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O idólatra político

O idólatra político
Simone Belkis
jun. 10 - 7 min de leitura
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Antes de começar a discorrer sobre o tema, quero dizer que não sou uma pessoa profundamente politizada, embora tenha princípios bem claros sobre o que é sociedade e humanidade. Quero dizer com isso que não vou falar de política. Mas, vou falar sobre uma das maiores chagas políticas que o povo brasileiro tem, e como sempre, deixando claro que essa é a minha opinião e ninguém será obrigado a concordar. 

Vou falar da idolatria. Um substantivo feminino que significa "culto que se presta a ídolos". E no sentido figurado, representa "amor excessivo, admiração exagerada". E para contextualizar um pouco mais o tema, outra definição importante é a de idólatra, que significa "aquele que cultua ou que adora ídolos". E no sentido figurado é "aquele que tem caráter de idolatria; idolátrico, amante, admirador exaltado". Outro termo importante é ídolo, que significa "imagem que representa uma divindade e que se adora como se fosse a própria divindade". E no sentido figurado, "pessoa ou coisa intensamente admirada, que é objeto de veneração". E na tradição judaico-cristã, representa um "indivíduo real, imagem representativa de uma entidade fantástica, ou a própria entidade, considerados, de maneira equivocada e herética, portadores de atributos divinos".

Agora que já nos colocamos a par dos significados, podemos contextualizar o tema a que desejo me referir. O endeusamento político. Se partimos do princípio que um ídolo, seja de forma figurada ou real, representa algo ou alguém com capacidades excepcionais, como um super-herói, por exemplo, já sabemos que estamos falando de um conceito no mínimo ilusório.

Vamos usar o exemplo de um super-herói. Um homem ou mulher, com uma identidade secreta, escondida por trás de um cidadão ou cidadã comum, mas com qualidades apreciáveis. Alguém que, secretamente, possui um dom ou poder acima do normal, que faz uso desse recurso de forma anônima e mascarada, para proteger os fracos e oprimidos. Um ser, sem dúvida, digno de aplausos. Outro detalhe importante, esse herói não é pago para fazer isso. Ele ou ela são movidos por seu desprendimento e nobreza de caráter. Claro, ainda existem os anti-heróis, e entre eles, aqueles que fazem o bem só para contrariar. Hehe.

Pois que no imaginário brasileiro, o herói passa a ser mais que um cidadão, aparentemente, comum com dons excepcionais para ser o Salvador ou o Deus que vem para redimir seus pecados mais chulos. Aquele que vai dar todas as soluções apenas em troca de uma coisinha bem simples, seu voto (que nem precisa ser de confiança).

Que me perdoem os trocadilhos, pois que esse é um assunto grave. Mas, que precisa ser tratado com leveza, já que pode terminar por produzir ânimos muito exaltados, como os idólatras mais ferrenhos têm demonstrado nos últimos tempos. Defendendo ideais que não são seus na base da violência moral, física e, agora, da "novíssima" violência virtual.

É preciso aqui abrir parênteses, e explicar por qual razão o ser humano culta ídolos. De modo geral, o que fazemos diante de nossos ídolos, e isso passa pelo instinto primitivo do medo da morte, é entregar o nosso próprio poder a outrem. E a sociedade e a cultura humana sempre foram pautadas na falta do único e real poder, que é o poder interno, a força de ser indivíduo.

Porém, agora, vamos olhar mais de perto qual é o motivo real para o brasileiro escolher entregar o seu próprio poder a um ser que nada tem de heroísmo, e que na verdade nem precisa ter excepcionalidades, bastaria ter retidão e conhecimento suficiente no que se refere ao cargo ou posto que irá ocupar.

Mas, isso não nos basta. É preciso que esse ser represente a solução para o tão sofrido país empobrecido pelo comodismo ideológico, pela falta de cultura, de perspectiva, de educação e de amor próprio. Nós brasileiros ainda cultuamos a crença de que o país do vizinho (seja qual for) é melhor do que o nosso. E que seguir as cartilhas ideológicas ainda é a solução mais coerente, mesmo que se perceba que as necessidades humanas não são atendidas por um lado ou outro, mas pelo equilíbrio, como a divisão justa de renda, por exemplo.

O paternalismo cultivado no país desde sempre, fez do brasileiro um ser carente de poder e força próprios, sempre cultuando seus heróis, seja na política, nas novelas, no futebol, na religião ou até na indústria farmacêutica ou no empresariado. Decididamente, somos um povo de "princesas encerradas na torre, aguardando o príncipe encantado".

Mas, porque isso? O Brasil é um país que territorial, culturalmente e outras mentes, nada deixa a desejar. Somos tão capazes, produtivos e inventivos como qualquer outra nação. Mas, quando entregamos nosso poder (aquele interno que todo o super-herói tem, mas não é oculto), passamos a apostar naquela figura, que nos sabendo frágeis, promete mundos e fundos em troca de abrirmos mão da nossa capacidade de pensar por nós mesmos. E isso se dá, porque pensar por si mesmo implica responsabilidade. Se compramos uma ideologia pronta e a usamos como discurso para nos mostrar entendidos, estamos quites com o país e podemos deixar tudo, desde o legislativo, passando pelo executivo, até o judiciário nas mãos desses heróis tão nobres, sábios e puros que se tornam até mitos (seres que encarnam as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana; lenda).

É isso que somos, cultuadores de seres lendários, figuras ilusórias que não têm medo ou pudor de vender imagem de super-herói. E ainda pior é, nessa realidade, que essas pessoas míticas não precisam se passar por bons cidadãos, arrotando seus conhecimentos parcos, sua educação nula, sua oposição conveniente, porque assim se tornam mais a cara daqueles que se sentem por elas representados. 

Até mesmo o conceito de idolatria já foi profanado nesse país, porque basta que nos poupe da responsabilidade de exercer uma cidadania real e não apenas virtual ou facebookiana para ter o nosso irrestrito apoio, afinal é só dar um voto.

Para terminar, gostaria de deixar claro que não são todos os brasileiros movidos por idolatria, talvez a grande maioria apenas espere por alguém que lhes respalde, que lhes ajude de verdade a acreditar em seu próprio poder. Porém, uma pequena massa "rebuliçosa", que vem de todos os lados, incita a ideia de que a parcialidade consegue abraçar todas as necessidades humanas, das mais chulas às mais nobres.

 

 

 

 


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