Ela estava na estação à espera do trem.
Na mala nada além de uma bíblia, queijo e um batom. A bíblia quem lhe deu foi o pai, o batom, a mãe, e o queijo... Ah, essa é outra história. Encostada num umbral da janela, as árvores e o céu corriam velozes e ela sentia o vento atravessar seus cabelos, quase levando com ele o laço de fita amarela. Pensou com os seus botões: - Por que estariam com tanta pressa?
Vozes de crianças entravam para dentro da janela: - Olha o biscoito de polvilho! Olha a cocada!... Sua boca encheu d'água.
O trem parou, era a primeira estação.
Vou comprar um biscoito desses para me distrair. As mãos pequenas daquele garoto com olhos preto gigantes e brilhantes, harmonizaram com o sorriso de alegria, ao receber a nota de dois reais. Me dá mais um. Pediu e ficou surpresa depois, ao lembrar que esse pedido era para ver de novo aquele sorriso de criança. Comia e se deliciava com o som do biscoito em sua boca, era bom! Distraía olhando as pessoas que iam e vinham: umas, se despediam de suas famílias, outras solitárias com a suas bagagens e, ao longe, um casal de velhinhos chorava, se despedindo das crianças. Devem ser os netos, pensou.
As vozes das pessoas indo e vindo, se misturavam ao barulho do apito do trem, do biscoito e do grito dos meninos e meninas: - Olhem o biscoito! Olhem a cocada!
O chinelo, preso com um pedaço de arame, daquele moço que ficou para trás, sentado no banco, lembrava Diquinha, que se despediu colocando a água para ferver, no fogão à lenha, para fazer o café. Foi Diquinha quem lhe deu o queijo. - Vou sentir saudades dela.
Limpou o vestido dos farelos do biscoito, deu tchau para os meninos, sentou no banco e continuou olhando a janela. O trem apitou e partiu.
Ela fechou os olhos e uma nuvem de imagens surgiu no céu da sua cabeça.