O ofício que passou em minha mesa era coisa de nada.
O juiz Leoberto Brancher, de Caxias do Sul, pedia que eu enviasse àquela comarca um processo de habilitação para adoção instruído e julgado em Farroupilha. O despacho do Leoberto serviu como ofício.
No despacho-ofício, estava escrito que um casal de Farroupilha, há uns anos, tinha adotado alguém em Caxias e, agora, estava a adotar o irmão ou a irmã, de uns doze anos, do(a) fulaninho(a) anterior.
Aquela coisa de nada me causou uma alegria tão grande. Tipo sermão do gabinete:
Bem-aventurados aqueles que adotam e são adotados!
Bem-aventurados aqueles que acreditam na ternura!
Bem-aventurados aqueles que engravidam de bebês grandes e os têm aos poucos! Não trocaram fraldas, mas conhecerão o afeto de dois irmãos que voltaram a estar juntos. Isto é tão bom ou mais bom que fraldas!
Bem-aventurados aqueles que não tiveram a oportunidade de dar mamadeiras aos filhos, mas poderão compartilhar um chimarrão ou um chá de camomila!
Bem-aventurados os pais que não puderam ouvir as primeiras palavras, mas poderão ouvir tantas outras em tantos momentos! Talvez o filho de 12 anos, demore uns dias ou meses para chamar de pai e mãe, mas os bebês também demoram uns 12 meses para dizer papai e mamãe. O tempo é apenas um detalhe.
Bem-aventurados aqueles que não colheram os primeiros passos, mas andarão juntos tantos passos quantos forem necessários!
Bem-aventurados os pais que entendem quão grande é um filho e quão mais grande é dois! Três é quase demais, mas quem somos nós para quantificar a existência?!
Bem-aventurado aquele ofício-despacho carregado dos melhores gabinetes de justiça que há! Bem-aventuradas as juízas e os juízes que entendem estas absolutas prioridades e as transformam em anunciações!
Bem-aventurados os filhos que nos pais têm uma cabana! Talvez, por serem grandes, eles não queiram brincar de cabana. Mas a cabana, a que me refiro, é coisa de nada que bate dentro do peito!
Autor Mario Romano Maggioni