olhado pela pessoa que sente o sintoma, em sua perspectiva mais infantil.
Quando a boca cala o corpo fala! Livro Dr. Adalberto Barreto
Esse livro fala sobre as reações do corpo e suas dores.
Leni do Carmo Rodrigues da Silva
MÓDULO 4