Morávamos em Belo Horizonte e passávamos as férias do final de ano normalmente três meses e do meio do ano em julho, na fazenda.
Diariamente tinha como tarefa ajudar ao vaqueiro pegar o gado, as vacas, e conduzi-las ao curral.
Fazia isso com tanta alegria, com tanta paixão.
Adorava ver o vaqueiro cantando o gado:
- Ohhh boiiii, humm...humm.
Me realizava com aquela atribuição.
Na manhã do dia seguinte, após tirar o leite das vacas, elas eram novamente conduzidas ao pasto.
E lá estava eu, ajudando a tocá-las.
Acho sim, que essa foi a minha primeira tarefa.
Claro, isso ocorria em apenas uns períodos do ano, mas que me realizavam completamente.
Voltava para casa depois de tocar o gado com um orgulho enorme, tarefa cumprida.
Aguardava ansiosa o outro dia para repetir o feito.
Meu pai era médico, sempre admirei o amor com que ele realiza as atividades profissionais.
Gostava do que fazia.
Atendia a toda comunidade carente do salto da divisa com muito carinho e profissionalismo.
Foi ele, meu pai, minha fonte inspiradora para seguir no caminho da saúde.
Cursei o curso superior de enfermagem e obstetrícia.
Por um longo tempo me dediquei apenas aos estudos ate que consegui o meu primeiro trabalho, dar aula num curso de técnico de enfermagem.
Nessa época eu ainda cursava a faculdade de enfermagem .
Estava casada e já estava gravida nesta ocasião.
As aulas eram a noite.
Preparava as aulas com carinho, procurando a melhor forma e palavras de explicar o conteúdo aos meus alunos.
O salário não era lá muito compensador, mas como experiência profissional foi perfeito.
Tive que vencer a minha timidez de falar em público e me tornei bem mais segura dentro da minha profissão.
Assim que me formei, mudamos eu, meu marido e meu filho de 10 meses, para Salto da Divisa, onde comecei a trabalhar no Hospital Senhor do Bonfim.
Trabalhei com muito afinco, dedicação e muito amor.
Organizamos o hospital que acabou se tornando nesse período uma referência de atendimento dentro da nossa região que compreendia, Santa Maria do Salto, Santo Antônio e Jacinto.
Por se tratar de uma fundação, sem fins lucrativos e de ser gerenciada por um membro da família, Tio Hanon, fiquei trabalhando voluntariamente, sem remuneração, por três anos.
Mas isso não diminuía meu entusiasmo.
A comunidade reconhecia o meu trabalho e eu tinha paixão com o que fazia.
Mudamos para Eunápolis, uma cidade no sul da Bahia, em janeiro 1989.
Fomos diversificar as atividades.
Somos pecuaristas, descendentes de pecuaristas, mas por decisão do grupo, eu e meus irmãos, que éramos sócios , decidimos diversificar.
Abrimos um supermercado. Nenhum de nós tinha experiência com comércio, mas achávamos que poderíamos conseguir.
Passei a ter ai, o meu terceiro trabalho.
Trabalhava no setor responsável por compras de mercadoria, principalmente produtos de beleza, higiene e limpeza.
Olhando um pouco para essa época posso afirmar que não amava aquilo que fazia, era um trabalho mecanicista, com pouco contato humano.
Tinha muita vergonha de descer a loja para encontrar um cliente, achava que na verdade eu o estaria pressionando.
Hoje vejo que era tudo bobagem, que eu estaria na verdade recepcionando, dando atenção ao cliente.
Não posso dizer que amava as minhas atribuições dentro da empresa, mas posso afirmar que desempenhei todas com responsabilidade e com muita vontade de acertar.
Meu quarto trabalho foi como professora de ciência e biologia primeiro e segundo grau, na Escola Centro Promocional de Eunápolis-CPE.
Foi um tempo maravilhoso.
Amava ensinar, amava me relacionar com os alunos e com as colegas de trabalho. Fui uma professora dedicada, empenhada, que estudava e sempre procurava inovar.
Adorava dar aulas práticas, fazer com que meus alunos descobrissem o mundo mágico da ciência.
O CPE era uma escola católica, que se preocupava com a formação integral do aluno.
Tinha orgulho de fazer parte da equipe da escola pois admirava a forma como os freis conduziam a educação de seus alunos.
Meus três filhos estudaram nessa escola.
Tenho muita gratidão pelos freis que estavam na direção nesse período, por terem participado da educação dos meus filhos e também por terem me presenteado com três bolsas escolares para meus filhos.
Deixei a escola para me dedicar ao meu quinto trabalho.
Nessa época 1997 , comecei a trabalhar na saúde pública do município de Eunápolis como enfermeira de unidade básica de saúde.
Retornei depois de oito anos a exercer a minha profissão.
Amo o que faço e acredito que por isso tenha tido sucesso na profissão. Fui convidada após um tempo a trabalhar na gestão, como técnica, na secretária de saúde municipal.
Permaneci na gestão por dez anos, período em que estruturamos, claro toda a equipe técnica, o sistema de saúde de nosso município.
Em 2011 optei em retornar a assistência de enfermagem e fui transferida novamente para a atuar em uma unidade básica de saúde, de um bairro carente de minha cidade.
Nós, a equipe realizamos ao longo desses anos um trabalho gratificante.
Trabalhamos muito, realizamos atividade de promoção, prevenção e tratamento de doenças.
Formávamos grupos de idosos, gestantes, crianças que se encontravam em média uma vez ao mês para troca de experiência e outras atividades.
Posso afirmar com certeza, que amo a minha profissão e que todos os trabalhos que desempenhei na vida foram importantes para o meu crescimento pessoal.
Hoje, com 63 anos, estou de licença para tratar de interesses pessoais.
Como minha história profissional foi talhada com muito amor, dedicação e trabalho, sempre tive medo de me aposentar.
Sinto entretanto, que devo buscar um novo rumo, uma nova meta de vida.
Estou aguardando a poeira assentar e as coisas ficarem mais claras.
Mas de uma coisa eu tenho certeza, sou realizada com as minhas escolhas profissionais e espero em Deus eu consiga prosseguir assim.
Agradeço também a meus pais que souberam conduzir com amor, carinho e energia a minha formação pessoal, o que me possibilitou ter segurança, dedicação e afinco com as coisas que me proponho a realizar.