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QUANDO SURGE UMA JANELA, APROVEITA E PEDE SOCORRO

QUANDO SURGE UMA JANELA, APROVEITA E PEDE SOCORRO
Neiva Maria de Mattos
jun. 16 - 9 min de leitura
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Ela veio pela oficina de emagrecimento. Já nos conhecíamos do mundo do trabalho, mas tudo que se via nessa mãe de família e profissional competente, era sorriso.

Uma mulher forte em todos os sentidos. Estatura e peso além da média do normal, locomove-se para o trabalho dirigindo seu próprio veículo e assume trabalhos dentro e fora dos seus horários, transparecendo segurança e decisão. Em alguns momentos a família está reunida e quase sempre as filhas estão por perto. Ninguém poderia imaginar a história de dor guardada por trás do sorriso fácil e da aparente disposição para tudo, dessa bela mulher de aproximadamente 40 anos.

Um dia, após a oficina de emagrecimento online, ela pede para ser “tratada”, ela quer além de emagrecer, livrar-se da dor insuportável da fibromialgia.

Marcamos. Ela veio rápida, pontual, disposta a dar um “novo rumo à própria vida”.

Acolhi-a com uma xícara de chá, em um espaço aberto, ambas protegidas por máscaras, álcool gel e todo o cuidado uma com a outra por causa da pandemia. Mas senti que, embora o tratamento possa ser online, esse primeiro encontro precisava ser presencial, de forma que o abraço viesse pelo olhar e pelos movimentos do corpo distanciado e ao mesmo tempo tão junto.

Pedi a ela que, enquanto tomasse o chá, contemplasse o céu aberto, a laranjeira carregada de laranjas amarelinhas que ninguém colheu, pois não há ninguém para aproveitá-las. E que enquanto isso, buscasse dentro de si, quando e como as dores chegaram em forma de fibromialgia. Nesse pouco tempo, observei-a de longe, com amor e, rezei.

Quando me sentei ao seu lado, na posição de terapeuta, mas respeitando a sua escolha de não usar a cadeira, mas o cimento frio do palco, eu fiz o mesmo e olhei-a nos olhos e ela começou a falar:

“Eu me casei muito nova. Por algum tempo, minha família veio do sul, para morar aqui, mas não ficamos muito tempo e voltamos. Mas eu havia conhecido, nesse intervalo de tempo, aquele que eu tive certeza, seria para sempre o amor da minha vida. Eu tinha dezessete anos. De volta às terras de origem, meu pai era totalmente contra esse namoro. Ele queria que eu estudasse, trabalhasse, fizesse alguma coisa, que tocasse a minha vida para frente. Mas eu não conseguia fazer nada, eu só queria voltar e ficar com o amor da minha vida. Com quem continuava namorando a distância, num tempo em que os telefonemas custavam caro, precisávamos esperar o relógio bater meia noite para falar mais e pagar menos. Assim foi até que eu completasse dezoito anos. Depois dessa maioridade, decidi fugir de casa, falei com a minha mãe e ela disse que, se era a minha felicidade, eu fizesse. Ela conhecia o jeito autoritário do meu pai. Eu então, fui falar com minha avó, a quem eu era muito apegada, era tudo para mim. Perguntei a ela, se um dia eu resolvesse ir embora, se ela gostaria de ficar sabendo antes, ela respondeu que não. Então beijei-a e saí...”

Nesse momento ela precisou da caixinha de lenço que deixei ao alcance das mãos, como recomenda a mestra Olinda Guedes. Pois a emoção escapou pelos olhos. Aguardei pacientemente, sem interromper, mas participando com o aceno de cabeça, com os olhos e dizendo apenas: entendo.

Quando voltou a falar, contou:

“Ele havia dito para mim que podia vir, que os pais dele estavam dispostos a me receber, e só algum tempo depois percebi que a mãe dele, na verdade, não sabia que eu havia vindo para ficar. Ela pensava que era só um passeio, uma visita. E não foi tão acolhedora como ele havia dito. Sofri um bocado, mas não tinha coragem e nem condições de voltar e enfrentar meu pai. As dores começaram a aparecer e eu com o tempo, desconfiava que havia algo de emocional, mas pensava que fosse por causa da minha avó. Eu demorei muito a perceber o quanto fui manipulada. Pois, entre as quatro paredes, ele era um marido maravilhoso, e a gente era feliz. Vieram as filhas. Só agora eu percebo que, durante todo esse tempo, ele me barrou, não permitiu que eu crescesse. Toda vez que alguma coisa acontecia que eu poderia me lançar, projetar-me e me libertar desse relacionamento que hoje eu considero abusivo, ele fazia algo para me impedir. Tipo, hoje mesmo, quando eu estava saindo de casa, ele passou mal, pareceu uma queda de pressão, mas eu não cedi, entreguei a ele um bocado de azeitonas e vim. Mas foi sempre assim, sempre me impedindo de deslanchar. Tanto que eu só fiz faculdade depois dos trinta anos. Quando cheguei em um momento da minha vida e disse para mim mesma que eu tinha que fazer algo por mim, ou eu arrumaria um emprego qualquer ou iria estudar. Ele fala que vai apoiar, mas eu não sinto esse apoio. Mesmo assim, fiz ENEM e pela graça de Deus, um verdadeiro milagre, entrei na Universidade Federal. Eu ainda me vejo, caminhando para a universidade, sentindo muito medo, era noite, com vontade de voltar, de desistir, mas segui firme e assim foi do primeiro ao último dia de aula. Depois de formada, o trabalho veio logo, comecei a realizar o sonho de ter meu dinheiro, comprar para as minhas filhas o que elas precisam, e assim a vida foi se desenhando até chegar ao momento em que eu tive coragem de dizer para ele e para mim mesma, que não dava mais. O caminho é a separação. Já conversamos várias vezes, ele fala que vai mudar, mas uma semana depois volta a postura que eu não gosto. Não é agressão física, mas verbal, muitas ofensas, coisas desse tipo. Resolvi mudar para o quarto de uma das meninas, até encontrar um outro lugar para morar. Andei vendo uns condomínios, mas é tudo muito feio, em comparação com a casa confortável que elas vivem hoje. Que por sinal, não é conquista do meu marido, mas herança do meu sogro, que era para mim um pai. Sofri muito com a morte dele.

O meu marido sugeriu que eu não saia de casa, embora estejamos separados, para que as meninas não tenham que ir morar em um lugar menos confortável.

E assim vamos indo, mas eu quero me tratar... (lágrimas) hoje eu sei que essas dores são resultados de tudo que fui suportando calada, durante todos esses anos”.

Quando terminou, respirou fundo, aliviada e, então conversamos. Expliquei a ela o que eu já havia pesquisado sobre fibromialgia e como a medicina tradicional lida com analgésicos, anti-inflamatórios e antidepressivos, para ajudar o paciente a suportar a enfermidade, que eles dizem não ter cura.

Ela confirma que é exatamente isso que ela tem vivido. Que até procurou um atendimento psicológico, mas “não rolou” muito não, pois não se sente à vontade para ficar falando de sua vida com uma pessoa fria e distante.

Depois de mais de duas horas dessa “escuta amorosa”, combinamos uma agenda de atendimento, (sem abandonar o tratamento médico), que inclui meditação, movimentos da técnica de renascimento e constelação na água... Quando sentir que ela estiver preparada, por enquanto ela ainda não está pronta para olhar o que a constelação pode mostrar. Tenho muita vontade de tratá-la com a massagem reparentalizadora sistêmica, mas ainda temos insegurança em relação ao contato tão próximo por causa do covid-19. Acertamos também valores, embora pareça irrisório, pois conheço a dificuldade financeira da categoria profissional na qual ela atua, mas expliquei o significado do equilíbrio entre o dar e receber.

E por que estou publicando esse caso aqui?

Porque tenho certeza de que o acompanhamento com um terapeuta com experiência em Florais de Bach, faria uma grande diferença. E tenho a esperança de que esse profissional esteja aqui, e se prontifique a atendê-la sem remuneração, e o equilíbrio fica por conta de ter que procurar por aqui o local e a forma de adquirir as gotinhas. E eu sei que ela vai conseguir e curar-se.

Desde já, gratidão!!! Gratidão!!!

 

 


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