A primeira ligação mais importante da vida é de arrepiar. Pode ser numa sexta-feira pela manhã. Causa ausência de voz e contrações. É o próprio feto em movimento. Eu liguei numa sexta-feira e perguntei se persistia o interesse em adotar.
A mulher respondeu:
- É o nosso sonho.
Expliquei o caso. Disse que, na Casa Lar, havia uma menina apta para adoção. Percebi que a filha estava a nascer. Escutei as cores do primeiro choro. Desnecessárias as palavras.
- Estou no trabalho. É a melhor notícia, acrescentou a mulher.
Ao final do dia, a mensagem, no meu celular, era o cerimonial do casal, saindo do hospital, levando consigo sua mala de parto e o tesouro mais importante. A Cris, coordenadora da Casa Lar, me escreveu:
- A empatia foi tanta que não conseguimos protelar até segunda-feira que eles a levassem...
A ternura não pode ser protelada. Não se pode deixar para segunda-feira. Esta é a primazia das crianças. Esta é a soberania de ser pai e de ser mãe. O afeto é para hoje.
Na segunda-feira, o casal veio conversar comigo e trouxeram aquele pedaço de humanidade dormindo. Veio, embalada na ternura inicial, no colo do pai que a carregava com leveza. Chegou dormindo e foi embora dormindo, confiante no braço forte que a segurava. Tentou abrir os olhos, mas, quando me viu, adormeceu de novo.
A mulher contou que, na empresa, logo após a ligação, passou mal. Os colegas acudiram. Ligaram para o marido. Ambos largaram seus empregos e foram à Casa Lar: este é o patrimônio das empresas. Esta é a prioridade absoluta que busco em cada crônica.
Aquele primeiro encontro ficará para sempre guardado na memória. A primeira sexta-feira das suas vidas não será esquecida jamais. É a melhor fotografia para estampar o álbum incipiente da existência. Se a missão é cuidar, que se cuide! Este é o segredo. Não há mistérios. Se uma criança pede para ser vista, que se veja! Se pede para ser ouvida, que se ouça! E se pede um colo, que se dê um colo!
Texto de Mario Romano Maggion