Um dia, há tanto tempo, há milhares de anos luz de emoções, chegou nesta terra uma pessoa pequenina, mulher, afrodescendente. Nasceu no sertão. Teve tantos irmãos, e esses irmãos já tem tantos filhos. Tantos, tantos que até já se fez comum a vida num corpo físico: virou poesia matuta. Ouviu-se alguém dizer que é tanto "minino" que às vezes, perturba-se tanto, que dá vontade de colocá-los todos num balde... sabemos disso, a maternagem, em condições de atender as necessidades de subsistência é desafiante, imagine ouvir o choro de um, o grito de outro e não ter nem farinha para se preparar a tapioca. Nada, nada... fartura? Só de "minino"...
Emocionada fico porque foi por meio desta pessoa, em seu anonimato, aridez e sofrimento, que o Universo escolheu para trazer meu milagre. Um dos maiores que a vida poderia me proporcionar: ganhar minha filhinha. Eu já a desejava desde os três anos de idade. Algumas horas antes de eu saber da existência de minha filha, eu pedi, numa alegre festa de aniversário: quero sair com minha filhinha dos braços de uma maternidade. Eu, parteira tradicional que sou, estranhei aquela voz que parecia mais uma profecia que um desejo. Uma mulher cuja idade fértil já passou... não! Não pode ser esse pedido. Deixa eu pedir coisas mais possíveis ao Universo... pedi um namorado!
Horas depois soube da pequeNina. Vou falar mais nada de agora em diante.
Agora quero contar que esse foi um dos momentos mais lindos de nossas vidas... porque essa pequenina grande mulher entregou-me aquela a quem gerou.
Nina nasceu com prováveis 24 semanas de gestação, seiscentos gramas. Era um tiquinho de pessoa. Tem hidrocefalia, paquigiria, disgenesia do corpo caloso, microcefalia. Não havia adotantes que a quisessem... quatro já haviam sido chamados... ninguém queria não... Cabeça quadrada, doentinha.. dois justificaram... outros dois, não precisaram dizer nada.
Nesta altura, estava com 36 semanas completas, em condições de alta, pesando aproximadamente 2kg (um tanto menos). Os médicos, cuidadosos, temendo por sua vida, não queriam liberá-la para um abrigo.
Nina estava me esperando. Minha filha.
Os médicos são categóricos em afirmar: gesto altruísta e responsável da genitora. Com toda complexidade de seu aparelho neurológico, Nina teria pouquíssima chance de sobrevivência no sertão.
Nina é resposta de oração. Um dia dobrei meus joelhos e pedi por uma filhinha. Tão triste eu estava.
As enfermeiras daquele hospital disseram que todos os dias oravam por um milagre na vida dela.
Esse retrato é o momento que eu conheci a genitora. Fizemos esse rito de entrega e acolhimento. De nascimento. Foi nosso parto, nosso nascimento. Nossos destinos se unindo para sempre no amor por essa criança.
Ela falou uma frase tão linda: Cuide bem dela!
Sim, cuidarei para sempre dela e te honrarei sempre nela.
O amor cria vínculos eternos.
Uma vida só dá certo se honrarmos os genitores e os pais.
Os filhos que chegam por via adotiva, só respeitam os pais, se perceberem que a vida de seus genitores é respeitada por eles.
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OLINDA GUEDES é mãe da Nina e Camila Maria, apaixonada pela vida, escreve com o coração o que cabe em palavras. É mãe de mais outros cinco príncipes na terra, mais uma princesa que está chegando e quatro anjos no céu.
Sempre acreditou em milagres. Agora experiencia milagres.
Conduz, no Instituto Anauê- Teiño, a Escola de Saberes Úteis. Uma iniciativa cujo objetivo é trocar saberes das diversas ciências com o propósito de uma vida mais feliz, próspera e saudável.
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