Eu sempre considerei a sinceridade muito nobre, ainda que perigosa. E resolvi entrar na fase de dizer na lata, mas com muito jeito, aquilo que sinto e penso. Não que já não fizesse isso antes, mas levava em consideração certos contextos, e nesses casos não dizia tudo. Pois resolvi falar abertamente dos meus próprios sentimentos, das minhas dificuldades, dos meus erros. Deu chabu!!!
As pessoas se chocam com a sinceridade, agradecem e mudam de assunto, ou camuflam aquilo que estava evidente antes da sinceridade pintar no cenário.
Um exemplo, você está no maior clima romântico com alguém, a linguagem não verbal gritando o quando tudo está muito legal, e de repente você resolve verbalizar que curte o momento, mas que nem sabe ao certo se isso não pode virar um problema. Pronto, é o suficiente para o outro perguntar: - Do que você está falando? Não está rolando nada!!!!
Tudo bem, não sou expert em linguagem não verbal, mas poxa, não nasci ontem. Claro que isso não acontece só nos climas românticos, isso se passa em qualquer área ou contexto da vida, porque sinceridade dói. Mesmo, quando as intenções são boas.
E por que sinceridade dói? Por que até mesmo quando o outro está apenas falando de si mesmo, a história alheia machuca? Porque nós não conseguimos ser sinceros conosco mesmos, porque olhar para nossa dor é difícil demais. E seguimos a vida achando que a dor conhecida é menos pesada que a dor do desconhecido. Não é!!!
Tudo bem que é difícil ter que olhar para algo totalmente fora do nosso controle, aquilo que dominamos, ou melhor, estão acostumados. Porque é isso mesmo, a gente acostuma com tudo.
Mas, a sinceridade desnuda, mostra tudo. É como ser pego pelado quando alguém abre a porta inesperadamente. Hehe. Só constrangimento. Brincadeiras a parte, olhar para si mesmo significa tirar o véu. E muitas vezes, não nos desnudamos nem diante de nós mesmos. Lembrando que tanto o pelado, quanto o enxerido que abriu a porta, morrem de constrangimento (nem sempre, é claro).
E quando a sinceridade se torna um jogo? Foi isso que percebi, e quando digo jogo nesse contexto, não falo de forma pejorativa, porque a sutileza em ser sincero pode causar uma transformação.
E, geralmente, isso acontece quando a outra pessoa (ou a gente mesmo) nem nota que está acontecendo um jogo. Pois foi isso que se passou comigo. A sinceridade de uma pessoa falando sobre mim, e não só isso, a ousadia da dita cuja. Não é muito comum as pessoas me apontarem os defeitos, porque não costumo abrir espaço para tanto. Mas, isso causou em mim exatamente a sensação de que aquilo não era tão terrível e que eu poderia olhar para aquilo tudo com uma certa gratidão. Eu entendo que permiti que isso acontecesse por estar disposta a ser sincera com os outros e, principalmente, comigo mesma.
Não foi difícil passar pela experiência, porque a pessoa não disse nada que eu mesma não tivesse percebido e autocriticado no contexto, é bem verdade que eu disse a ela que concordava com o que foi dito, mas a maneira como foi dito doeu um pouco, e isso fez com que a pessoa mudasse sua forma de falar, mas não deixou de ser sincera, e continuou dando palpites Kkkkkk.
Mas, assim ficou fácil, mas foi justamente isso que me permitiu perceber que a sinceridade (com alguns ajustes de compaixão) pode ser libertadora. Fiquei orgulhosa de mim.
Mas, como funciona o jogo da sinceridade? Quando somos verdadeiros, podemos falar abertamente (mas sempre respeitando o outro) sobre aquilo que nos move, incomoda, comove. É dizer a verdade, ainda que de forma suave, mas a verdade. É você moldar, como a argila, uma figura agradável, que não choque, mesmo que fira de leve, mas sempre dizendo a verdade.
E claro, a sua verdade, mesmo sabendo que pode não ser a do outro. Ou que o outro não possa ainda aceitá-la como verdade. Não é um jogo simples, exige um pouco de dedicação, muito respeito, e principalmente, muita sinceridade.