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O QUE JÁ FIZ , O QUE EU AINDA FAÇO PELOS MEUS PAIS?

O QUE JÁ FIZ , O QUE EU AINDA FAÇO PELOS MEUS PAIS?
Márcia Regina Valderamos
jul. 29 - 15 min de leitura
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Que Perguntinha difícil e capciosa profe!

Isso é uma pegadinha? kkkk Está parecendo!!!!! Eu perguntaria a mim mesma: "Márcia, minha filha, o que voce fez e faz nessa vida que não seja para seus pais?"

Vejamos,

Quando minha mãe engravidou de mim, ela e meu pai estavam num perrengue só! Ela com 22 anos (em 1957  uma criança!) ele com 29 anos, morando só, sem ver os pais e irmãos desde os 14 anos quando veio de Minas Gerais para tentar a vida em São Paulo. Namoravam há 7 meses quando minha mãe engravidou; ele sem profissão, trabalhando no melhor emprego até então, mas sem nenhum lugar para morar definido, sem salário fixo e ela trabalhando no  melhor emprego que já havia conseguido; tinha irmãos pequenos e um sobrinho bebê, todos dependentes do salário que ela levava para casa para poder alimentá-los e a minha avó a qual o marido, alcoolista ,  trocou por outra mulher, saiu de casa deixando os filhos pequenos sem assistência, mas na verdade, dizia a minha mãe, ele nunca se importou com os filhos  (6 vivos e uma falecida com menos de dois anos); esse meu primo que na época era um recém nascido,  precisava de leite e só minha mãe tinha condições de comprar, pois o pai dele separou-se da minha tia, a segunda irmã mais velha da minha mãe, e nem visitar o filho visitava; dizia a minha mãe, que a irmã não cuidava do filho porque "não tinha juízo" . Nesse cenário, minha mãe engravida de mim. E fica, claro, desesperada. O seu desespero, com o tempo, se transforma em revolta, raiva e, como eu era o simbolo de tudo isso, ela descontava em mim com atitudes e palavras hostis e agressividade extrema. Ela perdia o controle com facilidade e espancava quando queria corrigir.

Além disso, quando eu tinha dois meses, ela voltou a trabalhar e eu ficava na creche da empresa. Um dia foi preciso me aplicar uma injeção, o que na época era feito com agulha normal, não existiam ainda as descartáveis, e essa agulha não havia sido esterilizada e eu e outros bebes pegamos tétano. Quase morri com tétano na perna direita; os médicos queriam amputar e minha mãe não permitiu, batalhando atrás de quem pudesse me tratar; ela precisou parar de trabalhar para cuidar de mim.  Só fui salva e não perdi a perna por milagre de Jesus Cristo! Eu creio! Agradeço demais o médico que se interessou pelo meu caso e me curo, apesar de não saber o nome dele. Minha mãe só sabia dizer que era "um gringo" que, passando por nós no corredor do hospital, sentiu o cheiro (dizem que eu exalava cheiro de carniça) e perguntou o que era que eu tinha e foram traduzindo para ele. A Deus que o utilizou como instrumento para me salvar, e a todos daquela equipe do Hospital Santa Catarina, na Av. Paulista em São Paulo/SP devo minha vida e a minha perna saudável, sem sequelas! Imaginem a trabalheira que minha mãe teve comigo desde de sempre! Quanto sofrimento dela e do meu pai! Fico só pensando: uma menina que na época ela era, com 22 anos, sem recursos financeiros, sem estudo, sem ajuda, nessa situação! Só tenho a agradecer!

Mas, no dia a dia, enquanto eu crescia, sentia o peso da culpa sobre meus ombros. Achava que vim só para dar trabalho e atrapalhar meus pais, aborrecer minha mãe!  Sempre que minha mãe me batia, aliás, eram constantes as surras, por qualquer coisa, ela berrava, parecendo enlouquecida: "Cala a boca! Vou te socar! Eu larguei o melhor emprego que já tive por tua causa! Eu larguei tudo por você e você não merece! Não presta para nada!". Apanhava porque era muito curiosa, perguntava tudo. Queria saber de sua vida, da de meu pai e avós e ela só se irritava e não contava nada! Eu queria a atenção dela e ela dizia que eu era muito "tagarela" e "enchia o saco"! 

Meu pai, alcoolista, trabalhava muito. Mal parava em casa e, quando parava, bebia até desmaiar e minha mãe gritava com ele e com a gente (eu e meu irmão) o tempo todo. Minha mãe devia ser neurótica, obsessiva/compulsiva, ansiosa ao extremo. Não parava de limpar a casa e a gente não podia deixar cair um cisco no chão! Ela vivia com dores de cabeça (colocava cascas de batata com um pano na testa e ficava no escuro). Tínhamos que ficar em silencio e quase imóveis, eu, meu irmão e meu pai. Meu pai bebia e ficava inerte e eu e meu irmão assistíamos a tudo impotentes, tristes, aterrorizados! Quando eu a via assim de cama, com dores, no escuro, ficava apavorada!

Eu, desde pequena, pensava muito em morte. Na dela, do meu pai, irmão, das minhas avós. Ela, meu irmão e meu pai viviam de cama, doentes. Cada um do seu jeito de adoecer., enquanto eu sempre fui saudável, esperta e observadora. "Bisbilhoteira", dizia minha mãe! Eu chorava por eles adoecerem e eu não. Eu queria ficar doente como eles!

Eu e meu irmão não podíamos  brincar na rua, não tínhamos amigos; na escola parecíamos uns bichinhos esquisitos; tínhamos vergonha, nos  sentíamos rejeitados; eu era muito diferente das meninas e todas gozavam da minha cara, pois minha mãe cortava meu cabelo bem curto, estilo"joãozinho" ("para não lhe dar mais trabalho"!) e me vestia com as roupas doadas de primas maiores e mais corpulentas que eu. Entre os familiares, tanto do lado paterno quando do materno, éramos também excluídos, nos sentíamos menos, os "pobretões da família", minha mãe dizia. Os primos do lado paterno eram muito perversos comigo e com meu irmão Faziam o que chamam hoje de bulling. Do lado materno os primos eram menos ruins, mas também não nos sentíamos bem o tempo todo com eles. Minha mãe nos fazia pensar que éramos sempre menos.

Eu tinha medo de tudo, das professoras, das crianças, dos tios e tias, dos primos e primas, de todos e de tudo! Mas, amava a escola, amava aprender, estudar. O maior castigo que minha mãe já me deu foi rasgar meu uniforme e meus cadernos, me arrancar do banheiro rasgando minha roupa por ter me flagrado fumando aos 11 anos. Peguei do maço dela. Ela e meu pai eram viciados. Fumaram anos e anos seguidos! 

Ela reclamava de tudo e dizia que não tinha dinheiro para nada. Fumei durante 35 anos! Sempre bebi muito!!! Sou ansiosa e depressiva! Baixa autoestima e desanimada! Bem identificada com o sistema, pois além dos meus pais, há muitos dependentes de cigarro, de bebida, de afeto, de outras carências nos dois lados da família. Vários tios e meus dois avôs morreram por dependência de cigarro e bebida.

Hoje eu sei que TUDO que fiz e faço é e sempre foi para não ouvir minha mãe reclamar, para ganhar e esfregar o dinheiro que obtinha do meu trabalho na cara dela, para que ela parasse de dizer que eu não servia para nada e me vingar, sendo que  comecei a ganhar mais até que meu pai logo aos 12 anos quando do meu primeiro emprego com salário fixo.

Eu fui para faculdade de psicologia porque queria "ajudar meu pai a sarar do que eu sempre achei que era uma doença". Tinha raiva da minha mãe por maltratá-lo tanto e, hoje sei que tinha raiva do meu pai também por ele não me amar como eu queria. Meu pai não conseguia nos olhar por  muito tempo; ele abaixava os olhos, como que envergonhado. Muito calado e distante mesmo estando fisicamente ali. Mal falava com a gente.  Eu tinha muita compaixão por ele. Era muito preocupada com ele. Durante toda a existência dele foi assim.

Depois de trocentos anos de terapia e achando que havia resignificado e entendido a finalidade de tudo o que vivi e como vivi (doce ilusão!), comecei a perceber que não estava consciente da maior parte  e, insatisfeita, comecei a buscar outros caminhos para me conhecer. Foi assim que iniciei minha busca pelo Pensamento Sistêmico, pelas Constelações Familiares. Mas, ao ler Bert Hellinger fico sempre revoltada quando ele diz que não podemos julgar, que devemos aceitar tudo e todos como são, dizer sim para tudo, aceitar pai e mãe como são, pedir perdão pelo que senti e sinto a respeito do que me fizeram ou deixaram de fazer, digerir isso está difícil! Agora, com Olinda Guedes estou começando a compreender que o que sinto também precisa ser respeitado. Que alívio! 

Sei que desobedeci a hierarquia para poder pertencer! Que desequilibrei a relação com meus pais! Virei a mãe deles e tudo o que faço é para eles ou é para provar algo para eles. Mas, eu queria ser amada, aceita e queria ser a certa para eles. Hoje sei que foi por amor. Um amor cego e inconsciente que me custou e custa até hoje minha saúde, paz, prosperidade e plenitude na vida.

Meu pai faleceu em 1991, cego e com a perna direita amputada, devido a diabetes não tratada e minha mãe faleceu em 2008, 11 meses depois da minha sobrinha, filha mais velha do meu irmão, ter falecido, que se foi depois de ficar lutando dos 12 anos aos 20 anos contra um câncer no braço esquerdo: rabdomiossarcoma alveolar, Essa perdafoi a que acabou comigo!

Quando minha mãe se foi nós já estávamos nos dando bem e sendo amigas. Eu já  tinha (acho!) compreendido muita coisa. Com o meu pai sempre tive mais afinidade, mas hoje, conhecendo as constelações, vejo que também era uma relação onde eu estava fora do meu lugar, tanto para ele quanto para a minha mãe.

O tempo todo queria ser alguém que eles amassem, que dessem valor. E valor na minha família têm quem tem dinheiro, autoridade e é reconhecido pela sociedade. Nunca consegui nada disso.

Começo a deslanchar na carreira de psicóloga, o que amo fazer, me bloqueio e regrido; dinheiro só ganhei até eles partirem para gastar todo com eles ou com suas doenças, com as necessidades deles, ou provas superficiais de que tinha poder sobre eles(compra de supérfluos, viagens idiotas, etc.).

Vida afetiva não consegui.

Nem meu irmão fala direito comigo, porque sei hoje que tomei o lugar de mãe na relação com ele. Não ficamos a vontade um com o outro depois de adultos. Através das constelações soube, primeiro que tive uma irmã gemêa que não pôde nascer e foi primeira que eu e, em uma outra constelação soube que não sou a filha mais velha como pensava. Minha mãe teve um aborto antes de mim. Era uma menina e dessa, provavelmente, minha mãe soube. Sinto um vazio, uma falta terrível, mesmo tendo constelado. Acho que estou ainda digerindo isso também. Desde que criança nunca pensei em casar, mas pensava em ser mãe de dois casais de gêmeos. Não vieram.

Mulher, no sentido feminino, da libido,  não consegui ser. Casei uma vez , com o primeiro homem da minha vida, com quem namorei por 8 anos (dos 14 aos 22 anos) e com quem fiquei casada por 6 anos e ele, claro, me traiu com uma colega de trabalho. Não tivemos filhos. Ele, depois que se separou, casou e tem dois filhos. Estou num relacionamento com um homem que conheci menino, quando eu tinha 9 anos e ele 14 anos. Ele queria casar comigo e minha mãe enxotou ele. Ela dizia que homem nunca prestou e que eu seria uma "sem vergoinha" se começasse a ficar com assanhamento. Não nos vimos mais. Não pensava mais nele. Achei que amava o primeiro marido e queria família com ele. Lutei por anos e o "segurei" o quanto pude! Tenho consciência que abusei dele nesse sentido. Ele casou praticamente obrigado. Nunca me amou. Eu sabia, mas fui teimosa e perdi minha vida dando "murro em ponta de faca"!

Meu atual companheiro se casou com outra anos depois que deixamos de nos ver, se separou dois anos antes de eu me separar e nós nos reencontramos e já vivemos maritalmente há 32 anos, sem filhos; ele também não tem filhos com a primeira esposa.  Ele é um homem bom, companheiro, me incentiva, me ajuda e me admira. Somos grandes amigos. Não temos vida sexual há mais de 20 anos. Ele é diabético, impotente e diz que não pode tomar medicações para isso, pois tem medo de ter infarto. Lutei durante um tempo contra isso, depois desisti. Estou muito cansada para recomeçar com isso, mesmo com a libido a toda, eu a reprimo conscientemente. Portanto, Não sou mulher, sexualmente falando. Não sou esposa; não sou mãe. E irmã também não sou. Estou sendo obediente à minha mãe; o que ela decretou para minha vida estou cumprindo!

Tenho uma sobrinha-princesa preciosa que amo demais, irmã da sobrinha que virou anjo, filha mais nova desse irmão, a quem amo de paixão e um montão de sobrinhos e sobrinhos netos da parte do meu atual marido.

Me sinto infeliz e completamente inútil hoje, pois ninguém precisa de mim, no sentido que aprendi que era ser útil. Ao mesmo tempo, sinto que sou, pela primeira vez na minha vida, livre para fazer o que quiser. O problema é que não sei o que fazer e isso me apavora e deprime muito! Meus pais se foram e eu, que não aprendi a ter a minha própria vida, estou perdida tentando me encontrar. Por isso estou fazendo esse curso e o de renascimento com você.

Entendeu porque acho capciosa sua pergunta?

Porque me leva a constelar. Era essa a finalidade, não é querida?

POIS SAIBA QUE ESTÁ DANDO CERTO! ESTOU ME CURANDO!

VOCÊ É SENSACIONAL!!

GRATIDÃO!!!!


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