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PESQUISA REALIZADA COM UM MISSIONÁRIO QUE TRABALHOU NA ÁFRICA

PESQUISA REALIZADA COM UM MISSIONÁRIO QUE TRABALHOU NA ÁFRICA
Marisane dos santos
out. 20 - 11 min de leitura
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Missão na  África

As constelações familiares cada vez mais deixam de ser um método eficaz de trabalho e cura: elas estão se tornando uma nova visão de mundo, um novo estilo de vida.

Para agregarmos mais conhecimento sobre nós mesmo e nossos antepassados, necessitamos pesquisar nossas raízes e compreender um pouco melhor sobre nossa história e a origem do nosso povo que faz parte do nosso país. Conhecer uma cultura diferente torna-se muitas vezes essencial para compreender nosso passado e o nosso presente.

Com um mundo tão globalizado, desenvolvido tecnologicamente e muitos processos evolutivos em diversos campos científicos, as vezes não temos conhecimento de certos povos que tem sua história marcada por campos de dor e ainda vivem em condições precárias sem o mínimo necessário para sobreviver.

Ao participar da aula do dia 06-10-2020 me fez recordar de muitas histórias sobre um povo na África, essas  lembranças me instigaram a pesquisar e entrevistar o Tarcísio, que desenvolveu um trabalho voluntário com um povo Africano. 

Abaixo segue alguns questionamentos sobre o trabalho Desenvolvido pelo advogado Tarcísio Edmundo Hanauer, residente em Guaraciaba, Santa Catarina.

Como diz a professora Olinda, falar é fácil, qualquer um fala, mas meter a mão na massa e ir lá fazer a diferença para alguém isso é raro.

1 - Qual é o povo que você conheceu e  trabalhou na África?

Conheci e povo Macua de Moçambique, África. Trabalhei na província (estado) de Nampula, no vilarejo de Chalaua, norte de Moçambique (Macua é uma tribo. O povo de Moçambique se subdivide em 11 tribos).

2 - O povo Macua, na época da escravidão, alguns vieram para o Brasil, se vieram como chegaram?

Sim, vieram milhares de homens (mulheres, poucas). Lá fui visitar o “forte”, local onde prendiam os negros para embarcar para a América, especialmente para o Brasil).

Os homens, jovens, fortes eram caçados e presos para venda como escravos. Muitos deles porque tinham dividas com os portugueses, outros a própria família vendia para conseguir algum dinheiro para o sustento da família, outros simplesmente porque era uma grande fonte de renda para os exploradores portugueses.

No forte eles eram embarcados em navios – alguns navios tinham até 6 mil homens – com destino o Brasil. Em muitas viagens todos, ou quase todos, os negros morriam por falta de higiene e peste. Pelos relatos deles, poucos homens (quase ninguém) que vieram para o Brasil retornaram a Moçambique

3 - Hoje em dia como vivem as pessoas daquele local, cultura,religião, crenças, alimentação.

Norte de Moçambique é uma terra com pouca chuva, chove nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Em decorrência disso, há dificuldades de água para o consumo humano, produção de alimentos e higiene. Essa realidade do clima resulta em muita fome, sede e doenças.

A cultura do povo do norte de Moçambique é muito primitiva, não há a visão moderna da pessoa, família, sociedade, progresso, ciência, educação. Uma cultura totalmente machista. A religião no povoado de Chalua, aonde estive, apenas 50% da população professa uma religião. Dos que professam uma religião, em torno de 40 % são cristãos, 20% são muçulmanos, os demais seguem a religião “tradicional”.

A grande dificuldade para o desenvolvimento, aliado a situação climática, são as crenças. Mesmo os que professam fé em um Deus criador e todo poderoso creem no poder do fantasma e feiticeiro. Para a maioria o feiticeiro tem mais poder do que o Deus cristã ou muçulmano. Como não há conhecimento científico, educação, as experiências dos antepassados, histórias e mentiras contadas dão o norte da vida e cultura deles.

A alimentação para a grande maioria da população é a mandioca crua e/ou seca. Outros alimentos vegetais são muito raros; alguns colhem amendoim, gergelim, feijão, ervilha. Mas a produção desses alimentos é difícil por falta de água. Proteínas animais quase não há. A falta de água faz com que não se crie animais. Pequenos animais, como ratos, insetos (como moscas), rugas são consumidos como fonte de proteína.

 4- Como são as relações familiares  entre eles ? As casas são divididas?

A fé muçulmana foi que predominou em todos os tempos do passado. Mesmo com a chegada da fé cristã, a cultura muçulmana continua muito forte nas famílias. Isso faz com que é normal os homens terem mais do que uma mulher.

Na grande maioria da sociedade, o casamento é para realizar o homem (varão), quanto mais mulheres puder ter, maior as mordomias que pode desfrutar. As mulheres são as responsáveis pelo trabalho na produção de alimentos e o sustento da família. O homem, geralmente, somente se preocupa com a caça (essa cultura vem da época em que os portugueses caçavam os homens para vender como escravos na América).

Para não ir para a América como escravo, o homem fugia para o mato, permanecia durante o dia lá e caçava animais para levar para casa e a mulher trabalhava na roça para produzir alimentos).

Para eles trocar de mulher ou de homem é muito tranquilo, simplesmente abandona a mulher ou o homem e os filhos e vai morar com outro e começa uma nova família.

A educação dos filhos não é função dos pais e sim dos tios paternos. Normalmente quando o pai falece os filhos não permanecem com a mãe e sim com um tio paterno.

Como também, quando o homem falece os bens da família não ficam com a viúva e os filhos, mas sim com os irmãos do falecido e a mulher é devolvida para os pais dela (isso na cultura e prática deles, mas a lei civil é muito parecida com a nossa, só não é posta em prática nas aldeias).

O casamento das meninas acontece, na maioria das vezes, aos 09 ou 10 anos de idade e muitas delas já têm o primeiro filho nessa idade (em nível de país, está se fazendo conscientização para mudar essa prática). Não há na família uma demonstração de afeto e carinho como na nossa cultura.

A casa deles, na maioria das vezes, é feita de varas e palha. Fazem um telhado de palhas e rodeias com palhas. Não tem divisórias.

Dentro da casa não tem fogão, cadeiras, mesa, cama, armários. A casa, nas aldeias, é um espaço para dormir e se abrigar quando fica mais frio e chove.

Quando não é frio e não chove, normalmente dormem de baixo das árvores.

Tanto dentro da casa como debaixo das árvores, eles não dormem em cama e sim no chão, sem colchão. Alguns usam esteira de palha.

 5- O que você aprendeu com eles? O que você ensinou para eles?

Creio que podemos chamar esse processo de trocas de experiências. As experiências deles numa realidade que traz na história a exploração de outros povos - foram por centenas de anos “fornecedores”, contra a vontade, de homens para o trabalho escravo para enriquecer nações opressoras, produziam riquezas para os estrangeiros -; com a natureza de clima seco falta de água, aprendeu a sobreviver a partir do sofrimento e no sofrimento.

Aprenderam a viver com pouco.

A nossa experiência numa realidade de fartura e liberdade trouxe-nos a cultura do consumo e exploração, do moderno, da ciência, do descartável. Isso revela que ambas as realidades e culturas devem buscar mudanças para a realização do ser humano.

6 - Você percebeu evolução aprendizagem naquele povo, com o seu trabalho?

Minha primeira experiência com o povo de Moçambique foi em 2010, a segunda em 2014 e a terceira em 2018.

Em 2010 a realidade deles era de um sofrimento muito maior, praticamente andavam nus e comia terra e vegetação seca. Foi-lhes orientado a melhorar a qualidade de alimentos e água, apesar das dificuldades do clima. Produzir mais alimentos e mais diversidades de alimentos, observando o período do ano que chove para semear as sementes.

Orientados a armazenar as colheitas de maneira que possa se conservar para mais tempo em bom estado para consumo. Orientados a proteger as pequenas fontes de água, cercando para não ter acesso o lixo, animais. A cavar poços para conseguir água mais perto de casa; orientados a cuidar a saúde, com melhores alimentos (a maioria comia só mandioca), cuidados com a higiene; deixar o consumo do álcool (algumas aldeias mais de 90 % das pessoas eram alcoólatras).

Em 2014, a realidade já era bem diferente.

Em 2018, a realidade deles já estava próxima a humana. A evolução foi grande. A experiência mostrou que eles são muito dependentes de comandos de outros (vem da cultura escrava que foram submetidos por centenas de anos), no entanto, se orientados, sem a intenção de explorá-los, assimilam muito bem que são capazes de melhorar e que é possível melhorar.

O aprendizado deles é maior vendo alguém fazer com eles, do que simplesmente ouvir as orientações (eles têm uma dificuldade muito grande em compreender algo simplesmente ouvindo alguém falar, necessitam ver).

A evolução deles, com o trabalho feito com eles, foi muito grande

7- Você acredita que aquele povo vive bem ou feliz?

Acredito que eles não vivem bem, pois falta o essencial para viver: água e alimento. Por consequência, falta saúde.

No tocante à felicidade, eles têm momentos com felicidade mais profunda e intensa do que nós. Eles não necessitam turbinar a alegria com consumo de algo que dá prazer (bebidas, comidas, bens).

Basta não ter dor, demonstram alegria.

 8 - O  que mais lhe chamou atenção na sua experiência com esse povo?

A cultura de partilha. Se um tem, os que estão próximos também tem. Se um tem fome, o outro também tem fome. Mesmo que o que a pessoa tem não seja o suficiente para matar a fome dela, ela partilha com o outro. A fraternidade é um ponto forte daquele povo.

Tarcísio Edmundo Hanauer  relata sua experiência sobre sua vivência, que com certeza deve ter muito aprendizado com esse trabalho. Através de um olhar  sistêmico poderemos  ter uma compreensão mais profunda sobre a maneira de viver desses  povos, sem julgamentos e sem nos sentirmos superiores a eles.

Deixo para professora o final deste trabalho para que possa contribuir muito mais com nossas aprendizagens.

Cordialmente, Marisane.

 

   
                      


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