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QUERIDO PAPAIZINHO

QUERIDO PAPAIZINHO
Neiva Maria de Mattos
out. 13 - 7 min de leitura
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Querido papaizinho Vicente Priante,

Você é Dom.

 Dom Vicente,

Dom Priante.

Dom de amor e serviço.

Dom de Deus!

Hoje quero lhe contar uma história que você conhece, pois quem está no céu, sabe tudo. Mesmo assim faço questão de escrever, pois quando organizo as palavras no papel, elas se organizam também na minha mente e no meu coração.

Eu sei que você viu o quanto as “Irmãzinhas” sofreram quando você partiu tão prematuramente.  Institucionalmente nós éramos crianças, quase bebês, tínhamos seis anos de nascidas e já fomos apresentadas ao sentimento de orfandade. Foi realmente muito doloroso, pois muitas de nós já trazíamos memórias pessoais ou transgeracionais de abandono, de solidão e de medo.

Sabe papaizinho, durante muitos anos, após a sua partida, em que fomos crescendo aos “trancos e barrancos”, nós fizemos terríveis julgamentos. Afinal, a história conta que aqueles que deveriam nos adotar ou pelo menos amparar, foram padrastos e madrastas que nos fizeram chorar. É... quem viveu os anos a partir de 1944 até a década de 70 ou 80 sabe do que eu estou falando...

Trabalho duro, dinheiro escasso, muito sacrifício, mas muita fé. Fé expressa não só nas diversas formas de oração, mas na vida de cada uma daquelas mulheres consagradas que se dispuseram a continuar, a levar adiante o sonho de um pai tão amoroso que partiu tão cedo.

Eu “cheguei atrasada”...  

Quando me foram apresentados os seus escritos, os seus pertences, os seus pensamentos e até aquela foto poderosamente grande, que o destino providenciou para que eu a transportasse para o lugar de honra onde ela hoje está, todo esse sofrimento já eram histórias. Só não havia terminado, porque faziam parte das lembranças e, algumas de nós traziam essa dor tão presente que foi sendo transmitida para as gerações futuras e parecia continuar doendo.

Ah... mas você sabe papaizinho... eu “não sou normal”... e me rebelei.

Disse pra mim mesma que eu não iria herdar, nem carregar e muito menos passar adiante essas mágoas. Eu não sabia, mas você sabia, Deus sabia, e – como diz a minha Mestra,” o campo informa” – e  essa informação esteve sempre em algum lugar, até o dia em que pude perceber que todo aquele sofrimento nos preparou para viver a vida que vivemos, para assumir o seu carisma e enfrentar tudo com a sua coragem. Agora tenho aprendido o significado de ressignificar todos esses fatos.

Você que, mesmo do céu, está conosco nesta caminhada, já ouviu a Olinda Guedes falar que a vida não é fácil para ninguém, mas para alguns ela é muito difícil... Verdade, para as Irmãzinhas de Jesus Adolescente ela foi muito difícil. Eu penso que nós só estamos aqui, 76 anos depois de sua volta para a Casa do Pai, porque Deus tem um propósito para cada uma e porque herdamos a sua coragem, pois quem não se imbuiu dessa sua valentia, não conseguiu permanecer. Sabemos que cada qual cumpriu a própria missão, em seu tempo, as quais reverenciamos e honramos com a nossa gratidão.

Imagina, um Bispo franzino e pobre, sagrado para uma diocese “no fim do mundo”, na beira do pantanal, que de grande só tinha a extensão, 357.125 km². Essa sua Diocese, gerou outras 6 (seis) dioceses, que continuam grandes, porque esse Mato Grosso do Sul, é enorme por excelência.  Mas com que coragem você enfrentou os hábitos e costumes daquela época e fundou uma Congregação Religiosa feminina para acolher aquelas que as instituições existentes, com suas raízes europeias não podiam receber! 

Eram, como eu disse, apenas hábitos e costumes (não tinha nada a ver com a fé, a religião ou as leis) de um tempo que hoje- Graças a Deus - já não vigoram.

Mas é muito bom saber que o Instituto de Jesus Adolescente existe para mim. Justamente porque sou filha da Dona Maria Pereira, que também avançou no seu tempo e teve a coragem de se divorciar do meu pai Altair de Mattos, depois de quase 30 anos de casados, com seis filhos e alguns netos. Mas não foi só para mim que você fez essa proeza, meu querido Dom Vicente, você fez também pelas minhas irmãs “pretinhas”, pelas filhas de pais não casados, e ainda as empobrecidas, que normalmente vinham da roça, sem dotes, sem enxovais e com pouca escolarização.

Quando falo disso, imagino que você deve sorrir e piscar para o Adolescente Jesus, porque vocês sabem que hoje temos professoras, biblistas, doutoras, e tantas outras especialistas e detentoras de tantos conhecimentos. Temos até “pretinha” que estudou em Roma. Ah! Isso tudo é realmente muito engraçado.

Mas olha papaizinho Dom Vicente, as vezes eu me pergunto como teria sido a nossa vida se você tivesse ficado conosco mais tempo? Se eu tivesse convivido com você neste planeta, olhado em seus olhos e ouvido de viva voz aquelas palavras que li nas suas cartas, isso teria tido um impacto diferente em minha vida? Seria eu uma pessoa diferente do que sou hoje? E você, será que em algum momento imaginou que levaríamos o seu carisma em todos lugares por onde estivemos?

Teria você sonhado com a comunidade no Amazonas? E com o Projeto na Argentina? E aquelas missões distantes como Lucialva e Campinápolis? E todas as outras onde estivemos ou ainda estamos? Talvez sim, pois tudo indica que você, além de missionário era um visionário bem avançado para o seu tempo. Mas duvido um pouco que tivesse imaginado que íamos encontrar o papa, que íamos inclusive na casa do seu querido pai Dom Bosco, e muito menos que haveria gente sua andando pela França e pela Suíça para seguir os passos do Santo dos jovens.  Não sei, não posso saber, mas sinto saudades. Saudades das celebrações, e dos retiros, palestras e conferências que você ofereceu para as primeiras filhas. Das vezes que elas beijaram as suas mãos e receberam a sua bênção.

Bem... meu querido papaizinho Dom Vicente Bartolomeu Maria Priante, esta carta já foi longe demais, eu só queria completar uma tarefa, mas foi a tarefa que “completou” em mim.

Agora só quero recostar minha cabeça no seu peito, sentir o seu coração pulsar e pedir: abençoa-me, abençoa cada uma das suas filhas, minhas irmãs. Que sua bênção afaste de nós todo sentimento de orfandade, de abandono e não merecimento, para que possamos honrar a vida, passando adiante o Carisma, a Missão e a Espiritualidade que o seu amor nos confiou. 

Assim caminhamos com Jesus Cristo Adolescente, no mistério de sua obediência ao Pai, na doação a serviço do Reino, crescendo em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens, seguindo Jesus na alegria, simplicidade e confiança em Deus.

Sua filha, Neiva Maria Amorim Pereira de Souza Mattos Priante

 

Anne Cotterill - художница, «понимающая» цветы


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