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O CANTO DA SEREIA

O CANTO DA SEREIA
Lilian Cláudia Guimarães Rosa
fev. 25 - 5 min de leitura
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Sobre alguns vínculos afetivos. Não é que acabaram, é que você descobriu que eles nunca existiram.

- Pe. Fábio de Melo

Reza a lenda que as sereias encantam os homens e os levam para o fundo, mais profundo do mar. Eu fui minha sereia.

Estou emergindo agora de um profundo mergulho, dentro de mim mesma. Foram alguns meses submersa em meus mais tempestuosos sentimentos. 

Vivi um relacionamento de 29 anos, onde tentei precariamente ser outra pessoa. Mesmo capengando, havia em algum lugar dentro de mim uma rebeldia, que tentava fraca e ostensivamente, vir a flor da vida. Mostrar que estava estranho, que não estava certo, que eu estava sendo cruel comigo.

Eu andava sufocada, sempre com o peito apertado, tanto que tive uma crise séria de ansiedade e ainda faço uso de medicação. Um micro infarto aos 50 anos. Meu coração estava de saco cheio daquela vidinha normal. Na verdade tinha vergonha de como as pessoas me viam, já que meu marido não era nada parceiro. 

Hoje eu vejo essa falta de camaradagem, de reciprocidade. Eu dava mas não recebia.

Foram fases em que eu vinha a superfície para logo depois aprofundar naquele emaranhamento.

Cronos é impiedoso, ele passa sem se importar com absolutamente nada.

Porém, Deus é bom e misericordioso e me mandou um grande presente no verão de 2008. De quatro embriões, 2 foram ao céu e dois ficaram. Pedro e Ana Luiza, meus presentes divinos. Eu comecei aos poucos a mudar o meu caminho e o meu caminhar, já não estava mais sozinha. 

Eu digo que no momento que as crianças chegaram o marido foi mais para fora. Nesse momento o nosso casamento tomou rumos diferentes, se tornou duas retas paralelas que nunca mais se cruzariam e nós dois deixamos ir, cada um no seu caminho. E para as crianças e ele para fora de casa, se distanciando, mesmo estando ali fisicamente.

Eu ia descobrindo outras formas de viver junto a família, buscando a religião para dar conta da minha incompetência, trabalhando e ajudando pessoas com a minha profissão. E o tempo passou.

No final de 2019 minha sogra faleceu, o marido que já não estava muito fechado, se fechou muito mais. Nesse momento não existia mais dialogo. Eu havia me silenciado, mas era um silêncio super barulhento, os diálogos travados comigo mesma eram intensos. Já não tinha mais nada para dizer e também não queria falar, ele nem me ouvia.

Veio o afastamento físico e com ele a presença de outra pessoa na vida dele e a opção de viver aquele romance. Então foi viver o que ele chamou de ser feliz.

Ele teve coragem de fazer o que eu não tive, acabar com aquele casamento. Foi muito cruel, a humilhação e as palavras que seriam dispensáveis diante da nova situação...

Eu sempre usei os estudos como instrumento de compensação, sempre foi minha válvula de escape, e nesse momento, não foi diferente. Já estava comparando alguns cursos de Constelação Sistêmica. Me foi apresentado esse curso. Me deslumbrei com a dinâmica do processo de estudo, da forma fenomenológica de formação, de trabalhar. 

Estou em aprendizado.

Hoje o silêncio é opção, prefiro ouvir mais e falar menos, observar mais, sentir mais, viver mais, curtir, amar, saborear...

O silêncio da boca também está em meu coração, não ruidoso como o mar bravo, mas calmo como as ondas doces que banham a costa da minha pátria abençoada por Deus e bonita por natureza. Já consigo compreender e perdoar alguns episódios.

Quando me perguntam se eu estou bem, se estou feliz, digo que estou quase lá.

Prefiro falar do amor pelos meus filhos, minha mãe, meus irmãos e todos que vierem depois. Não me esquecendo jamais de honrar e prestar gratidão a todos que vieram antes de mim. Meus avós...  a Umbanda que me fortaleceu e me mostrou que eu não estava sendo injustiçada naquela situação do meu casamento, que cada um responde pelos seus atos.

O meu caminho hoje é florido, repleto de luz. Respeito o meu sistema e os outros que foram agregados ao meu nesse caminhar. Gratidão a todos que vieram me ver retornar desse mergulho.

Hoje, aos 56 anos, me sinto renovada. Estou viva e quero viver mais. Um novo amor? Quem sabe, não estou pronta para isso ainda, quero uma relação estável comigo, viver um grande amor comigo. Dormir e acordar ao meu lado. Transcender os sonhos. E acima de tudo. Emergir.

Olha o canto da sereia

ialaó, oquê, ialoá

em noite de lua cheia

ouço a sereia cantar

- Marisa Monte


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