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Origens

Origens
MAICON DE FARIAS VALSECHI
out. 26 - 5 min de leitura
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Escrever a respeito da origem de vida dos meus pais a princípio me pareceria algo fácil há anos atrás, contudo com o amadurecimento que a vida gradualmente vem me apresentando, as palavras antes tão fáceis de serem formuladas, com o tempo se tornaram expressões de zelo e de cuidado na forma de pensar essas duas vidas que me constituem.

O meu pai traz na sua essência a dor da ausência de conexão com os seus pais, meus avós. Na mais tenra idade ele se tornou vítima de uma criação rígida, que na agressão física encontrava a sua expressão. Apanhava pelos os seus erros, e pelos erros dos demais quatro irmãos. Vivia em uma família originada da popularmente chamada “roça”, vindo com o tempo a residir nos centros urbanos.

Aos quinze anos, durante mais uma sessão de palmadas injustas, segurou com firmeza pelo braço de sua mãe, e olhando no fundo dos seus olhos não mais permitiu a continuidade de tais agressões. Contudo, este momento representou uma ruptura que até hoje atravessa o tempo.

A dor que carregava pelo tanto que sofria, fez com que o mesmo gradativamente se afastasse também de seu pai, sendo que a convivência com ambas as referencias, pai e mãe, com o tempo se tornou mero acaso de eventos “festivos”, que duravam algumas horas e que guardavam na sua certeza o rápido fim daquele contato.

No dia de falecimento de seu pai, o meu avô, os seus olhos espelhavam a dor e arrependimento de uma história que se encerrava sem ter de fato começado nas expectativas de uma criança que queria apenas ser amado.

Não sendo mera coincidência a que vida de meu pai se refletiu em altos e baixos, garantindo a sua estabilidade quando passou a se limitar a ter uma vida mais simples e continua, sem crenças e nem demonstração de afetos, levando as questões mais complexas ao centro de piadas que acobertavam dores profundas, garantindo assim não vasculhar do fundo do baú o resgate das questões familiares que ainda o machucam.

A minha mãe por seu turno, é o reflexo da boa filha. Desde a mais tenra idade teve de seus pais exemplos de amor e aconchego, trazendo na sua essência e com muito amor o mais amplo respeito às leis sistêmicas que nem conhecia dentro de um aspecto conceitual terapêutico. Sim, cumpria as leis sistêmicas simplesmente por ser parte da sua vida, por ser inerente ao exemplo que via em casa.

Já na sua infância teve que rapidamente amadurecer por ver uma de suas irmãs quase deixar a vida em face de uma doença. Naquela época o tratamento de sua irmã foi realizado em São Paulo, onde a minha tia e madrinha foi acompanhada dos meus avós, quando a minha mãe ficou assim residindo por mais de um mês na casa de uma tia. Essa tia por não concordar com a necessidade que se imponha, tratava a minha mãe como “a filha da empregada”, residindo em um quarto isolado da casa, sem receber os cuidados que os demais familiares recebiam.

Com o passar dos anos a minha madrinha conseguiu restabelecer parte de sua saúde, e a vida continuou. A vida da minha mãe era gostosa, leve, de muita comida e afetividade. Certo dia conheceu o meu pai e dali iniciou uma união, e uma nova família.

Lembro ainda quando a minha mãe relatou o quanto foi difícil os primeiros meses de convívio com o meu pai dentro da mesma casa, haja vista as suas dificuldades de interação e afetividade.

Assim, logo que os meus pais mudaram para a sua casa própria construída com muito esforço eu vim ao mundo.

Naquela época a casa não tinha muitos cômodos, sendo que quando da finalização da casa o meu pai havia sido demitido, e a partir deste fato me vem à memória um continuo e infinito processo de obras dentro de casa. Cada obra acontecia com o objetivo de finalizar a casa, contudo acontecia apenas quando havia alguma reserva de dinheiro, sendo que as referidas obras que com o tempo se tornavam reformas se estenderam por aproximadamente 20 anos.

Os meus pais sempre se expressaram com sobriedade e em alguns momentos com afetividades.

As festas de aniversário eram garantidas anualmente, sendo os poucos momentos de festividade e utilização do dinheiro para o lazer, contudo a formação educacional era garantida como prioridade.

Com dez anos recebi a sorte de ter uma irmã para dividir a vida e as complexidades familiares.

Ao me defrontar com as questões sistêmicas, fui percebendo que as diversas dificuldades que eu carregava estavam conectadas principalmente com a história de vida do meu pai.

Contudo, gradativamente fui e venho me libertando de tais emaranhamentos. Olhando com amor e compreensão a minha história e a história dele, de como ela foi e como ela é.

Buscando nesta postura a aceitação da minha própria história, tendo por objetivo conhecer até onde o meu inconsciente construiu limites, para daí sim confrontá-los e superá-los.

 

#modulo3


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