É SÓ NO APARENTE QUE ESTAMOS SOZINHOS (Susy Guedes)
Que frase inspirada. Que belíssima síntese!
O mundo moderno atesta o esforço das ciências do conhecimento em atender grande parte das necessidades humanas. Sendo inegável conquista do homem, o qual se empenhou em buscar soluções para os seus problemas, em criar facilidades para que a sua vida pudesse se desenvolver plenamente.
Paradoxalmente, a mesma humanidade que criou e desfruta de grande conforto material e tecnológico, carece de compaixão e de amor, conforme destaca Olinda Guedes na Aula 11 do Bônus VIII – Constelações na Água, de 18/6/2020, da plataforma Saberes Sistêmicos.
A aspiração natural de ser feliz faz com que o homem coloque a sua criatividade a serviço disto, entretanto, ele não percebe que tal estado de alma não pode ser alcançado apenas pela via do gozo material, porque, em verdade, guarda relação com o transcendente e o imaterial.
Embora ainda não tenha entendido isto, a sua essência divina aspira pertencer à grande família - a Grande Alma, como Bert Hellinger a chamou - e, por essa razão, sofre pelas exclusões que promove, pelos desequilíbrios que ocasiona e pelas desordens que realiza, conscientemente ou não.
Daí a sua rotineira infelicidade, a qual nenhum prazer físico ou material pode amenizar. Daí a dor e o sofrimento pungente que o acompanha insistentemente.
Buscar a felicidade foi, segundo Olinda, o seu objetivo deste muito cedo, a sua preocupação maior e incessante. Para tanto, se dedicou incansavelmente a estudar, a aprender e a buscar respostas. Respostas para as suas dúvidas sobre o porquê de haver tanto sofrimento humano e sobre qual seria a forma de atenuá-lo.
Seu esforço ensejou-lhe reconhecer que há causas legítimas e profundas que, na vida de relação, atuam sobre todos os seres. Que estabelecem destinos e que exigem ser reconhecidas e respeitadas. Causas que podem impor sofrimento e aprisionamento a destinos difíceis, mas que, uma vez honradas, geram liberdade e trazem paz; que podem transmutar sofrimento em felicidade.
A mesma felicidade que tanto fascinou a diligente estudante que, com o tempo, se fez mestra e que aceitou o encargo de promover o esclarecimento de tantos quantos também querem compreender e se libertar do jugo das dores, das enfermidades e da falta de prosperidade, que almejam reconciliação, a começar de si mesmos.
Olinda mencionou que a palavra tem poder e que aquele que está com ela o detém.
Susy Guedes, empoderada pela palavra que lhe fora conferida, discorreu então sobre a solicitude da Força Criadora (eu a chamo Deus) que é ampla e irrestrita, a qual, em favor do êxito da criação, se manifesta em perfeito regime de solidariedade entre todos os seres criados. Ninguém ficando à margem dela ou podendo dela se retirar. Ela abarca todos indistintamente.
Somente no aparente há solidão!
Somente no aparente é possível excluir e ficar indiferente a outro ser.
Somente no aparente é possível não se ter empatia nem compaixão.
Somente no aparente se é possível fugir do Sistema Humanidade e recusar-se a servi-lo.
Sob benfazeja inspiração e invocando o profeta Isaías, Susy Guedes esclareceu que, mesmo diante de um estado de indignação tão intenso que não permite ao terapeuta dar um bom lugar no coração a alguém (excluir), como, por exemplo, a um perpetrador, o concurso do Cristo de Deus, cujo amor imensurável acolhe todos, cujo extremado desvelo e humildade o fez servir à toda a humanidade, é a via de ajuda para converter rejeição em comiseração por seu infortúnio.
Tem razão, Suzy: é só no aparente que estamos sozinhos!
Absolutamente ninguém, nem mesmo aquele que comete tal infâmia - o perpetrador - está só, pois o Amor o tutela e ele não perde seu direito de pertencer à família humana, a despeito de sua insensatez. (*)
A lúcida palavra de Susy Guedes me fez pensar nas inúmeras vezes que malversei o sagrado recurso da palavra e que deixei de calar opinião sustentada na minha ignorância.
Reconheço agora que ainda não aprendi a fazer bom uso do conhecimento que já detenho e que a jornada de cura do meu corpo de dor está apenas se iniciando, faltando-me muitos e muitos trechos de caminho a serem percorridos.
Reconheço que ainda faço julgamentos, que não sei deixar-me ser tocada no coração (dar um bom lugar nele) e que a tarefa de libertar-me das minhas amarras ainda não se concluiu, exigindo de mim maior aplicação.
Em especial, reconheço que a compaixão e a empatia que tanto clamo para as minhas dificuldades e limitações, ainda não as ofereço àqueles que estão no meu entorno. Exatamente como ocorre com todas as pessoas, das quais não sou diferente.
Felizmente, como disse Susy, é só no aparente que estamos sozinhos!
Gratidão, prezada Susy Guedes, por me recordar que a Divina Providência zela por todos e por cada um de nós. Gratidão.
(*) A respeito de dar um bom lugar no coração ao perpetrador em uma sessão de constelação cujo tema guarda relação com ele, Bert Hellinger esclarece em suas obras que quando o terapeuta não consegue fazer isso, nem o representante da vítima nem os demais representantes participantes ficam bem e se estabelece uma desarmonia geral que dificulta senão impede de se encontrar imagem de solução. Sendo possível deduzir que, neste caso, o não dar ao perpetrador um bom lugar no coração, impossibilita a reconciliação que é a finalidade precípua da terapia sistêmica.
Tal informação é de natureza meramente ilustrativa e não pretende censurar nenhum terapeuta por eventualmente não conseguir deixar de julgar o perpetrador.
Como ensinou Olinda Guedes, todo terapeuta tem, também, o seu próprio corpo de dor, o qual deve ser respeitado.
A solução, neste caso, é declinar de atender quando o tema não permite ao terapeuta não julgar. O que creio digno e acertado.