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TEPT ou mania de dar chilique?

TEPT ou mania de dar chilique?
Simone Belkis
dez. 4 - 6 min de leitura
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Já conversamos sobre o Transtorno de Ansiedade em outro artigo, mas hoje quero falar especificamente do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Claro que não falarei do ponto de vista científico, mas sim do ponto de vista de quem tem essa sigla na vida e conhece muito bem os efeitos que ela causa.

Bom, independente do nome que receba, a ansiedade crônica é algo bastante complexo, para não usar a palavra negativa "difícil", afinal ser positivo ajuda mais, e estou dizendo isso sem ironia. Pensamento positivo não é tudo, mas ajuda.

E do que quero falar? Do cotidiano de quem tem a sensação que corre perigo 24 horas por dia. Dá para imaginar??? Existem os mais variados modos da ansiedade se manifestar, e o alerta de perigo ligado diuturnamente foi o que me coube. É claro que você se acostuma, e acostuma tanto que nem tem consciência, afinal a vida hoje em dia parece mesmo bem perigosa.

Para não deixar totalmente no escuro quem não conhece o TEPT,  o Transtorno causa um desequilíbrio no Sistema Nervoso Simpático (SNS), responsável pelas respostas de defesa do organismo, e é caracterizado pelo trauma causado quando existe risco de morte, sua ou de outros. Pintou perigo, o SNS liga o alarme que avisa que se deve  atacar ou fugir.  Com o TEPT, esse alarme não desliga mais. Aí fica tudo no inconsciente e a gente só percebe mesmo os efeitos como: levar sustos fácil, ter fobias, medo de morrer, ter medo mesmo depois de ter feito a mesma coisa mil vezes (aliás, alerta importante: combater medos sem ferramentas adequadas apenas faz com que fiquem mais fortes).

Enfim, manifestar medos em qualquer hora e lugar, ainda que isso não faça sentido nem para você mesmo. É importante deixar claro que nesse caso, seu sistema nervoso está cumprindo seu dever com maestria, para ele o que importa é manter você vivo, custe o que custar, por que no fim é você mesmo que paga a conta, né?

Ter consciência dos medos não basta, foi-se (graças a Deus) o tempo em que se acreditava que falar do problema era a solução (não é). Mas, agora tratar traumas está na moda. Porque é disso mesmo que se trata o TEPT, traumas. E se levarmos em consideração que um trauma pode se instalar no Sistema Nervoso pelas coisas mais banais, dá para imaginar que essa moda é bem tardia. Você pode se traumatizar assistindo TV, sabia disso?

Então, eu assumi a responsabilidade de falar abertamente sobre o transtorno com o qual convivo. E não foi uma decisão difícil, tem sido mais fácil eu falar disso, do que as pessoas (a minha volta) ouvirem. Eu fiz essa escolha não em meu próprio benefício, mas para mostrar que isso existe, que muita gente tem e não sabe, que isso tem cura (e que não é fácil), mas que é preciso olhar para o TEPT ou qualquer outra manifestação de desequilíbrio emocional, porque elas podem SIM destruir vidas. E têm feito isso todos os dias. Suicídios, homicídios, violência doméstica, abandono, imagens violentas, catástrofes naturais, assaltos, partos difíceis (para a criança e para a mãe), desilusões amorosas, educação rígida ou permissiva demais. A lista é infinda.

Agora, vou justificar (ou só explicar mesmo) o título desse artigo. Para muitos, eu vivo dando chiliques por aí. "Como pode uma mulher desse tamanho não conseguir realizar uma coisa tão simples? Essa vagabunda não faz nada na vida mesmo? Que mulherzinha mais esquisita!!!" Brincadeiras à parte, convivo com isso há ... (eu ia dizer a quantos anos, mas deixa pra lá, hehe).

E sim, é mais difícil, muitas vezes, conviver com desconhecedores do que com o próprio transtorno. E isso acontece, eu acredito, por dois motivos: porque as pessoas se negam a reconhecer em si mesmas os mesmos sintomas ou porque não entendem mesmo. E nesse ponto, sou obrigada a concordar, porque eu mesma levei muitos anos para conseguir entender o que me acontece. A isso se deve também a falta de informação, inclusive da parte dos profissionais de Saúde Mental. Eu ouvi de um Psiquiatra que meu caso não poderia ser trauma, porque trauma só acontece em catástrofes. Como se não respirar ao nascer não fosse uma catástrofe para um bebê (foi isso que aconteceu comigo, entre outras coisas).

Outra coisa complicada é que essa moda de tratar trauma chega bem depois da existência dele, e essa diferença de tempo já causou muito estrago. E também, a cultura de banalizar o trauma ajudou bastante a aumentar o rombo.

Não é um tratamento fácil ou simples, mas a compaixão é uma das ferramentas que mais nos ajudam no dia a dia. Você não pode convencer alguém com TEPT que não existe risco algum apenas falando, mas se você puder respeitar esse medo, por mais esquisito que ele pareça, já fez muito.

O verdadeiro motivo de estar escrevendo esse artigo está no fato de eu estar vivendo um dilema. Sim, eu tomei a decisão de erguer essa bandeira, de falar sobre isso abertamente, de assumir meus medos e minhas dificuldades, e embora não seja simples, tem sido um pouco mais fácil do que lidar com o mundo lá fora. Eu é que tenho o TEPT, mas as pessoas é que têm medo da minha sinceridade em falar dele. Isso parece engraçado, mas a desinformação sobre as enfermidades emocionais já passou do limite do aceitável. A mania de fechar os olhos para a dor daqueles que amamos (ou não) ou das nossas próprias dores é pior do que a mania de viver "dando chiliques". 

Transtorno de Ansiedade - A porta de entrada do medo:

https://sabersistemico.com.br/manage.app#!/content/articles/5d54163da89cd115ae04058b


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