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Rituais, cores e significados do Natal

Rituais, cores e significados do Natal
Silvia Costa
dez. 24 - 10 min de leitura
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Peter Tupper afirma que “O ritual é uma força poderosa nos assuntos humanos, usado para resolver conflitos, regular mudanças sociais e guiar indivíduos e sociedades.”

Para o antropólogo Victor Turner, ritual é um processo de três etapas: separação, liminaridade e agregação:

  1. Na fase da separação os participantes do ritual rompem sua rotina habitual e, às vezes,  seu papel social. Jejuando, viajam, vestem outras roupas...

  2. Na fase liminar do ritual os participantes habitam um espaço social com novas regras. Alguns objetos podem adquirir grande valor simbólico; por exemplo, pão e vinho se tornam o corpo e o sangue de Cristo, a igreja se torna a noiva de Cristo. O fechamento de ciclo é entendido como morte, e o novo, nascimento. Nessa fase as pessoas experimentam o communitas, a sensação de estar emocionalmente integrado à humanidade. 

  3. Na fase final, agregação, os participantes do ritual  sentem-se renovados e se reintegraram à sociedade comum. 

Creio que depois dessa introdução, já seja possível perceber que o Natal é um dos rituais de maior importância no mundo ocidental. Embora seu caráter ritualístico seja meio óbvio, por vezes extraímos da data e dos seus símbolos, os  significados fundamentais. Esses significados não servem apenas para nos lembrar da mensagem de nascimento e renovação que o próprio nome sugere (Natal, nātālis no latim, nascer); mas para nos lembrar de muitas coisas que vamos esquecendo quando repetimos as coisas sem pensar sobre elas.

A partir daqui este texto é um convite para relembrar e honrar nossa história como humanidade, e redescobrir a profundidade do significado do Natal, você quer ir comigo?

Originalmente, os povos pagãos, anteriores ao cristianismo, celebravam anualmente o nascimento do Deus Sol no solstício de inverno.  Embora a data do solstício não seja a mesma em todos os anos, pode-se dizer que ocorre normalmente por volta do dia 22 de dezembro no hemisfério norte, que é onde esses povos habitavam.

A cultura pagã era baseada na celebração da vida como um bem natural que devia estar em consonância com a natureza. Os rituais tinham por objetivo unir os homens aos movimentos naturais sem tabus e medos, sexo e morte também eram integrados e lembrados nesses ritos. Não é à toa que eles consideravam a existência de dois deuses primordiais: A Grande Mãe, a Deusa e o Deus Cernuno, o Deus. Ambos eram os responsáveis míticos pelos ciclos de vida e morte de toda natureza.

O Yule, comemorado no dia 22 de dezembro, era considerado o Sabbat do renascimento. Neste período a Deusa, na sua fase anciã, ou seja, de maior sabedoria, dá a luz ao novo Deus Sol, a criança prometida que em breve deveria fertilizá-la novamente e traria esperança e alegria de volta à vida: a primavera!

Nesse ponto, creio que já seja possível perceber que sem que acontecessem os  ciclos naturais, esses povos que viviam essencialmente da terra, não teriam o que comer, por isso, o bom funcionamento da Natureza tinha importância vital para eles, por isso, os ciclos eram amplamente celebrados.

Algumas ritualísticas e símbolos pagãos no Yule eram: decorar as árvores cobertas de neve com velas, presentes, comidas e bolas coloridas que simbolizavam a fertilidade do Deus. No topo da árvore era colocado uma estrela de cinco pontas. Também enfeitavam as casas, reuniam as pessoas para celebrar com comidas que eram oferecidas mutuamente, inclusive aos animais, uma vez que no inverno é mais difícil encontrar alimentos. Muitas danças e presentes eram dedicados ao Deus recém nascido.

As cores usadas pelos pagãos nessa época eram: vermelho, simbolizando o retorno da vida, o sangue, o quente e o calor. O verde, com o mesmo significado de vida, porém mais ligado às plantas que logo voltarão a crescer. E o dourado e branco simbolizando a luz, a renovação e a fartura.

Entre os romanos a data marcava a Saturnália, homenagem ao deus Saturno. O período do ano era o mesmo, portanto, o simbolismo natural também: Renascimento, renovação. Divindades ligadas ao Sol geralmente eram celebradas também.

Na mitologia romana, Saturno era uma divindade agrícola, da geração, dissolução, abundância, riqueza, renovação e libertação. 

Expulso do céu pelo seu filho Júpiter, refugiou-se no Lácio (berço da Língua Portuguesa!). Lá, exerceu a soberania e fez reinar a idade do ouro, quando os seres humanos viviam em igualdade e apreciavam a recompensa espontânea da terra sem precisar do trabalho, em um estado de inocência. Lá também ensinou aos homens a agricultura.

Um costume comum na Saturnália era visitar os amigos e trocar de presentes. Os presentes eram pequenas figuras de terracota ou prata ou ainda velas de cera, representando a luz na escuridão. 

O que muitos autores destacam é a inversão da ordem durante a comemoração em honra a Saturno. Todos os homens, escravos ou cidadãos, ficavam em igualdade. As barreiras jurídicas eram abolidas. Os escravos, portanto, não precisavam trabalhar, podiam se vestir como seus senhores, participar das refeições e jogar dados. 

Não há muito material sobre as cores usadas durante as comemorações em honra a Saturno, mas aposto que vermelho, verde e dourado fazem parte!

Com a introdução do cristianismo no Império Romano houve, por parte da Igreja Católica, uma tentativa de cristianizar os festivais pagãos. “Há evidência bíblica de que Jesus não teria nascido durante o inverno, pois, no momento do nascimento, pastores estavam cuidando de seus rebanhos nas vigílias da noite.” Em 320 d.c., a Igreja Católica decidiu marcar o nascimento de Cristo em dezembro para absorver o culto sagrado do solstício de Inverno dos celtas e saxões, no intuito de convertê-los à nova religião.

Bem, depois de todas as explicações sobre as festas, símbolos e significados das festas pagãs em comemoração ao solstício de inverno, creio que você já tenha percebido que as tradições natalinas que mantemos até hoje vêm de muito longe!

Mas, eu gostaria de falar um pouco mais sobre o significado das cores sob o ponto de vista dos chakras, principalmente sobre o vermelho e o verde, antes de terminar o texto.

Os primeiros registros sobre os chacras surgiram nas antigas escrituras hindus por volta de 600 a.c. A palavra vem do do sânscrito, e significa roda, giro ou cíclico, é descrito por muitos como uma roda de fiar a luz. E em termos práticos são centros energéticos do corpo humano que catalisam, irradiam e transformam energias. Um dos trabalhos mais conhecidos com chakras é o reiki, reconhecido como intervenção terapêutica eficaz no tratamento conjunto de doenças e sintomas.

O vermelho é a cor do primeiro chakra, também chamado de chakra básico ou raiz. Seu princípio básico é fazer o movimento físico do aqui e agora, uma relação bem primitiva com a luta ou a fuga para a sobrevivência. Nele mora nossa força vital inesgotável. Seu bom funcionamento se traduz em gratidão pelo que a natureza oferece e que está à nossa disposição. O equilíbrio entre o aquietar e o fazer nascem neste vórtice e acaba se desdobrando na sabedoria e aceitação da própria impermanência da vida – morte e renascimento.

O chakra vermelho me lembra muito do ensinamento de Bert Hellinger sobre aceitar a vida como é e ser grato.

Já o verde é cor do quarto chakra, o chakra do coração, pois está localizado no centro do peito. É considerado o canal de movimentação dos sentimentos. É o chacra mais afetado pelo desequilíbrio emocional. Bem desenvolvido, torna-se um canal para o amor crístico. 

O cientista social Lucas Desks no seu livro, Panorama Social - Dinâmica Interior dos Relacionamentos Humanos, percebeu que é este o ponto onde a maioria das pessoas sente o seu “eu”. Não é raro apontarmos para o peito quando falamos sobre nós ou quando estamos sentindo algo intenso.

Agora, pensando sobre esses significados dos chakras e as cores vermelho e verde no Natal, eu compreendo que a vida que nos satisfaz é aquela que soma paixão (vermelho, fogo, sexo, energia vital) e amor (verde, sensibilidade, equilíbrio, água)

Há tantas coisas mais que eu gostaria de dizer. Tantas histórias e símbolos que convergem para os mesmos significados natalinos, mas, sinto-me já satisfeita no meu objetivo com esses pequenos exemplos.

Não entrarei em julgamentos, nem em dicotomias maniqueístas, filosofias sobre certo e errado, ou qualquer coisa desse tipo. O que quero destacar nesse texto é que somos, talvez desde o início dos tempo, muito parecidos nas nossas necessidades ritualísticas, simbólicas e práticas sobre fechamentos e inícios de ciclos, vida e morte. E o quanto a observação e integração com a natureza pode nos auxiliar nisto!

Depois dessas informações, me parece mais fácil traduzir qual é a mensagem do Natal, não é?

Vida, amor, igualdade, renovação, esperança, e aquela paz de espírito advinda da aceitação de que tudo morre e tudo renasce, e que essas coisas são o que realmente importam para viver bem conosco e com o outro.

Desejo que nossos rituais de celebração do Natal estejam repletos de significados! 



Referências

Tupper, P. A lover’s pinch, 2018

Turner, V. The Ritual Process, 1969.

Derks, L. Panorama Social - Dinâmica Interior dos Relacionamentos Humanos, 2014.

https://www.santuariolunar.com.br/roda-do-ano-sabbat-yule/

https://cavernadabruxa.com/sabbats/yule/

https://www.charmingwiccan.com/sabbath/yule/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Saturn%C3%A1lia

https://pt.wikipedia.org/wiki/Saturno_(mitologia)

https://ainismo.com/conheca-mais-sobre-a-festa-de-natal-a-saturnalia/

http://www.brindenatalino.com.br/sobre-o-natal/saturnalia-e-epfania/16

https://pt.wikipedia.org/wiki/Chacra

https://www.personare.com.br/chakra-basico-concentra-forca-da-realizacao-material-m36690

https://www.equilibrioeprosperidade.com.br/chakras-significado-cor-e-localizacao/

 


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