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O AMOR INOCENTE, O AMOR DE CRIANÇA

O AMOR INOCENTE, O AMOR DE CRIANÇA
Roseli Judith da Silva
dez. 2 - 6 min de leitura
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A nossa criança interior precisa de carinho, amor e mimo.

Todos nós temos uma criança interior que representa as crianças de todo o nosso sistema familiar. Essa criança interior necessita de cura para encontrar a felicidade da existência.

A maneira de curar a criança interior é tendo alegria na vida atual, nutrindo bons relacionamentos, ambiente saudável e sonhos realizados.

Existem aspectos que demonstram que essa criança interior está infeliz. É quando a pessoa apresenta sofrimentos, tem dificuldades de concentração, de segurança.

Os sintomas dos filhos demonstram o que precisa ser curado nos pais, ou seja, o comportamento harmonioso dos pais, reflete na saúde física e mental dos filhos, na auto confiança e auto estima. Pais funcionais são muito curativos aos filhos. Pais não funcionais refletem suas disfunções nos filhos.

Ainda que na presente existência os pais sejam funcionais, se a criança estiver atrelada a algum emaranhamento, a algum sofrimento relacionado as crianças do sistema familiar, ela apresentará sintomas diversos, refletindo esse emaranhamento.

Isso também deve ser observado quando se tem filhos adotivos. Crianças adotadas trazem memória dos genitores. Os pais não colocam os filhos em adoção por puro prazer. Muitas vezes são doentes, não tem recursos financeiros, nem psicológicos, além de uma infinidade de patologias e sofrimentos que nem sabemos enumerar.

Na minha família, houveram muitos casos.

Meu falecido papai sempre sentiu mágoa por não lembrar do rosto da mãe dele, além do que viu por foto. Quando ela morreu, ele não tinha 2 anos de idade. Ainda assim, cresceu entre tantos percalços, um homem bom, honesto, trabalhador.

Quando serviu ao Exército, já namorava a mamãe, que segundo ele falava “era a moça mais bonita do Sertão.” Ele não conseguia reconhecer o quanto era amado pelos filhos, aliás, filhos apaixonados por ele. Eu era a mais questionadora, ficava do lado da mãe, ainda assim, sou muito apaixonada por ele.

A minha mãe é o grande amor da minha vida. Mas a nossa relação não era nada boa porque somos muito parecidas. Pensem numa encrenca. Ela é a filha mais velha e sempre foi apaixonada pelo meu avô. Ele dizia que ela era o menino dele, tão parceira que ela era. Obediente, forte e dedicada.

Sinto que foi muito amada.

Quando meu avô faleceu ela chorou muito. Estava grávida da minha irmã Noeli. Ela conta que minha avó falou para ela parar de chorar porque o vô não gostaria de vê-la chorando assim, coincidência ou não, minha irmã nasceu com sopro no coração.

Por falar em minha avó, era uma mulher muito forte. Casou-se perto dos 30 anos, o que não era comum para a época. Ela contava que não queria se casar, mas todos se casavam, então... Era inteligente, gostava de escrever.  Viveu até os 95 anos de idade. Meu avô também era muito inteligente, aprendeu francês e alemão sozinho.

Mas, voltando a minha infância e juventude, eu me dou conta que afirmava que nasci com 30 anos, porque ser criança era perigoso. Criança lembrava dor, sofrimento, perda, morte, e tantas crianças que partiram cedo no meu sistema.

Um dia a minha mãe me viu brincando com um sobrinho e olhou muito perspicaz me disse:

Ah, agora entendi. A Roseli gosta de brincar com a criança, ela só não gosta é de cuidar.

Na verdade, como eu e minha irmã Isabel éramos mais velhas, sempre tínhamos que ajudar a cuidar das crianças das outras irmãs e do meu irmão caçula. Acredito que esse também foi um motivo. Mas afirmei inúmeras vezes não gostar muito de criança. Da dependência de uma criança, da dedicação que exige, não sei ao certo, pois pessoas dependentes sempre me causaram uma rejeição.

Outro fator é que essa dedicação exige que abdiquemos da nossa própria vida. Sempre me senti culpada pela infelicidade da minha mãe por não poder viver seus sonhos porque tinha muitos filhos. Não acreditava no amor entre o casal. E achava que eles só continuavam casados por causa dos filhos. Mais tarde percebi o quanto estava errada, o quanto o amor deles era enorme.

Se dedicaram aos filhos por amor, mesmo sentindo frustrações por algumas coisas que deixaram de realizar, nunca nos abandonaram. Faz parte das escolhas, deixar algo para trás. Entendi também que essa cegueira que vivi, fez de mim uma pessoa forte. Se eu me sentisse muito aconchegada, quentinha no meu ninho familiar, muito protegida, acabaria me acomodando e não desenvolvendo como me desenvolvi.

Eu tinha um “que” de ovelha negra, era questionadora, resmungava e, defendia minhas opiniões, algo entre revoltada e revolucionária. Isso tem um preço e eu paguei por ele. Foi doído, mas foi um caminho. Eu dizia que queria ser contadora, morar sozinha e ter um filho. Fiz tudo isso, mas a um custo alto. Ao longo desse caminho, entre lutas justas e egoísmo, errei muito, mas também acertei muito.

Depois, de ovelha negra, passei a ser exemplo de pessoa batalhadora e independente. Aprendi a enxergar o amor. Fiz trabalho voluntário confeccionando enxovais de bebê para doação. Gostava de fazer os sapatinhos de lã desejando que Deus abençoasse seus pezinhos e o caminho por onde iriam trilhar. Fazia com muito amor e propósito, amava os bebês, as crianças e tudo mais.

Então, ainda não sei ao certo porque dizia não gostar de crianças.

E o meu filho João Lucas, criança, será que era feliz? Só perguntando para ele, pois agora está com 29 anos. É um jovem maravilhoso.

Tem muito para contar também.

Sobrevivemos. Aqui estamos, renascendo, "regestando" a nossa criança interior.         

Beijos carinhosos,

Roseli


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