Para quem já me conhece e sabe que tenho TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático), talvez não saiba que faço terapia há muito anos. Embora eu seja uma entusiasta dessa prática, talvez eu não seja uma boa propaganda. Já explico o porquê.
Eu levei 28 anos para encontrar o diagnóstico exato e achar a terapia certa.
Penso que muitos vão achar que isso é tempo demais. E estão corretos, porém como se diz por aí, ninguém chega a lugar algum quando não sabe para onde está indo. E foi isso que se passou comigo, simplesmente não fazia a menor ideia do que tinha e nem sabia que, realmente, tinha algo que precisava ser curado.
Nessa busca meio insana e desorientada, fui procurando e aceitando a ajuda que vinha ao meu encontro, pois acredito que alguma coisa sempre será melhor que coisa alguma. O fato é que por não saber o que buscava, acabei encontrando alternativas que não serviram ao meu propósito. Não quero ser mal agradecida, aprendi muito com cada uma das técnicas e acabei por conhecer muito de mim mesma.
Essa experiência me trouxe informações importantes e acredito que aqui vale abrir parênteses para informar pessoas que talvez passem pelo mesmo desafio. O tema trauma é ainda pouco explorado, não são todos os profissionais de saúde que têm a noção do que isso significa, e isso não é uma crítica, é uma constatação.
É claro que esse tema agora é bem mais abordado do que há tantos anos atrás, mas ainda falta um tanto para que seja devidamente tratado.
Voltando ao tema que me levou a escrever esse texto, gostaria de colocar uma questão que figurou por todos esses anos no meu contexto terapêutico. Os famosos 50%. Se você já fez terapia, é bem provável que tenha sido informado que o processo funciona com a ferramenta dando seus 50% e o cliente (ou paciente) dando os outros 50%. E isso, a meu ver, pode ser um problema. Para mim foi, algumas vezes.
Uma das principais dificuldades que tive no processo terapêutico, muitas vezes, foi não conseguir colocar os meus 50% e ser cobrada e julgada por isso. E muitas vezes, eu mesma fui o juiz. Só agora compreendo que fiz até mais que esses 50%, muitas vezes. Acho que agora, esse assunto pode se tornar um pouco delicado, porque somos todos suscetíveis a erros, mesmo sendo excelentes profissionais. E a falta de informação tem sido a causa disso, muitas vezes.
O que quero dizer exatamente com isso tudo?
Tendo um transtorno severo de ansiedade, acabei por me expor muitas vezes a retraumatização, que acontece quando ativamos uma memória traumática sem o ambiente adequado para trabalhá-la, porque ao contrário do que se pensa, fugir das lembranças não cura absolutamente nada, mas forçar situações, pode ser tão grave quanto.
Nesse contexto e não sendo capaz de responder a certas técnicas, senti-me frustrada e fui mesmo dispensada por alguns profissionais, que entendiam que eu não estava colaborando para o processo. Vou explicar melhor, tendo TEPT, o Sistema Nervoso é atingido, padrões emocionais e mentais são congelados "dentro" das memórias traumáticas, tornando muito difícil, devido o alto grau de estresse, relaxar ou pensar positivo, por exemplo.
Agora, imagine alguém dizendo a você que precisa se esforçar para criar uma realidade positiva, quando lhe faltam os neurotransmissores adequados para isso?
Acho que não preciso ir muito mais longe, e peço desculpas, se por acaso choquei a sensibilidade de alguém. O fato é que ninguém é culpado, mas muito pré-conceito tem atrapalhado o processo de muitos buscadores. E, muitas vezes, por causa do auto julgamento. Eu levei anos para compreender que não era eu que não fazia direito, mas era a falta de informação que me impedia de ser compreendida.
Esse é mais um desabafo, como os que faço de vez em quando, mas nunca com a intenção de julgar ou condenar ninguém. Tenho descoberto o quanto sou autêntica e ajudo a compreensão de outros, quando abro o meu coração.
Se você é um profissional ou um cliente, procure deixar claro desde o início, se possível, o que significa para você os seus 50%.