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O cliente e o assumir da responsabilidade

O cliente e o assumir da responsabilidade
Vicente Duarte
out. 26 - 3 min de leitura
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Ainda que a capacidade para assumir a sua responsabilidade deixe o paciente no limiar da mudança, isso não é sinônimo de esta vir a acontecer mas que, isso sim, poderá vir a acontecer, permanecendo em potencial.

À semelhança de uma flecha colocada num arco em tensão, enquanto não for disparada, toda a tensão existente no arco esticado, não deixa de significar, unicamente, um potencial pronto, somente pronto a ser utilizado.

A liberdade, não só obriga à admissão da responsabilidade que tem de ser assumida nas escolhas que são feitas na vida, como pressupõe que a mudança exige força de vontade.

Embora a “vontade” seja um conceito que os  terapeutas raramente utilizam de modo explícito, estes, realmente, empenham-se, verdadeiramente, em influenciar a vontade do paciente.

Insiste-se em esclarecer e interpretar, pressupondo, muitas vezes erradamente, que a compreensão gera, invariavelmente, a mudança.

Quando, anos de interpretação na compreensão, na explicação (e não na vivência), não propiciaram a mudança, é comum apelar, diretamente, à vontade do paciente.

Isto porque é através da vontade, a força motriz da ação, que a nossa liberdade é exercida. Pode-se considerar que a vontade tem dois momentos:

  1. o indivíduo inicia o processo com um desejo
  2. quando se decide, executa-o.

Mas, aqui, existe um erro, de algum modo, ingênuo. O fato de se decidir, não significa, de maneira nenhuma, que a decisão seja cumprida, seja executada. Tal como a flecha no arco, se não for disparada, a energia contida, limita-se a isso: é ação em potencial.

Há pessoas cujos desejos estão bloqueados, não sabem o que sentem, nem o que querem. Sem opiniões, sem impulsos, sem tendências, tornam-se parasitas dos desejos alheios. Tais pessoas tendem a tornar-se cansativas, porque abafam os seus próprios desejos e os outros cansam-se de lhes fornecerem desejos e imaginação, nomeadamente alguns terapeutas.

Outras, tomam a decisão, mas não executam aquilo que decidiram. Embora saibam, precisamente, aquilo que querem e o que têm de fazer, não são capazes de agir e, em vez disso, marcam passo, atormentadas, no limiar do cumprimento da decisão.

Não querem, ou não conseguem, dar o passo necessário e resistem ferozmente, a todas as tentativas no sentido de a sua força de vontade ser reforçada.

A tomada de decisão é difícil por diversos motivos, alguns dos quais relacionados com aspectos fundamentais da existência.

Invariavelmente, a decisão exige uma renúncia: por cada sim, tem de existir algum não, cada decisão que tomamos, elimina, ou aniquila, outras alternativas.

Assim sendo, agarram-se à hipótese infinitesimal de um dia poderem vir a ressuscitar uma dessas alternativas deixadas para trás e, renunciar a essa possibilidade, seria sinônimo de diminuição e de morte, logo de incapacitação, de fraqueza e de fragilidade.

E, muitas vezes, talvez demasiadas vezes, apesar de tudo isto, os terapeutas têm a ilusão de que são capazes de ajudar qualquer paciente, de que nenhum caso está para além da sua capacidade e do seu saber.


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