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O mito da casa própria

O mito da casa própria
Karlla Ranal
ago. 24 - 5 min de leitura
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Para muitos a casa própria é um sonho, porque acreditam estar seguros com a aquisição desse bem. Já quem mora de aluguel, por muitas vezes se sente frustrado por não ter tido a mesma sorte. O que devemos pensar sobre isso?

Se essas palavras soaram muito duras pra você, saiba que foi desse jeito que, eu, uma mulher de 42 anos, fui criada a pensar. 

Venho de uma família onde meus pais conquistaram a casa própria desde o primeiro ano de casamento, mas precisamente um ano antes. Por conta dessa realidade, enquanto morei com meus pais, nunca vivemos de aluguel. 

Quando me casei, continuei morando em uma casa própria. Um apartamento que já pertencia ao meu marido antes de nos casarmos.

Ele, seus pais e suas irmãs sempre foram inquilinos. Meus sogros só realizaram o sonho de comprar um apartamento depois dos 50 anos de idade.

Essa crença de que a casa própria precisa ser adquirida foi tão presente na minha vida que me fez acreditar que viver de aluguel era errado. E esse "erro" foi vivenciado por mim, através da história de vida da minha avó materna. 

Ela NUNCA teve uma casa para chamar de sua. Viveu toda a sua vida de aluguel e, assim, foi apontada como uma referência negativa. Aquela que nunca devemos seguir! 

Minha querida avó era costureira autônoma, nunca assinou uma carteira de trabalho e por muito tempo ganhou um bom dinheiro com a sua profissão. Sua infância e juventude foram bem difíceis, mas depois que suas filhas já eram adultas, ela e meu avô conseguiram usufruir de uma vida bem confortável.

Minha avó montou uma empresa de confecção de cortinas, trabalhou muito ao lado do meu avô e não se preocupava em poupar, gastava com os seus e gostava muito de agradar os netos. 

Uma mãe e avó muito protetora, defendia suas crias (filhas e netos) como uma leoa e era sempre carinhosa como a maioria das avós. 

Eu tive uma infância muito feliz e privilegiada ao lado dela. Recebia mimos, como presentes fora de hora e pratos preferidos nos finais de semana. Até hoje eu lembro do cheiro e do tempero do feijão da minha vó. Mas, em um certo momento, sua vida profissional levou um tombo, ela perdeu um de seus maiores clientes. Como resultado, tudo desabou e as dívidas começaram a fazer parte da sua realidade.

Somado a isso, o peso de ter optado por viver de aluguel a vida inteira a transformou em uma mulher irresponsável. Aquela pessoa que nunca pensou na segurança de ter um teto próprio para morar. 

Eu era pequena e não entendia muito bem. Não via mal em viver de aluguel, mas os comentários de que ela estava fazendo a escolha errada, entravam na minha cabeça e, por lá, permaneceram por anos.

Hoje, eu, meu marido e nossos filhos, moramos em um apartamento alugado. Já tivemos duas casas próprias e precisamos vendê-las por motivos pessoais. 

Sofri muito quando tivemos que morar, pela primeira vez, de aluguel.  As palavras do passado, que eram ditas para minha vó, continuavam muito reais dentro de mim. Viver de aluguel era sinônimo de fracasso!

Depois de muito ler, me informar e conversar com outras pessoas, eu entendi que essa história da casa própria é realmente um mito. Uma crença que aprendi a libertar, que deixei ir. Hoje eu consigo me sentir em paz! Somente agora eu imagino como ela deve ter sofrido com tantos comentários desnecessários. 

Lembro da minha vó feliz, realizada e muito contente em ajudar o próximo. Era isso o que mais importava pra ela: ter um teto para morar (mesmo que fosse alugado) e receber as pessoas que amava. Momentos que pra ela tinha muito significado.

Minha amada avó nem imaginava o quanto ela estava me ensinando com suas atitudes. Eu também não percebia isso naquela época. Só depois de muitos anos eu consegui enxergar o real valor dos ensinamentos que ela deixou mim, mesmo sem intenção nenhuma.

"Vó, os maiores valores da vida - os de carinho e amor, eu aprendi com você! E são esses valores que eu faço questão de passar adiante, para os meus filhos!"

 

Gratidão por tudo.

Te amo para sempre!

Da sua neta, Karlla.


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