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REFLETINDO SOBRE O MORRER, SOBRE A MORTE

REFLETINDO SOBRE O MORRER, SOBRE A MORTE
Márcia Regina Valderamos
nov. 3 - 7 min de leitura
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Me dei conta do que era a morte quando minha avó paterna partiu fisicamente para sempre; minha amada índia bugre, mineiríssima do interior das Minas Gerais, Estado que amo tanto.

Fiquei muito tempo tentando digerir aquele momento esquisito em que vi, pela primeira vez, a minha avó Ana Rosa Jesuina, uma mulher forte, determinada, doce e firme, completamente inerte e sem vida.  O cheiro de rosas sempre me enjoava, porque trazia a lembrança daquele velório dela que parecia interminável, com aquela gente rindo, contando piadas, fumando, se abraçando, chorando, vivendo, como se o mundo não tivesse acabado, como para mim acabara.

Me lembro nitidamente dos sonhos (ou teriam sido visões?) que tive enquanto via minha avó morrendo, totalmente entregue a quem dela cuidava: Como que uma fumaça saia do seu coração. Acho hoje que era a alma dela indo em direção aos seus antepassados já lá nas estrelas.

Perguntei para meus pais, para minha avó materna e até para Deus porque ela tinha morrido, mas nenhuma resposta me foi convincente.

Como percebi que a morte era algo que nos distanciava definitivamente da dor desse mundo, mundo esse que eu sentia tão cruel desde minha concepção, quando aos meus 14 anos minha avó paterna se foi, decidi que eu iria morrer antes dos 30 anos. Queria ir com ela logo. Afinal, aqui era muito difícil de viver. Sempre me perguntei porque havia nascido e para quê vim, sem respostas. Melhor morrer.

Sempre me foi desafiante e aterrador ser criança, adolescente, viver! Eu nunca tive medo de morrer e sim de viver.

Mas, qual! Mal sabia eu que minhas decisões só diziam respeito a mim mesma e ao meu jeito de lidar com meu mundo interior e exterior e que Deus Pai, o Criador, que de Tudo Sabe, É o Único que realmente determina sobre começo e término de vida física e também da eternidade das almas.

Ainda durante anos a fio eu iria assistir outras mortes de entes queridos, pessoas tão amadas: tios, tias, primos, avó materna, amigos, professores, conhecidos, vizinhos, pessoas famosas que tanto eu admirava, meus avôs paterno e materno, com os quais não tinha afeto, nem contato, mas senti bastante mesmo assim.

E assisti também o pior tipo de morte: a do meu pai, tendo AVC’s seguidos, por meses e nos anos subsequentes perdendo, primeiro a visão, a seguir a perna direita e, enfim, depois de muito de sofrimento, perdendo a vida, descansando na eternidade.

Tive outras tantas mortes, tantas e tantas em vida que melhor nem citar. Ciclos que se encerram de modos não saudáveis, vão também matando aos poucos por dentro, assim como aquilo que não conseguimos encerrar no devido tempo vai machucando e ferindo mortalmente, enquanto não houver cura na raiz.

Quando pensei que tinha chegado ao meu limite, minha sobrinha, filha mais velha do meu único irmão vivo, minha filha de alma, foi diagnosticada aos 12 anos com um câncer extremamente agressivo no antebraço esquerdo: rabdomiossarcoma alveolar.

Depois de 8 anos de tratamentos também agressivos e muita luta, minha incansável guerreira faleceu, foi para o Colo de Jesus Cristo, no começo do ano de 2008, aos 19 anos de idade e, no final do mesmo ano, recebi o golpe de misericórdia: a morte da minha mãe, de uma hora para outra, sendo cuidada em um quarto de hospital, com a equipe médica abobalhada, dizendo que não entendia o motivo da tal "falência múltipla de órgãos".

Nesses dois momentos absurdamente mortais eu pensei na passagem bíblica que está em João 19.28-30, quando Jesus Cristo lá na cruz diz ao Pai: "Está consumado"!

A pergunta, sem resposta, não saia da minha mãe: “Por que não eu Senhor?”

Eu, que emocionalmente vinha morrendo, tentando dar fim no meu corpo físico, paradoxalmente vivia a cada dia mais e mais a lucidez, a compreensão de que o nascer e a morte, o desnascer como a Mestra Olinda tão lindamente diz, são o início e o fim e que, no durante, está o aprendizado, está o movimento, há uma obra a se cumprir, está a vida e que essa última é propriedade do Criador e que eu só tenho uma minúscula liberdade: a de dizer sim, de concordar, reverenciar ao Deus Senhor do Universo, agradecer e servir.

Foi devido a essas dores por tantas mortes e perdas desde que nasci que me tornei uma buscadora no autoconhecimento, na ânsia pela compreensão da alma humana. E sou muito grata.

Quanto tenho que aprender e apreender!

Hoje, aos 63 anos, estou indo ao encontro do aprendizado mais profundo sobre como realmente viver. Agora vou me entregar totalmente.

Digo a todos vocês amados meus que descansam nas estrelas: Gratidão! Gratidão a cada um! Foi como foi e foi o suficiente. Gratidão! Sigo, cumprindo a determinação de quem realmente manda na vida e na morte: Deus! Gratidão Senhor e Obrigado Jesus Cristo por me fortalecer e me enviar discernimento através de Seu Santo Espirito! Voces permanecem em mim e aqui serão eternos. Eu os sinto e sigo por todos nós!

Nunca temi a morte. Sempre a desejei. Hoje já não a desejo, mas sei que ela faz parte da vida, então, só me resta viver e minha obrigação epigenética é viver melhor, ampla, abundantemente, saudável e feliz, não mais carregando fardos pesados, mas com a leveza das borboletas que se transformam para servir a natureza.

Estou aprendendo com nossa Mentora Olinda Guedes e com todas as preciosidades que ela me trouxe como as Mestras de sua equipe as amadas Susy e Sizumi, com os meus colegas de curso e com a minha terapeuta Marisa de Souza que sim, é possível todos nós vivermos bem em qualquer circunstâncias, apesar de tudo e por tudo ter sido exatamente como foi e por que foi. Assim é.

Posso, devo e vou fazer algo ao próximo com esse aprendizado, com essa minha vivência. Fazer a minha parte, deixar um legado à humanidade, ser autoral, como nos ensina nossa Mentora.

Fazer a minha vida valer a pena.

E assim, quando a morte me chegar, porque sei que ela virá no Tempo de Deus,  também será um momento de completude, descanso e paz.

Enquanto isso, saboreando a vida, reverenciarei a quem se foi e os honrarei com o meu viver.

Eu já não desejo a morte, mas sei que ela é minha amiga. Agradeço profundamente a ela e a vida que a contém! Gratidão! Gratidão!

 


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