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CONTOS DE FADAS - A GATA BORRALHEIRA

CONTOS DE FADAS - A GATA BORRALHEIRA
Liana Utinguassu
nov. 25 - 6 min de leitura
010

Quando eu era menina, vivi muito este conto.

Tínhamos o disco que tocava sem parar.

Minhas duas irmãs, uma com 4 anos a mais e a outra com 7 a mais, tratavam de me fazer entender que eu deveria fazer tarefas e pagar se não as fizesse com as moedas do meu cofrinho.

A mais velha era mais ardilosa. Me trancava no quarto, por horas, no escuro, ou até no porão do edifício, aonde só tinham ratos.

Contando assim, parece bem terrível, mas ao longo da minha vida fui compreendendo o que acontecia com elas e comigo...

Eu era a mais moça, a criança da casa, a mais bajulada pelo pai. A mãe estava sempre ocupada com as lidas da casa e não sabia o que acontecia nas brincadeiras. Eu também não contava. Tinha receio de ser punida, severamente.

Aos meus dez anos, quando o pai faleceu isso piorou muito!

Da noite para o dia eu percebi que estava só e que a minha família havia se perdido, como nos contos mais assombrosos... e eu ficava na mata, em uma bruma, onde ninguém viria me salvar.

Era mais ou menos assim. Eu tinha um mundo imaginário que me acolhia, bem como as fadas, os duendes, gnomos, e uma árvore linda que era a minha maior amiga.

Eu via todos estes seres encantados, assim como falava com a Mãe Divina, Pai Divino e eles me ajudavam com os anjos e santos.

Santo Antonio, São Francisco, Nossa Senhora, Deus, eram eles meus salvadores.

Minha irmã do meio me protegia mais, ou tentava, mas ela também tinha tantos problemas emocionais que eu me sentia cuidadora dela.

A primogênita eu transportava para o conto das irmãs malévolas da Gata Borralheira. Ela realmente fazia de tudo para me humilhar, me perseguia de forma trágica. Por exemplo: Ela tinha uns tais algodõezinhos de tirar maquiagem, que eram lindos, coloridos, tipo bolinhas de algodão doce. Eu a via usar e ficava pensando...

Hum, como será deixar estes algodões me tocarem?

E a minha vingança, se posso assim nomear, era esta. Um dia ela descobriu e veio para me bater e eu a empurrei forte. Eu era uma criança forte! Só não imaginei que ela se machucaria. O trinco da porta machucou as suas costas!

Eu nunca me senti tão mal! O perdão não adiantaria e a nossa mãe deu um beliscão... a mais velha me olhava como se fosse decretar a sentença mais terrível em breve!

Foi exatamente o que ocorreu. Ela me trancou no poço do edifício com os ratos. Só saí de lá quando a nossa mãe deu falta, mas ninguém contou nada, nem eu.

Toda vez que eu escutava o disco do Conto da Gata Borralheira, eu me via ali, mas que príncipe viria me salvar se o pai, meu maior amigo, protetor, havia morrido?

Minha mãe só chorava e as dificuldades aumentavam dia após dia.

Recordo da minha amiga árvore e de todos os seres encantados que vinham me salvar e levar ao mundo da Terra do Nunca, onde nenhum mal me atingiria.

Certo dia chovia muito, chuva de verão, daquelas fortes. Eu estava na sala, sozinha, a mãe no quarto e minhas irmãs não estavam por perto.

Fui para sacada quando a chuva foi acalmando, conversei com Deus e com Nossa Senhora sobre tudo o que eu sentia, sobre me sentir só e por minha relação naquela família parecer tão estranha... Então o Sol se abriu e um lindo arco-íris apareceu entre as nuvens, só que aos poucos ele deu lugar a uma forma humana, toda prateada, com um lindo ser no colo.

Acreditem, aconteceu!

Eu conto isto em um livro que escrevi e publiquei na 54ª feira do livro aqui de Porto Alegre. Eu vi a Mãe Divina aos meus 10 anos e dali para frente, tudo mudou e eu segui firme, agradecida, compreendendo o que a minha família estava passando. Claro que aconteceram outras questões e até hoje, alguns processos se dão, mas eu digo:

Sinto muito, foi demais para mim!

Eu sou a pequena Mãe, Tu és a Grande!

Digo o mesmo às minhas irmãs. Recentemente uma delas, a do meio, que me protegia, partiu devido a um câncer de mama que se alastrou! Faleceu em 7 de Outubro aos 62 anos.

Tenho 58 anos e a minha irmã mais velha segue sendo uma pessoa muito amarga e com muito medo, mas não sou responsável.

Nossa Mãe segue se punindo, segue sofrendo, mas é a Mãe mais amorosa que se pode ter! Agradeço à ela e ao Pai por eu ser quem sou e por ter crescido com consciência que nós somos responsáveis pelo olhar da vida que tomamos para nós.

Eu tomo o meu Pai e a minha Mãe com Amor. Sei que eles tiveram muitos problemas quando eram crianças mas acolho e agradeço.

Minhas irmãs igualmente ancoraram suas bases na perda, isto inclui: perda de paz, de felicidade, de amor, de vida!

Eu fui abençoada por tudo que aconteceu comigo e por nunca desistir de acreditar em Deus, porque nunca estamos sós!

Aí foi todo alicerce da minha vida espiritual, profissional, afetiva...

Eu sou a que trás alegria, consenso e paz na família, mas não quero ser a responsável por elas viverem ou não em paz. Posso ser o melhor que possa, mas sem ser co-dependente de todas as mazelas e brigas delas, do sofrer delas, das culpas delas.

Sou mãe, vó e dentro do meu propósito de vida, busco auxiliar muitas pessoas que chegam a mim ou eu à elas...

Sou Terapeuta Alquímica e acredito na capacidade que temos de transformar o que for para ser transformado, de compreender e sermos compreendidos, de amar e sermos amados, pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna!

Não me coloco nem lá, nem cá, mas sei que o sofrer é opcional, viver também é opcional e optei por viver!

Liana Utinguassu


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