Nos meus tempos de criança a história que eu lia era a do Patinho Feio que tratava do nascimento de um "patinho diferente" no meio de outros patos, neste ambiente ele experimenta o que é estar só, sem amor dos pais e dos irmãos e que, depois de ser rejeitado, vagueia triste e desconsolado e encontra outros iguais que são cisnes e o recebem na família.
Com relação a essa fábula, penso que ela representa a dinâmica da minha família com rejeição e abandono em que os diferentes são rechaçados e colocados de escanteio do grupo. Sempre me perguntava como uma família poderia agir assim com um pequenino.
Como poderiam não perceber a maldade que estavam cometendo?
Realmente não são só fábulas, mas também histórias reais de crianças invisíveis que sentem em tenra idade a dor do vínculo de amor interrompido, sendo órfãos reais ou funcionais.
No meu caso fui dada a adoção para uma outra família, mas ambas carregam em si condições similares de abandono e exclusão. Meu sentimento interno era de que eu não fazia parte.
Contudo, a vida me presentou com a possibilidade de ser Conselheira Tutelar e lá realmente aprendi a proteger, a cuidar e zelar, tomei conhecimento do que era violação de direitos. Dei voz, identidade e carinho a minha criança interior ferida nesse processo, por meio de várias outras crianças que, como eu, buscavam proteção, segurança e amor.
Hoje trabalho orientando crianças, jovens e pais sobre a importância do vínculo saudável e respeitoso para que existam muitas histórias de patinhos lindos e que, ressignificadas as diferenças, todos se sintam pertencentes, bem recebidos como bênçãos, com muito amor e cura.