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O relacionamento amoroso depois de uma infância difícil

O relacionamento amoroso depois de uma  infância difícil
Silvia Costa
dez. 19 - 7 min de leitura
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No decorrer de qualquer vida adulta, haverá períodos em que acabaremos envolvidos nessa atividade um tanto estranha, pouco representativa e invariavelmente um pouco desafiadora: a busca.

A maioria das pessoas ao nosso redor não será tão sábia, mas com sutileza maior ou menor, estaremos procurando, sugerindo cafés e almoços, aceitando convites, dando nosso e-mail e pensando com cuidado incomum sobre onde sentar em viagens de trem . Às vezes, essa ladainha será divertida; às vezes, chata. Mas para uma parte de nós, é uma das coisas mais difíceis que se tem que fazer na vida. E será assim por uma razão que pode parecer ainda mais assoladora: porque, há muito tempo, essas pessoas tiveram uma infância muito ruim, cujo impacto e legado ainda não dominam totalmente.

Pode não parecer, mas os bebês também estão procurando por amor. Eles não saem por aí ou dão a estranhos seus números de telefone. Eles estão mais ou menos imóveis nos seus berços e são capazes de pouco além do ocasional sorriso fofo. Mas eles também estão procurando os braços de alguém para se sentir seguro; alguém que possa acalmá-los, alguém que possa acariciar sua cabeça e que diga que tudo ficará bem quando as coisas parecerem desesperadoras; alguém que lhes dê um peito para sugar. Eles estão procurando por vínculos.

Infelizmente, porém, para um em cada quatro de nós, essa busca não resultou em sucesso. Não havia ninguém disponível para cuidar adequadamente. O choro passou despercebido, a fome não foi atendida. Ninguém sorriu ou abraçou com confiança. Não houve peito acolhedor. Nos olhos do cuidador, onde deveria ter alegria e segurança, havia depressão ou raiva. E, como resultado, o medo de viver foi muito além da infância, e o namoro se torna um negócio muito difícil.

Para aqueles entre nós que experimentaram decepções precoces, simplesmente quase não acreditam que uma busca por amor vai dar certo e, portanto, terão um compromisso de garantir que isso não ocorra. O jogo do namoro se torna a ocasião real em que podem confirmar suas suspeitas mais profundas: que são indignos de amor.

Por exemplo, podem se fixar em um candidato que, a olhos mais cuidados, obviamente não está interessado: a frieza e a indiferença, o anel no dedo sinalizando se tratar de uma pessoa casada; a experiência ou a idade incompatíveis… Longe de desanimá-los, será precisamente o que parece familiar, necessário e sexualmente emocionante. Essas situações reforçam uma sensação conhecida antes: que é exatamente isso que deve acontecer quando amam: deve doer atrozmente e não chegar a lugar algum. 

Ou, na presença de um candidato potencialmente generoso e disponível, podem se tornar tão exigentes e insatisfeitos, tão irracionais e urgentes em seus pedidos, que nenhuma alma sã permanece. Vão estragar uma impressão potencialmente boa, jogando uma vida inteira de insegurança e solidão nos ombros de um estranho inocente.

Como alternativa, incapazes de tolerar a terrível ansiedade de ainda não saberem onde estão, podem decidir resolver o assunto sozinhos, preferindo desistir de tudo a encontrar uma maneira de continuar. Interpretarão cada momento ambíguo negativamente, pois a tristeza é muito mais fácil de suportar do que a esperança: a resposta um pouco tardia do outro deve significar que ele encontrou outra pessoa. A ocupação do outro deve ser um disfarce para o ódio repentino, o beijo perdido no final da mensagem é uma evidência conclusiva de que o outro viu através de suas máscaras. 

Para dominar o medo de outra decepção ficam frios, respondem sarcasticamente a elogios sinceros e insistem agressivamente que ninguém realmente se importa com eles, garantindo, dessa forma, que possíveis parceiros eventualmente não se importem mesmo.

Para escapar a esses ciclos debilitantes, precisam aceitar que estão procurando alguém para amá-los enquanto lutam com as mais fatídicas suspeitas de que, na verdade, não merecem amor.  

Somente dominando adequadamente o que já os aconteceu, a decepção que experimentaram na infância, é que podem começar a separar seu trauma passado da realidade presente e, portanto, aprender a navegar pelas ambiguidades e riscos ocasionais de um namoro adulto. Não é que possíveis parceiros tenham dito que não merecem existir, apenas estão ocupados. Essas pessoas não os detestam, mas casaram ​​com outra pessoa,  simplesmente acontece. Eles não são estranhos, é apenas injusto e avassalador pedir a alguém que você conhece há 12 horas para compensar uma vida inteira de solidão. 

Precisam ver que essa não é a primeira vez que estão “namorando”. Já fizeram isso há muito tempo e as maneiras pelas quais deu muito errado detêm a chave para seus erros adultos: sua intensidade, frieza ou falta de julgamento. A catástrofe que temem que aconteça, já aconteceu. Os desafios que estabelecem para si mesmos, são tentativas de voltar a entrar em contato com um trauma que não entendem nem enterraram. 

Com o tempo, podem aprender a convidar as pessoas para um encontro porque entendem que não estão perguntando o que acham que estão perguntando: “eu mereço existir?” Não estão perguntando algo tão inocente e tão passível de sobrevivência se a resposta for negativa. Estão, na realidade, perguntando: “você estará livre na sexta-feira?”

E podem sobreviver porque, embora um dia tenham sido terrivelmente feridos na infância, agora são uma das coisas mais resistentes que existe: um adulto. Então, têm muitas outras opções. Eles não vão, como temiam morrer de solidão, se não funcionar, podem levar seu tempo, podem permitir que as coisas surjam, pode tolerar a ambiguidade e com tanta segurança em mente, podem começar a fazer coisas importantes, sem arriscar sua sanidade, tentando saber se alguém de quem gostam pode, afinal, querer sair hoje à noite.


 

Esse texto que traduzi de maneira adaptada do vídeo "Dating when you've had a bad childhood" do School of Life no Youtube, me fez pensar sobre todas as situações que vivemos na infância que nos levam aos relacionamentos doentes que temos hoje. 

A criança que fomos recebeu todo amor e acolhimento que gostaria de ter recebido?

Quando nascemos, qual era a realidade prática e emocional da nossa mãe? E do nosso pai? Eles estavam felizes? Preocupados? Tiveram que deixar-nos em casa para poder trabalhar? Para cuidar de outro irmão? Estavam em casa, mas indisponíveis emocionalmente? De luto? Quem sabe, com depressão, ou tristeza?

É preciso ter coragem para reconhecer que talvez nossas criancinhas tenham tido percepções que nunca nos deixaram, e influenciam profundamente nossas relações, hoje. Podemos, já adultos, ressignificar essas percepções... Explicar a elas sobre o grande gesto de amor que tiveram mamãe e papai, e que a vida foi como foi, e de qualquer forma chegou até aqui, e está tudo bem. Podemos abraçá-las e mostrar a elas um mundo que somos capazes de enxergar agora.

Espero que essas palavras inspirem esta comunidade, como me inspiraram. 

Beijo e Paz.

 


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