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Para não dizer que não falei das flores

Para não dizer que não falei das flores
Simone Belkis
ago. 10 - 3 min de leitura
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Eu estava aqui pensando o quando me é agradável lembrar de momentos e pessoas que me fazem bem, principalmente, em tempos de pandemia. É sempre válido em horas difíceis recorrer a boas lembranças. E, então, veio-me a ideia de que muitos de nós não costumamos dizer aos nossos entes queridos o quanto eles são especiais e importantes, até porque às vezes, tomamos isso como certo e deixamos passar as oportunidades.

Outras tantas vezes, deixamos de dizer porque nos sentiríamos vulneráveis, acreditando que essas pessoas poderiam tirar "proveito dessas fraquezas". Bem, há uma série de "bons" motivos para não nos confessar sensibilizados por nossos afetos.

Usei como título a música de Geraldo Vandré, justamente porque quero fazer o contrário. Porque quero dizer ao mundo o quando é possível se sentir feliz em poder dizer aos que amamos o quanto são importantes e como nos faz bem poder contar o quanto eles são capazes, de com sua simples presença, mudar a nossa história. 

Mas, também vale lembrar que não falar "dessas flores" carrega em si o medo da decepção, da carência ou o medo de ficar refém. E isso sim é algo muito triste. Guardar no peito, trancar na garganta os nossos melhores sentimentos porque a vulnerabilidade nos arrasa é uma das maiores dores da humanidade hoje. Porque o amor é coisa que se diga, sim. E não só nas canções, nos momentos mais íntimos, ou nas primeiras horas de uma conquista. Amor é coisa que se diga nas horas difíceis, nos duros momentos em que o outro precisa demais de nós, por estar errando, por estar sofrendo, por estar vulnerável.

A ideia aqui não é preencher buracos, porque sim, às vezes é o nosso ego que precisa de uma palavrinha de "incentivo". Mas, não é disso que falo aqui.

Sim, eu sei que deveria dar um espacinho para o ego esclarecer suas necessidades. É muito agradável para inflar-nos, ouvir elogios, ouvir o quando somos generosos, o quanto alguém pode ser agradecido pelo simples fato de nos dignarmos a olhar em seus olhos ou dirigirmos-lhe uma mera palavrinha. Mas, isso é consolo, é tapar buraco, é tentativa de compensação.

Pode ser difícil distinguir entre um momento e o outro. Como saber se não estou comprando ou sendo comprado com o carinho e atenção que dou ou recebo? Como saber que eu mesmo não estou cheio de segundas intenções quando me mostro sensível? Se não tivermos conhecimento de nós mesmos, quando estivermos inconscientes de nossas próprias necessidades será difícil saber.

O que podemos fazer diante desse pequeno dilema? Ou digo que gosto e corro o risco de ser rejeitado, ridicularizado ou manipulado. Ou simplesmente, abro-me por saber que a vulnerabilidade me faz maior quando compreendo que preciso estar aberto para receber o bem que virá como reflexo do bem que tenho em mim?

Essa é a resposta do dilema, ame-se primeiro. Quem tem amor-próprio nunca corre o risco de ser destruído quando expõe sua vulnerabilidade e não deixa de dizer o que sente.


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