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O QUE OS FILHOS FAZEM PARA OS PAIS?

O QUE OS FILHOS FAZEM PARA OS PAIS?
Caroline Castro de Mello
out. 2 - 4 min de leitura
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Quando eu tinha dois anos minha mãe descobriu que eu estava com desequilíbrio hormonal. Comecei um tratamento para puberdade precoce. Sim, puberdade precoce, amadurecimento sexual iniciado com 2 anos de idade.

Bem, já contei um pouquinho aqui na minha carta aos antepassados sobre os abusos presentes em meu sistema familiar. O fato é que, mesmo com medicação, minha primeira menstruação se deu com quatro anos, e foi interrompida com medicamentos até os dez anos.

Como eu me sentia? Não sei...não lembro quase nada de minha infância.

O que lembro se dá por volta dos sete anos para cá, e ainda assim, pouca coisa. Dizem que às vezes nossa mente nos ajuda a esquecer para que possamos seguir a viver...acho que é por aí.

Minha mãe é uma mulher depressiva, apesar de nunca admitir isso. Falava que quando éramos criança (quando eu tinha por volta dos quatro anos), ela tentou se matar. Conta isso como algo normal (porque a mulher sofrer do jeito que ela sofria era normal, para o seu entorno) e que foi apenas um período em que teve uma "crise de nervos". 

Hoje percebo que aos meus dois anos de idade, adoeci para dizer para minha mãe: - Por amor, faça alguma coisa, as meninas estão se tornando mulheres cedo demais! Nos ajude mamãe!!!

E ela atendeu ao meu clamor e me levou ao médico. Talvez, se não tivesse me levado, hoje, com 34 anos,  eu já estaria na menopausa a um bom tempo, e não teria tido a oportunidade de ter meus filhos.

Consegui superar o problema hormonal, porém, as lealdades de sacríficos continuaram agindo. De forma muito sutil e silenciosa fui criando auto boicotes e entraves para a minha vida afetiva e profissional.

O grito de CHEGAAAAA! Veio de minha filha Dandara.

Dandara, minha filha, assim como fez a Dandara dos Palmares, se entregou à morte. Quando tinha quatro meses de idade intrauterina minha filha decidiu ir embora. Outro movimento de sangramento cedo demais...mais uma de nós...isso foi demais para mim e eu então gritei: CHEGAAAAA!!!!

Dandara deixou seu coração parar de pulsar quando estava em minhas mãos. Ela ali, perfeita, pequenina, saiu cedo demais...e então me falou, nos seus poucos instantes de vida: - Mamãe querida, veja como é difícil o sacrifício de uma filha pela mãe. Eu vou minha mãe, eu vou para que você fique bem.

Dandara ancorou em meu corpo quando eu fiz 33 anos. Essa idade era muito significativa para mim, então fiz uma entrega de alma para o Divino, falando que estava pronta para cumprir minha missão nessa Terra. Ele me enviou ela, Dandara Kali. E a levou quatro meses depois, no dia de Baba Yaga (a senhora da vida e da morte - feiticeira do conto da Vasalisa - do Livro "Mulheres que correm com os Lobos"). 

Foram quatro meses de aceitação de sua chegada, tendo em vista que eu já tinha dois bebês para cuidar.  Assim, quando eu finalmente a aceitei com todo o meu coração e comecei a fazer planos para a sua chegada, ela se foi, e eu, quase parti junto dela.

Nesse processo de renascimento, minha vida foi preservada mas, uma outra mulher nasceu depois daquele parto (sim, eu vivi o parto dela, mesmo sabendo que ela não iria sobreviver ou que já nasceria morta, decidi viver o parto e deixá-la nascer depois que a bolsa estourou).

Com ela se foram as minhas prisões, os meus sacrifícios, os meus julgamentos para com as mulheres e suas gestações não planejadas, os meus julgamentos para com minhas irmãs de caminhada que decidem abortar, ou mesmo que decidem doar os seus filhos logo que nascem.

Eu tive que admitir para mim mesma que, apesar da imensa dor que senti, eu não teria condições (principalmente emocionais) de criar três bebês. Eu tinha um filho com dois anos e outro com oito meses quando ela se foi. 

Quando constelei, descobri que Dandara não tinha vindo sozinha, era uma gestação gemelar. Tivemos, portanto, outra filha junto dela, que a ajudou a partir, ao não se desenvolver. À ela, demos o nome de Luz Divina.

O que os filhos são capazes de fazer pelos pais? Vir ao mundo e... morrer!


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