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NOSSO PRIMEIRO DIA

NOSSO PRIMEIRO DIA
Neiva Maria de Mattos
dez. 22 - 10 min de leitura
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Em uma radiosa manhã, no interior do então longínquo estado de Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, na cidade de Campo Grande, numa igreja matriz dedicada a Santo Antônio, sete jovens entraram na Igreja vestidas de branco, véu e grinalda. Diante da admiração e comoção de todos os presentes, um bispo abençoou outras vestes e entregou às jovens que se retiraram para voltar em seguida, trajando o abençoado hábito preto.

Com o coração repleto de alegria, as jovens ouviram atentas aquela voz já tão familiar por tantos ensinamentos que agora dizia:

A Congregação de Jesus Adolescente nasceu de circunstâncias variadas e por necessidade de obras sociais que se impõem em prol de muitas jovens patrícias e de toda a nossa diocese. Jovens que, se não fosse a brandura de uma regra adaptada ao meio em que vivem, nem com imensas dificuldades e ingentes sacrifícios poderiam conseguir o seu ideal sagrado de, entregues a Deus, procurarem o bem do próximo.

De modo que a novel congregação deixa uma válvula benévola por onde muitas jovens piedosas e dedicadas poderão entrar na vida religiosa e produzir os frutos de virtudes que delas espera Deus Nosso Senhor.

Tem portanto, um fim vasto e abrange todas as obras sociais que não destoam da vida verdadeiramente religiosa, mas de modo especial, irá dedicar-se à educação religiosa das famílias e alfabetização das crianças em escolas paroquiais.

Por ai poderá o povo de Campo Grande avaliar a importância da obra e a grande honra que lhe cabe por ser o berço dela. Urge, portanto, a cooperação de todos os mato-grossenses, especialmente dos campo-grandenses, a fim de que seja amparada com carinho esta congregação que no dia oito se instituiu com tanto brilho e entusiasmo em nossa cidade.

Era 08 de dezembro de 1938, o bispo era Dom Vicente Bartolomeu Maria Priante, e ali estava nascendo o Instituto de Jesus Adolescente, e com ele, traçando o destino de tanta gente, inclusive o meu, que nasci 20 anos depois. Era o nosso primeiro dia de existência como Irmãs de Jesus Adolescente.

E hoje, quando ele, elas e talvez todos que testemunharam aquele momento, já vivem na eternidade da Casa do Pai, eu me pergunto: será que aquelas primeiras corajosas meninas-mulheres-consagradas, realmente compreendiam a grandeza do que estavam ouvindo? Era a voz paterna, profética do pai-fundador que as incentivava dizendo:

Tende confiança em mim, eu venci o mundo. Essas são as palavras do Divino Mestre. E nestas palavras vocês vão refletir para o seu progresso espiritual pelo qual terão muito de lutar. Vivendo mais unidas a Jesus Hóstia, pela oração, pelo recolhimento, humildade, obediência e muita confiança em Deus. De hoje em diante vocês devem cuidar com seriedade da vida interior, mas para isto devem procurar Nosso Senhor dentro de vocês mesmas.

Imaginariam elas, que hoje,  82 anos depois, alguém estaria celebrando e até ressignificando essa história, esses ensinamentos e essas práticas?  E ele, Dom Vicente Priante, que mesmo falando em um “fim vasto” e em abranger todas as obras sociais, e tendo tido a coragem de quatro anos depois, já ter expandido a obra para fora de Campo Grande, pois em 1942 já estavam as irmãzinhas, assim elas ficaram conhecidas, em Maracaju, Corumbá e no distante Goiás, imaginado tudo o que Deus realizou através de nós durante todos esses anos?

Passeando rapidamente pela nossa história, sem buscar os escritos, só do ouvir falar, ou do presenciar, surge na minha memória o sorriso da Irmã Jesuína, que estava naquele primeiro grupo, com o nome de Maria de Jesus, e que eu conheci nos anos oitenta na bela missão de “captar recursos” para que a missão pudesse seguir adiante.

Vejo ainda a ir. Demétria que como enfermeira salvou tantas vidas, e também as irmãs que trabalharam no Asilo São João Bosco e proporcionaram dignidade e consolo para os que chegaram aos últimos anos de vida terrena sem ter um lar. Lembro-me de ouvir falar em Lucialva/MT,  Maracaju/MS,  Rio Verde/MT,  Formosa/GO,  Angélica/MT,  Mirassol/SP e também dos lugares de missão que eu conheci, Campinápolis/MT, Sorriso/MT, Sidrolândia/MS, Poconé/MT, e ainda as comunidades próximas como Dois Irmãos do Buriti/MS, as quatro comunidades que estão em Campo Grande/MS, e também as mais distantes como o projeto que realizamos na Argentina e as comunidades que estamos atendendo a tanto tempo no Amazonas.

Essas lembranças de pessoas e movimentos, de trabalhos e missão, de casas e comunidades, trazem à tona registros de alegrias, da presença salvífica de Jesus na vida de cada um e principalmente de cada uma de nós. E como todos os “santos e pecadores” enquanto seres humanos que somos, há também memórias de dor e sofrimento.

Diante disso só me resta assumir o movimento de cura, do concordar. Sim Pai, foi assim, foi do jeito que tinha que ser, da forma que pode ser, e eu creio que cada um, cada uma, fez e deu o seu melhor, e graças a isso a vida e o Carisma de Dom Vicente Priante chegaram até nós, até mim. Mas não basta concordar, é preciso agradecer. Sim Pai, eu sou grata e imbuída da mais profunda gratidão, eu honro e reverencio todos os que vieram antes, de maneira muito especial as primeiras irmãs, e todas as que por aqui passaram ao longo desses 82 anos de existência de uma instituição gerada pelo amor e para o amor.

Eu sou grata pela grandeza da missão realizada, que sabemos não são por nossos méritos, mas pela Graça Divina. E não foram poucas. Cada vez que uma irmã de Jesus Adolescente assumiu uma paróquia, uma comunidade nas suas diversas nuances de apostolado, foi por amor.

Todas as vezes que uma de nós cuidou de um “velhinho(a)” lá no asilo, ou dentro da nossa comunidade, foi com amor. Nas escolas por onde passamos, os conhecimentos e os afetos que entregamos, nas crianças, adolescente e jovens que amamos ao ensinar, construímos um mundo de gratidão.

Nos atendimentos e aconselhamentos que desde aquela irmãzinha com menos escolarização, até as mais letradas, foram sempre uma marca registrada do nosso grupo. E as visitas às famílias? Tem alguém noção do número de famílias que já visitamos ao longo desses anos? Desde os casebres às residências mais abastadas, ninguém que precisou de uma palavra, de uma oração, de um abraço, ficou sem a nossa presença.

Lembro-me de uma jovem grávida que acolhemos em nossa casa e cuidamos até que o bebê nascesse e enquanto isso fomos “evangelizando” a família, principalmente o pai, que a havia expulsado de casa, para aceitá-la de volta ao convívio familiar e a alegria de todos quando tudo se resolveu em paz. Naquela noite, alguém nos disse: valeu a pena existir as Irmãs de Jesus Adolescente, mesmo que elas não tivessem feito mais nada, mas apenas para salvar essas duas vidas.

Sou grata por todos os círculos bíblicos e estudos da Palavra de Deus realizados nos diversos grupos por várias de nossas irmãs. Sou grata por cada pessoa em situação de rua, em vulnerabilidade que recebe de nossas irmãs mais que uma refeição, mas também a atenção que se faz abraço, afeto, reconhecimento da dignidade humana-divina que ali está.

Houve um tempo em que trabalhávamos com os chamados “menores de rua”, foi uma experiência incrivelmente curadora.

E quantas vidas foram salvas pela Pastoral da Criança?

E as nossas irmãs estavam lá. Sou grata por todas as pessoas que puderam vivenciar a experiência de Deus por meio dos retiros assessorados pelas nossas irmãs. Sou grata pela oportunidade de estudos, de formação, de construção de conhecimento que foi proporcionada a cada uma das nossas irmãs.

Oh Senhor, mesmo que hoje estejamos numérica e geograficamente reduzidas, eu sei que há muito mais para agradecer do que para pedir. Mas como pobres que somos, abandonamo-nos em tuas mãos, ó Pai e humildemente pedimos, dá-nos aquilo que o Senhor sabe que precisamos. Pedir o que precisa é um movimento que cura, então vou Te pedir, com as mesmas palavras do Teu Filho, “a messe é grande, mas os operários são poucos”, enviai pois, operários para a vossa messe".

É... mas nada disso fará o círculo de prosperidade completo se não houver o movimento de reparar os danos causados, o que significa um sincero arrependimento. Neste caso, eu quero dizer a Dom Vicente Priante, às irmãs que vieram antes de mim, e também às que vieram depois de mim, eu sinto muito, pelos meus pecados, porque nem sempre fui fiel, pelas minhas limitações, pelas vezes em que permiti que o humano ofuscasse a centelha divina que existe em mim.

Eu sinto muito pelas vezes que calei o que deveria falar e falei o que deveria calar. Eu sinto muito por todas as vezes que alguém, neste mundo, ficou menos feliz por minha causa.

E o único modo de reparar os danos causados é a compensação.

Nesse caso, vou fazer, como sempre diz a mestra Olinda Guedes, "não só o que é preciso, mas o que for necessário" para dispor a serviço dos irmãos e irmãs todo o conhecimento que tenho adquirido nessa minha jornada de “aprendiz de terapeuta”.

 


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