Perdoar vem da palavra latina "perdonare", que significa "doar como antes". É um pouco difícil de compreender isso, pois quando acreditamos que alguém é o culpado por nosso sofrimento, o mais comum é se considerar melhor que o outro, dizer ou pensar com ares de superioridade: "Eu perdoo essa pessoa , mas nunca mais darei (meu amor, minha amizade) como antes".
Isso já aconteceu com você? Comigo sim, mas sempre podemos escolher novamente entre o medo e o amor.
Sistemicamente falando, perdoar é um dom divino e não humano. Somente o Criador tem o poder de nos acolher em Sua benevolência e Graça, sem que exista algo como merecimento ou julgamento para tanto. Nenhum ser humano pode se arvorar a condenar ou perdoar ninguém, assim como não lhe cabe julgar, quem quer que seja. Somos todos iguais em nossa essência espiritual, embora pareçamos diferentes nesse mundo físico de dualidade e diversidade.
Se almejamos atingir níveis mais elevados de consciência, é preciso arcar com as consequências dos próprios atos, reparando equívocos, assumindo a responsabilidade que nos cabe e deixando com o outro a parte que lhe corresponde. Nesse sentido, o ciclo evolutivo de inúmeras encarnações atinge o auge, quando o aprendiz se cansa de repetir os mesmos padrões sistêmicos e prontifica-se a despertar para o amor verdadeiro, despedindo conceitos como pecado, castigo e julgamento final.
Bert Hellinger, o pai das Constelações Familiares, é enfático em afirmar que é preciso equilibrar as trocas entre o dar e o receber. Explica a importância da compensação negativa. A revanche é uma substituição necessária ao perdão rancoroso, que na verdade é uma não- ação que leva ao fracasso dos relacionamentos.
Essa compensação negativa devolve ao outro a responsabilidade com todas as suas consequências pelo mal feito, lançando mão da vingança como uma "arma do bem". A pessoa ultrajada deve revidar, diz Bert, porém um pouco menos. Esta é uma solução salutar para que ambas as partes preservem sua dignidade. E estando quites, a relação pode ter um futuro.
O perdão quando concedido da boca pra fora é arrogante e perverso. É uma postura inconsciente que a vítima usará como um troféu de sua pseudo benevolência. A não ação para equiparar a relação, gerará a compensação necessária numa próxima geração, pois a consciência coletiva não tolera a exclusão de ninguém. Todos tem o mesmo direito a pertencer.
É portanto a repetição sistêmica, seja da não ação ou de um revide maior que a ofensa em nossas relações, o que perpetua os ciclos de violência e separatividade em nossas vidas.
Quem olha para o problema não segue adiante. Continua sofrendo e contando a mesma história sem acesso à solução - já que não olha para ela. Esse é um padrão que impossibilita a auto investigação como porta para a liberdade.