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Pais Especiais

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OLINDA GUEDES
jun. 18 - 5 min de leitura
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"Eu simplesmente queria ser mãe.  Queria totalmente, desde criança. Nem pensava que meus filhos chegariam por via adotiva.

Quando soube que havia uma bebê que precisava ser cuidada, ter um lar, uma família, porque se acolhida fosse, poderia realmente vir a falecer devido sua fragilidade, eu me dispus. Porque sempre considerei que um adulto funcional deve ser capaz de cuidar de outro, seja filho ou não. É um dever espiritual e humano que temos.

Também refleti sobre minha capacidade de ajudar, porque se ajudava animais, plantas e outros seres humanos, de minha família, ou não, porque não haveria de cuidar desta criança?  

Foi isso, num primeiro momento. Porque não havia caído a ficha que era minha filha chegando. Eu pensei de modo muito racional e prático. Tem alguém que precisa de cuidados, eu devo cuidar. Sou adulta e devo ser capaz disso.

Bem, eu soube de minha filha na quinta-feira, 16 de junho de 2016, quando foi no dia 19 de junho, domingo, já estava com ela nos braços. Até completar os trâmites documentais, esperamos até o dia sete de julho.  Não tive dúvidas, tive certeza o tempo todo. Foi muito cansativo, idas e vindas para Alagoas, judiciário, enfim.   A genitora havia feito entrega espontânea, mas apesar do hospital ter avisado o  Conselho Tutelar, este não se portou de forma devida, não registrou a bebê, enfim.. coisas que acontecem.    Por outro lado, foi tudo uma correria grande para providenciar continuidade de tratamento médico especializado para ela em Curitiba.

As dificuldades foram todas. Eu nunca tinha sido mãe. Ela havia ficado mais de 90 dias na UTI. Uma gestação com restrição alimentar, com negligência médica... ela nasceu com 24 semanas , 600 g.  Ela chorava o tempo todo... era tão triste. Eu a tomava nos braços, cuidava, zelava. Não havia o que funcionava. Depois de três meses em nossa casa, foi diminuindo aquele sofrimento. Mas, vieram outros: a válvula da hidrocefalia não funcionava, precisou ir para outra cirurgia, urgente, imediatamente.  

Nesta altura ela já havia começado a fisioterapia e a psicomotricidade aquática.

Quando a tomei nos braços, no domingo à noite, 19 de junho. Jamais esquecerei. Neste momento, minha filha nasceu para mim. Caiu a ficha. Era minha filha. Não era uma pessoa que ira cuidar. Era mais que tudo.  Minhas pernas ficaram moles. Foi lindo. Também quando a genitora fez  a entrega simbólica dela para mim na UTI neonatal. Eu e a genitora choramos. Foi lindo. Um ato de amor, confiança e reverência. Os médicos afirmam que ela jamais sobreviveria se ficasse no sertão. Foi o que salvou a vida dela, vir para onde haviam recursos. 

Eu diria a todos os pretendentes com perfil especial que:
- Filhos exigem de nós, cada um tem suas singularidades.
- Todos os filhos precisam ser assistidos.
- Filhos especiais precisam ser assistidos de forma especial.
- Prepare-se para fazer das tripas o coração: seja guerreiro por eles. 
- Pesquise tudo sobre a situação deles, os diagnósticos. Tenha especialistas, médicos, parceiros. Seja você o fiel aliado deles e de seu filho. 
- Nunca conforme-se com os prognósticos. Pergunte-se sempre: o que mais eu posso fazer para meu filho viver seu pleno potencial.
- Pergunte-se também e seja muito rigoroso: tem algo que estou deixando de fazer para meu filho se desenvolver?
- Não deixe nenhum estímulo, nada para depois. O tempo é precioso para tudo , nesta situação ainda mais.
- Não confie em qualquer profissional, simplesmente um fisioterapeuta, um neuro, um TO.   Confie em quem seu melhor médico indicar. Se necessário , faça empréstimos, rifas, o que for, mas não dê ao seu filho o que o convênio propõe ou o que o SUS oferece. 
- O filho é nosso. Ninguém deve lutar mais por ele do que nós para que ele, quem sabe ,possa viver sem nós.
- Tenha sempre ao menos uma pessoa, que você sabe , que poderá assumir no caso de sua falta. Todos podemos morrer a qualquer momento, antes mesmo deles serem adultos e quem sabe, terem autonomia.
- Celebre a vida. É assim mesmo: dá tristeza de ver que a mãozinha não está se desenvolvendo igualmente, a marcha é diferente. Já tem três anos e ainda não caminha sem apoio.  Mas, também dá alegria: fala, organiza frases, sorri, brinca. É lindo.  É a vida.   
- A vida não corresponde às nossas expectativas, nem nossos filhos. Por vezes, temos surpresas ruins outras vezes, surpresas maravilhosas. Milagres acontecem, confie neles.
- Cada um é o que é. Respeite a singularidade de cada filho."

Olinda Guedes, mãe de Nina Maria e de outros cinco meninos e mais duas princesas. Psicóloga, professora, autora.    Mãe solo. Divorciada e solteira desde 2015.  50 anos em 2019.

 

Texto publicado no facebook   

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