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Querido Papai - Um Pai que pouco falava

Querido Papai - Um Pai que pouco falava
Audrey Reis Omote Montechezi
set. 18 - 3 min de leitura
030

Meu Pai, querido Papai...
De voz silenciosa
De voz que sorria
As palavras eram poucas
Tão poucas...

Poucas broncas, poucas orientações
Poucos elogios e diálogos...
Mas nos olhos, no sorriso,
Ali estavam suas palavras
As boas e as ruins

Foi quem me ensinou que descansar é fazer tarefas alegres
Que visitar família é prazer
Prazer de estar perto, não precisa falar nada
Ou repetir mil vezes a mesma história para aquela tia que sofre de perda de memória recente e que há anos não vê mais o tempo passar...
A gente repetia, repetia e depois ria
Esse era seu jeito de amar, sem explicar!

Quantas aventuras vivemos!
Me ensinou a caminhar motivada pelo churros
Quilômetros ladeira acima e ladeira abaixo
Sem colo e sem moleza
Chão de terra, de pedra
Dizia que era pra ter pernas fortes
E me ensinou que para ter prazer é preciso lutar

Ah! Como eu amava o cheirinho do seu pão feito na frigideira de manhã!
Do miojo com molho de tomate
E de ir na padaria comprar mortadela bem cedinho

De rir com o programa de domingo
Mas acho que eu ria da sua risada!
Que falta me fez, que falta me faz...

Sinto muito por não ter te cuidado mais...
Perdi o prazer pela vida quando te perdi
Passei a sofrer o peso do sofrimento
Me impedi de viver a vida com leveza
Me puni com a frustração

Creio que julguei e culpei por te perder
A vida, Deus, minha mãe, eu...

Não há culpados! Vivemos o quê pudemos

Mas o melhor que posso hoje é agradecer!
Obrigada, por me dar a vida
Obrigada, por sobreviver em sua vida
Obrigada, por lutar e vencer as batalhas que viveu em vida, tão curta vida, mas bem vivida
Seu bem maior foi nos dar a vida!

Sete filhos!
Seis mulheres, um menino
Cinco geradas, uma adotada!
Que gesto admirável, que tanto nos ensina
Quanta dor suportou ao perder tantos filhos...
Duas perdas para as desavenças
Duas perdas para o destino
Nós três te acompanhamos na maior parte da jornada, te cuidamos como pudemos
Em vida ou na morte

No meu coração te vi ir embora frustrado
Mas hoje, quero ressignificar
Dar leveza à sua partida...
Você viveu o quê pôde, como pôde
E fez tudo, suficiente
Pra você e para nós
Tudo que deixou é suficiente

Eu tomo a vida que me deu
Agradeço, agradeço, agradeço!
Meu querido Pai, você é o grande, eu a pequena!
Por favor, me permita receber com amor seus sacrifícios, suas lutas, aprendizados e vitórias
Sinto muito por ter faltado palavras para dizer o quanto te amei e admirei
Seu neto sabe desse amor, das suas lutas e vitórias
E por tudo agradecemos, pois estamos aqui
Seus descendentes, sua linhagem, sua história!
 

Esse nissei é responsável por eu estar aqui, por ter insistido que eu deveria estudar na faculdade, mesmo sendo pobre de periferia, ir onde ele não foi, me viu começar, mas não terminar. Filho de lavrador imigrante, serviu ao exército e foi desbravar a capital. Gostava de jogar dominó e Pif Paf, sonhava em morar de novo no interior ou na praia. Teve sete filhos, cinco nos braços. Morreu jovem, sem cabelos brancos. Alguém duvida de que mesmo assim não foi feliz?


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