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Suicídio e Silêncio

Suicídio e Silêncio
Lis Reis
fev. 12 - 3 min de leitura
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Há sete dias houve um suicídio na minha família. A prima Bena escolheu não mais continuar...

TUDO o que sabemos, nós a família, é NADA. Quem a viu e esteve com ela nos últimos tempos, relata que ela estava bem, tricotando com animação uma saída de banho para si para um passeio ao Jorro (baianos da região do Sisal entenderão), não apresentava alteração de humor visível aos olhos de quem via...

Os parentes que tinham mais contato com a prima se viram surpresos, dizendo: “Nossa, muito triste saber que uma pessoa ALEGRE acaba com a vida assim”.
A palavra alegre está em caixa alta e negrito porque ouvir isso foi muito difícil. Para mim soou como uma negação à dor da prima. Imediatamente me perguntei, será essa ferida exposta no coração da nossa família tão grande que é melhor não olhar e fingir que não está lá, será que estamos todos tão cegos para ver?

De acordo com o Aurélio, alegre é quem tem ou em quem há alegria, vivo, vistoso. E alegria é a qualidade ou estado de quem tem prazer de viver. Também segundo o mesmo dicionário, matar-se significa tirar violentamente a própria vida. Pronto, acredito que ficou claro o antagonismo da ação da prima com a reação da família.

A apologia a vida, a felicidade, ao sorriso estampado na cara pode ser uma armadilha em que parentes e amigos caem ou preferem cair. Esta armadilha é montada, inconscientemente ou não, pelo próprio Ser que está em sofrimento profundo ou para não ser julgado, ou para não dar trabalho, ou porque de verdade acredita que não tem ninguém a sua volta disposto a ouvir e acolher a sua dor, ou porque foi assim que ele ou ela aprendeu a lidar com os dissabores da vida... calando, camuflando, escondendo e colocando um sorriso de mentira no rosto para agradar e ser agradável. Todos ficam “bem” mas o final nem sempre é feliz.

Assim, como a tristeza profunda de um amigo amado, de um parente querido, de uma vizinha doce, de um colega de trabalho gentil, pode estar por trás de um jogo de esconde-esconde, é amoroso e humano da nossa parte, aprender a ler os olhos, a sentir as palavras ou a falta delas, a ver a dor de quem passou por algo muito traumático e que aparentemente vive uma vida “normal” apesar da sua tragédia pessoal, mesmo que essa tragédia tenha acontecido há muito tempo. 
Estamos todos aprendendo que um coração ferido e não amparado, tratado e curado, deixa sequelas para uma vida toda, até o momento em que não haja mais vida... e além.

Com este texto eu honro a memória da prima Bena e lhe dou um lugar no meu coração e a todos os membros da minha família, ascendência e descendência, não há julgamentos aqui, não há certo e errado, só há um profundo respeito e aceitação ao que é.


Eu vejo você.
Eu sinto muito.


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