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TODA CRIANÇA MERECE

TODA CRIANÇA MERECE
Andre Coneglian
jan. 8 - 3 min de leitura
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Uma criança, da janela do ônibus olhou para um caminhão cegonha, provavelmente pela primeira vez. Maravilhado com tamanha monstruosidade – um caminhão enorme carregando outros tantos carros, o menino, de olhos arregalados, expressou: - Uau! – mas não foi um simples “uau”; foi pausado, demorado em cada vogal.

Eu assisti a essa cena, jovem, na correria do curso superior. Emocionei-me com o espanto do garoto mirando o caminhão cegonha e senti inveja! “Quando foi a última vez que fiquei estupefato com algo em vida?” – pensei naquela ocasião.

Hoje, faço aqui na escrita, um exercício de reunir algumas cenas da minha infância/juventude que me aproximaram de uma sensação de espanto, agradável espanto, por vivenciar este ou aquele sentimento pela primeira vez.

A primeira vez que vi uma jabuticabeira repleta de frutos: “u-a-u!”, aquela árvore toda negra de frutos redondos brilhantes me hipnotizou. Era como um milagre, tantas frutas presas por um fino caule, direto do tronco. Precisei desenhar. Óbvio que minha representação não chegou perto da sensação. Eu tinha 17 anos de idade.

Na infância tive o privilégio de passear aos fins de semana por chácaras, sítios e fazendas. O medo do rural – touros, bois, vacas, porcos, perus, patos, gansos; a curiosidade de como era a colheita de feijões, a felicidade de ter dois bolos de milho no meu aniversário de sete anos – férias, longe dos pais, no sítio dos tios.

Há uma cena gravada em minha memória como flashback de filme: um depósito rústico, madeiras, telhas, sem paredes, no centro um tacho enorme, fogo, calor, muito melado borbulhando, uma pá, o homem mexendo sem parar. “ – É para fazer rapadura, curioso!”

Amamentar carneirinhos, milho colhido direto do milharal para transformar em pamonha, na qual a folha do milho vira a própria embalagem. Apartar o bezerro da vaca, amarrar perto da mãe, tirar leite, fazer queijo, manteiga. Observar a plantação de abacaxi, como floresce, onde fica a coroa e a fruta.

Observar! Eu não tinha coragem de me aproximar dos animais, raras vezes coloquei a mão na massa, entretanto, deleitava-me na observação do processo.

As crianças de hoje recebem tudo pronto. Fruta sem casca em pedaços no pote. Leite vem da embalagem. Manteiga em retângulos milimetricamente embaladas ou somente margarina em potes. Rapadura! “É de comer?”... Aposto que nem sabem o que é. A vida é processo. O processo é mágico. Respeitando as fases, etapas, o produto final será mais valorizado e melhor aproveitado.

Toda criança merece viver de “u-a-u!” Toda criança merece se surpreender com uma jabuticabeira carregada de frutos. Toda criança merece saber como é feita a rapadura, a pamonha, o queijo e a manteiga. Toda criança merece poesia, aventura, emoção. Toda criança merece muito mais do que os adultos estão lhes oferecendo. A escassez de “uau” está entristecendo as crianças e, consequentemente, o mundo.


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