Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
VOLTAR

TRAUMA TEM CURA

TRAUMA TEM CURA
Simone Belkis
jan. 25 - 5 min de leitura
020

Para as pessoas que já leram meus textos não é novidade que eu tinha TEPT, eu digo tinha porque venci muitos dos "estragos" feitos pelo transtorno e mesmo porque não via mais sentido em cultuar a doença. Assumo, obviamente, que ainda estou no processo e muito ainda é preciso ser curado.

Mas, agora, gostaria de falar um pouco do caminho e das descobertas que fiz ao longo dos últimos 5 anos.

Depois de ter passado muito tempo em busca de um diagnóstico, passei por um período mais breve (ainda bem) de adaptação, que ainda não terminou, mas me trouxe uma perspectiva bem diferente da "doença" e de minha própria vida.

Vale lembrar que o TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático) é o resultado de um trauma de choque, causado por risco de morte real ou imaginária (no meu caso foi real), e que por causar um desequilíbrio no Sistema Nervoso é considerado um transtorno fisiológico. Então, o tratamento pedia um processo que atuasse no próprio sistema, uma terapia corporal e  energética.

Nos primeiros 2 anos, mais ou menos, passei pelo processo de limpar memórias intrauterinas, uma vez que a carga de estresse vivido por minha mãe durante minha gestação parece ter sido bem ácida, e essa era a exata sensação que sentia quando acessava essas memórias, era como se o líquido amniótico fosse ácido.

Em seguida, passei por alguns episódios de primeira infância e acessei memórias ancenstrais (bastante pesadas, já que tenho ascendência africana), para só, então, entrar nas memórias que causaram o transtorno especificamente. Foram as piores experiências que passei na vida, era como se estivesse morrendo de novo.

Porém, aos poucos, fui podendo perceber sutis mudanças no meu comportamento e nas minhas reações diante das N fobias que constumava ter. Não foi um processo linear, elas iam e voltavam e ainda estão aqui, porém menores e mais controláveis.

Um dos primeiros efeitos positivos que me lembro de ter percebido foram que as histórias que vinham acompanhadas das lembranças foram se apagando até o ponto (mais recentemente) de já não fazerem mais parte, já que remoê-las apenas traziam mais do mesmo e, portanto, retraumatizavam meu sistema.

Também passei por um processo de mudança de crenças, mentiras que precisei acreditar para manter as conexões que, como criança, precisei fazer para sobreviver.

Além, da percepção de que minha personalidade (ego) também me levou a fazer escolhas que foram "boas" para aquele momento, mas que nunca atenderam minhas necessidades reais de criança e impedem meu eu adulto de atuar naturalmente.

O caminho tem sido longo, tive que abrir mão de algumas fantasias, como receber o amor de que precisei na infância e que se não foi possível na época, já não faria mais sentido hoje.

Abandonei processos mentais compulsivos (embora ainda pense muito), mas principalmente, percebo-me hoje conseguindo acessar sentimentos que estava soterrados sob os escombros que a dor do trauma causou em meu sistema pequeno, mas não frágil, de criança (se assim fosse, não teria sobrevivido). 

Como já disse, ainda estou no processo e talvez não o termine "nessa" vida, pois que as marcas biológicas não se apagam, mas podem ser ressignificadas.

Mas, estou feliz, pois que encontrei sentido em algumas expressões que conhecia, mas não encontrava sentido, como: "a felicidade existe", já que ao abandonar o perfecccionismo (característica frequente em quem tem traumas),  pude entender que não preciso fazer nada para agradar a ninguém.

Ou frases como " amar é melhor que ser amado",  pois que pude entrar em contato com sentimentos e sensações que antes era impossível acessar por causa do excesso de estresse (cortisol, adrenalina e outros), tornando o corpo uma fortaleza de sensibilidade negativa. Além de aprender, já que nasci traumatizada e assim não tendo como saber, que sou un ser capaz e competente, o que era algo impossível de ser observado por causa do medo mórbido.

Agora entendo claramente, que o passado não existe mesmo, que quando ele nos pesa é feito apenas das memórias corporais que estão no aqui e no agora, e são super estimuladas pelas histórias que foram criadas por nossa percepção infantil e assustada de uma vida de dor e sofrimento.

E isso não acontece apenas com crianças, como foi comigo.

Trauma é algo que faz parte do processo humano e pode acontecer em qualquer idade e em qualquer contexto.

Eu espero e desejo que essa minha experiência possa servir de incentivo a pessoas, que como eu tiveram, e ainda têm, seus caminhos desviados por traumas. 

Trauma tem cura, mas é preciso buscar.

 


Denunciar publicação
    020

    Indicados para você


    Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica

    Verifique as políticas de Privacidade e Termos de uso

    A Squid é uma empresa LWSA.
    Todos os direitos reservados.