Canção: Cabocla Tereza
Letra e música: Raul Torres e João Pacifico
Lá no alto da montanha
Numa casinha estranha
Toda feita de sapê
Parei numa noite à cavalo
Pra mór de dois estalos
Que ouvi lá dentro bate
Apeei com muito jeito
Ouvi um gemido perfeito
Uma voz cheia de dor:
"Vancê, Tereza, descansa
Jurei de fazer a vingança
Pra morte do meu amor"
Pela réstia da janela
Por uma luzinha amarela
De um lampião quase apagando
Vi uma cabocla no chão
E um cabra tinha na mão
Uma arma alumiando
Virei meu cavalo a galope
Risquei de espora e chicote
Sangrei a anca do tar
Desci a montanha abaixo
Galopando meu macho
O seu doutô fui chamar
Vortamo lá pra montanha
Naquela casinha estranha
Eu e mais seu doutô
Topemo o cabra assustado
Que chamou nóis prum lado
E a sua história contou"
Há tempo eu fiz um ranchinho
Pra minha cabocla morá
Pois era ali nosso ninho
Bem longe deste lugar.
No arto lá da montanha
Perto da luz do luar
Vivi um ano feliz
Sem nunca isso esperá
E muito tempo passou
Pensando em ser tão feliz
Mas a Tereza, doutor,
Felicidade não quis.
O meu sonho nesse oiá
Paguei caro meu amor
Pra mór de outro caboclo
Meu rancho ela abandonou.
Senti meu sangue fervê
Jurei a Tereza matá
O meu alazão arriei
E ela eu vô percurá.
Agora já me vinguei
É esse o fim de um amor
Esta cabocla eu matei
É a minha história, dotor.
Essa canção foi gravada pela dupla Torres e Florêncio no ano de 1944.
O que me motiva escrever sobre esta letra é a sua historia. Um enredo que nos remete a várias reflexões.
Através de seus versos, os autores contam uma historia de um assassinato carregado de vingança.
São onze estrofes que dizem, através de linguagem caipira, típico do interior paulista principalmente nas décadas de 30, 40 e 50, o desfecho trágico de uma paixão não resolvida.
No meu ponto de vista o auge se mostra no trecho:
... O meu sonho nesse oiá
Paguei caro meu amor
Pra mór de outro caboclo
Meu rancho ela abandonou.
Aqui percebemos um possível motivo da desavença do autor do crime, pois a pessoa amada o abandonou sem motivo aparente. Ao analisar esta letra, percebemos que o abandono que muitas vezes é algo aparentemente sem motivo, ou por razão desconhecida, influência de forma direta o destino de muitas famílias.
Podemos perceber que ao escrever esta canção, o compositor descreve também as leis sistêmicas:
... Há tempo eu fiz um ranchinho
Pra minha cabocla morá
Pois era ali nosso ninho
Bem longe deste lugar.
No arto lá da montanha
Perto da luz do luar
Vivi um ano feliz
Sem nunca isso espera (Lei do pertencimento - destino).
Outro trecho:
...Senti meu sangue fervê
Jurei a Tereza matá
O meu alazão arriei
E ela eu vô percurá.
Agora já me vinguei
É esse o fim de um amor
Esta cabocla eu matei
É a minha história, dotor... (Lei do pertencimento e Compensação)
É uma canção que mostra quanto somos influenciados em nossa vida e nosso destino por acontecimentos familiares. Alguém que foi embora, o abandono, os corações feridos e amores não vividos, permanecem em nossas memórias esperando um desfecho final. Quando somos surpreendidos por algo na vida, olhando pelo contexto sistêmico, percebemos que nada é por acaso, se investigarmos encontraremos nossas memórias ancestrais atuando sobre nós.
Você já escutou essa música? Já ouviu essa melodia com o coração ?
Quem sabe você possa, assim como eu, apreciar essa obra e se permitir um grande movimento em sua vida.
Nos abrirmos para nossas histórias e nossas memórias, é sem dúvida uma bela oportunidade de cura para aqueles sintomas que aparentemente não tem sentido, mas que busca sim, incluir algo do nosso passado.
Fonte: Youtube (Canal Chora Viola)
Autor: Diego Fernandes Baliero, musicista, violista, antropólogo, coach, terapeuta e constelador. Está cada vez mais em paz com seu vovô Adelino Fernandes Baliero(in memorian).