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RELAÇÕES CONJUGAIS

RELAÇÕES CONJUGAIS
Ludmilla Teresa Ferreira de Lima Silva
abr. 28 - 6 min de leitura
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Meu pai teve infância sofrida e escassa.

Lembro-me dele contando que o quintal da sua casa  era cheio de galinhas, mas a mãe não matava para comer, pois os vizinhos poderiam ouvir o cacarejo delas e pensar que estavam passando fome. Ele trabalhou quando criança feito adulto. Dizia que com o dinheiro do fruto do seu trabalho, vovô jogava, vestia linho e calçava bonito e que eles só tinham roupas para vestir por conta da vovó.

Ela morreu cedo, ouvi estórias até de envenenamento.

Contaram que vovó gostava de colher tomate e imediatamente comer; meu avô havia pulverizado o tomateiro e não avisou para ela. Vovô casou de novo, teve mais uma filha e ficou novamente viúvo.

Minha mãe vem de família que não era rica, mas tinha de energia próspera, ela sempre falou que os meus avós gostavam de fartura, mesa cheia, de compartilhar com outras com alimentos, roupas e com o que pudessem. Vovô era sapateiro e vovó lavadeira e cozinheira de mão cheia. Juntos com os filhos também faziam roça e criavam animais. Apesar de ter começado a trabalhar cedo, lavando roupas, trabalhando na roça e cuidando dos irmãos menores, a minha mãe (4° filha dos 14 filhos nascidos dos meus avós) conta com satisfação sobre a sua infância. Diferente do meu pai.

O coração de vovô não aguentou, assim como o da bisa, faleceu com pouco mais de 50 anos. Vovó logo casou de novo, seguindo o seu rumo, deixando os filhos caçulas com os irmãos mais velhos, dos quais estava a minha mãe que sentiu na obrigação de dar suporte ao sustento da numerosa família.

 Cresci ouvindo a minha mãe falando com paixão sobre o vovô, aprendi a amá-lo assim.

Quando minha mãe conheceu o meu pai ele já havia sido casado, ao que parece ainda não estava oficialmente separados, vinha de um casamento cheio de desgastes com 3 filhos.

Meu pai e minha mãe nunca se casaram de fato, sou a segunda filha deles, tenho um irmão 2,5 anos mais velho. Crescemos vendo o nosso pai apenas nos fins de semana. Ele trabalhava durante a semana noutra cidade. Quando estava em casa à presença dele nos deixava desconfortáveis, sentia como se não pudesse ser eu com ele por perto. O meu pai apresentava uma postura de dureza, rigidez que beirava a estupidez muitas vezes.

Hoje vejo que era muita dor represada.

À medida que fui crescendo fui notando que a minha mãe também ficava desconfortável também com a presença dele. Minha mãe além de trabalhar fora sempre foi muito boa dona de casa: Lavava, passava, cozinhava e gomava impecavelmente as roupas do meu pai, se esforçava para ser uma mãe boa e presente.

Ouvia quando criança uns burburinhos que a principio não entendia e depois de grande descobri que se tratavam das infidelidades do meu pai.

Olhar para eles e para toda estória ouvia, vivida e trazida em meu campo me dou conta que me tornei uma órfã funcional, assumi funções que não me pertenciam, como por exemplo: o de mãe de minha mãe e conselheira dela. Tanto em relação ao eu pai quanto em relação ao meu irmão.

Nessa dinâmica emaranhada, até o papel da primeira esposa não honrada (ouvi várias vezes o meu pai falar mal da 1º esposa e seguindo o fluxo a minha mãe fazia o mesmo), lembro que em momentos da infância fui rival da minha mãe, sentia esse sentimento forte por ela. Eu também me sentia extremamente enciumada com atenção que ela dedicava ao meu pai.

Naquele momento a percepção que eu tinha era que eu deixava de existir. Isso me deixava muito brava e mal humorada.

Tenho aprendido a encontrar um lugar em meu coração para o meu pai que passou a ser negado, juntamente com o masculino, pois tomei o partido da minha mãe no desenrolar de toda estória até o fim do relacionamento deles. Ao mesmo tempo me vi carregando mágoa profunda pela minha mãe também, vi que me sentia preterida por ela tanto no que se referia a meu pai quanto ao meu irmão, foi como se eu tivesse perdido a mãe para os dois.

Sinto que passei a negá-la em algum nível e até mesmo me senti superior a ela. Dizia: “se isso que é ser mãe prefiro não ser” (fazendo referência a falta de limites com meu irmão) e “prefiro ficar só se for para ser assim” (me referindo ao meu pai).

A via como submissa num sentido bem ruim da palavra, não queria ser como ela.

Percebo hoje que não havia uma separação clara entre os pais e os companheiros afetivos na relação deles e olhando de fora, sinto como se minha mãe tenha sido um pouco mãe do meu pai, faltava equilíbrio entre o dar e receber também.

Absorvi muito da relação deles pela minha postura mais caseira e introspectiva, carreguei muitos fardos e tive que aprender a me curar de vários padrões como: não merecimento, não pertencimento, escassez, baixa autoestima, muita raiva, mágoa, tristeza, autossabotagem nas relações afetivas.

Venho exercitando diariamente a honra por tudo o que recebi deles, ficando com o que é de bom e entregando tudo aquilo que não me pertence, separando o meu pai e minha mãe dos personagens assumidos em seu relacionamento afetivo, tomando-os em meu coração para enfim retomar o meu lugar de filha e poder seguir para o mundo.

 


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