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Prêmio Nobel de amor e de paz...

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Denize Terezinha Teis
set. 5 - 6 min de leitura
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Há alguns dias, ministrei um curso sobre metodologia de ensino, para professores municipais. Um curso no qual todos são professores, dificilmente acontece sem que ocorra, por alguns momentos, a partilha de experiências de nossa vivência como docentes. São minutos de desabafo em que nos sentimos apoiados e fortalecidos como professores. É um momento, talvez, equivalente a ir a um psicólogo, mas no caso, o grupo é o terapeuta da pessoa que relata sobre si e sobre a sua prática... Nesses momentos, falamos de nossos desafios na escola pública, das nossas dores, das nossas alegrias, das nossas vitórias com os alunos, dos altos e baixos da profissão... ao final de tudo, percebemos que não estamos sozinhos e que podemos nos amparar e nos apoiar na solidariedade e na experiência um do outro.

Eu costumo dizer que tive o privilégio de iniciar minha história, no magistério, como professora das séries iniciais do ensino fundamental (crianças de 5 a 10 anos, em geral). Depois estive nas séries finais do ensino fundamental e ensino médio. Hoje, atuo no ensino superior de uma universidade federal e os meus desafios são, evidentemente, muito diferentes dos vividos pelos docentes que trabalham com as crianças e com os adolescentes. Por isso, usufruo sempre de cada oportunidade que surge para poder estar com os professores da educação básica e poder, com eles, aprender e refletir sobre a educação. Conviver com esses professores, como colega de classe ou como amiga de alguns, é, para mim, um verdadeiro presente.

Enfim, que do curso que lhes informo no início desse texto, saí emocionada com os relatos de duas professoras que narraram sobre o modo como a escola – localizada na periferia – e seus docentes lidam com assuntos sociais sérios e como se colocam, nesses casos, a serviço das famílias e da vida.

Um dos relatos dizia respeito a duas irmãs, uma de seis e outra de oito anos, cujo pai está preso e a mãe mora na rua, convivendo com o consumo e a venda de drogas. As meninas tinham se ausentado da escola por um período de mais de 15 dias. Devido à fome, voltaram a procurar a escola. Nesse tempo, não haviam tomado banho e estavam, visivelmente, subnutridas por não terem se alimentado adequadamente. Quando chegaram à escola, ficaram com medo de entrar e ficaram paradas diante do prédio escolar. Então, as professoras foram ao seu encontro e as levaram para o interior da escola, para alimentá-las e para cuidar de sua higiene.

O modo como as professoras relataram esse episódio demonstrou o quanto, amorosamente, ampararam as meninas e ficaram felizes com o seu retorno. Foi como “a volta do filho pródigo”. Eu pude constatar isso não apenas na amorosidade das palavras usadas durante o relato, mas, sobretudo, no timbre da voz, na vibração do corpo, na franqueza do olhar. As meninas foram abraçadas e tranquilizadas, pois estavam muito preocupadas com a mãe que estava na rua. A escola acionou a assistência social, que procurou a avó materna para que pudesse amparar as netas... Hoje, elas voltaram a frequentar a escola, são cuidadas pela avó e contam com o apoio dos seus professores.

Coincidentemente, na mesma semana desse encontro no curso, participei de um estudo bíblico para catequistas, e a preocupação dos participantes desse encontro era como ser uma “pessoa generosa à semelhança da samaritana que deu água para Jesus”. Contei a elas essa bonita história e observei sobre como podemos encontrar, no Brasil e no mundo, bons e boas samaritanas no papel de professores das escolas públicas das periferias.

Eu que já atuei como professora nesses contextos, já pude testemunhar o que vários bons professores das escolas públicas fazem. Por isso, me aborreço quando constato que, dentre tantas coisas que podem ser ditas sobre os professores, apenas os seus erros são enfatizados.  

Já testemunhei tantas coisas lindas dignas de “prêmio nobel de amor e da paz”... Eu, em específico, talvez não tenha sido a melhor das professoras das séries iniciais do ensino fundamental, mas já vibrei com aluno, já chorei por aluno, já chorei com aluno e perdi noites pensando em aluno... Talvez, alguém com conhecimento aprofundado em pedagogia sistêmica, diga que isso é “uma infração da lei da ordem”, de Bert Hellinger, porque pode parecer que eu me colocava no papel de “mãe desses alunos”...

Não importa... Se um professor consegue atravessar a linha que determina o seu papel como docente, para amar sem limites, que é o que faz uma mãe, na profundidade do significado que isso tem, então há esperanças para o futuro da educação no mundo. Eu sempre penso que fazer um professor que “se comporta como uma mãe” reassumir o seu papel como docente é muito mais fácil do que tornar um docente a pessoa que tem dificuldades de amar. E hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de pessoas dispostas a amar, com sinceridade e profundidade...

Então, quando encontro professoras como as que foram ao meu curso, eu tenho esperanças. Elas, talvez, nada ou pouco saibam sobre “postura sistêmica”, mas a exercem com maestria e habilidade. Não precisam se preocupar em agir como “a boa samaritana”, pois “a boa samaritana”, simplesmente, faz parte delas... Não há como não se emocionar ao receber esse presente tão valioso que é testemunhar a realização efetiva e prática do amor que muita gente só conhece na teoria.


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