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PERDER UM ENTE QUERIDO

PERDER UM ENTE QUERIDO
Edir Salete Dallabarba
jan. 18 - 3 min de leitura
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Carpinejar é mesmo um poeta.

Neste texto ele responde a pergunta de uma leitora que falou sobre a dificuldade de aceitar a perda de um ente querido. Quando li o texto me emocionei, pois vivo o luto da morte da mamãe. O texto é simplesmente lindo!

Perder um ente querido é o equivalente a deixá-lo na montanha, próximo dos céus e dos pássaros. Com o vento batendo tão forte, pelos lados, que forçamos o peso das pernas para não ir junto. A despedida não é olhar para trás, mas para baixo depois de exaustiva escalada. É sentir a vertigem de tudo o que foi percorrido com alguém.

É encarar o desfiladeiro verde, o rio esfumaçado, o fosso de pedras e não entender como se chegou até ali.

Não é para entender mesmo, porque, quando acompanhada, o caminho passava rápido. O desamparo virá ao fazer a volta sozinha. A tristeza virá ao descer sozinha um percurso que foi palmilhado a dois. As lágrimas virão no momento em que as palavras secarem.

Na hora do desenlace, há somente gratidão.

Você não pretende tocar em nenhuma ferida, passar a limpo alguma mágoa, trazer à baila um assunto delicado que exija grandes explicações, gastar as forças indevidamente.

Economiza a voz para dar o exemplo, por respeito à fragilidade da pessoa em sua frente, permitindo o corpo falar em seu lugar. O desfecho é elegante e educado, cheio de mesuras e cuidados. Ambos cansados demais para mudar algo. O silêncio do adeus é o mesmo silêncio da montanha. Um silêncio com altura. Um silêncio com eco.

Você fica quieto para apanhar o último suspiro no ar.

A atenção do fim é extrema, canina, capaz de perceber uma agulha tombando ao chão.

Escuta todo movimento como se fosse o derradeiro. Escuta as mãos se abrindo, a saliva engolida da garganta, as pálpebras se fechando. Mesmo estando presente, não quer chegar atrasado na morte do outro. É um corte do tempo em sua história, que não será mais como antes. Assim como a cena será singular e insubstituível, jamais voltará ao topo de novo.

Ao longo da vida, continuará mirando de longe a montanha, procurando a sua localização pela janela, entre as tarefas corriqueiras e as urgências da rotina. Ela vai se transformar em referência geográfica do seu espírito, em seu norte, em seu sol, em sua lua, no ponto mais alto de sua existência. Em qualquer lugar que estiver, verá a montanha, sabendo que a conhece, sabendo que a amou, sabendo do seu encontro com o mais terrível medo.

Na verdade, a montanha é que enxergará você para sempre.

Abraço,

Fabrício Carpinejar

 


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